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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

As recentes decisões do BCE e da FED e a evolução da cotação do ouro.




O Banco Central Europeu (BCE) anunciou no passado dia 6 de Setembro um segundo programa, não convencional, de compra ilimitada de títulos de dívida pública de países da Zona Euro que se encontram em dificuldades financeiras. Segundo Draghi, presidente do BCE, a desconfiança na moeda única prejudica os efeitos da política tradicional do BCE e acrescentou que estas novas operações seriam esterilizadas. Interrogamo-nos se serão através da absorção de liquidez dos bancos dos países do norte da Europa. Não será fácil esta esterilização e caso não se consiga integralmente, a inflação aparecerá mais tarde…
No entanto, mesmo que a operação seja neutra em termos de massa monetária, há implícito um aval ao endividamento dos países. Aval aceitável se for profiláctico, com o objectivo de ganhar tempo até se conseguir uma solução política para a Zona Euro. Aval aceitável porque tem subjacente a responsabilização dos países beneficiados pela medida de ajustarem e consolidarem as suas contas públicas.

A Reserva Federal norte-americana (FED), como forma de travar o abrandamento da economia, anunciou no passado dia 13 de Setembro uma nova expansão monetária, através de um terceiro “Quantitative Easing” (QE3), impressão electrónica de dinheiro. A nova medida caracteriza-se pela compra, mensalmente, de 40 mil milhões de dólares de obrigações compostas por hipotecas imobiliárias. É colocado dinheiro no passivo do balanço dos bancos por contrapartida do activo do balanço da FED. Assistir-se-á à transferência de obrigações hipotecárias dos bancos para a Reserva Federal.
Existem milhares de milhões de dólares injectados pela FED nos cofres dos bancos, das empresas e dos fundos. Continuar a inundar o mercado de liquidez, provavelmente, só surtirá efeito ao nível da valorização dos activos financeiros…

Ambos os bancos centrais insistem nas medidas que nos trouxeram até esta crise financeira: o aumento da base monetária, uma política de expansão monetária inflacionista. A FED fê-lo desde 2000 até 2003 com a descida da sua taxa de juro de referência, Fed Funds Rate, de 6.5% para 1%, reflectindo-se de seguida numa subida superior a 100% nos preço das casas entre 2002 e 2007. A moeda em circulação, moeda física, na Zona Euro passou de 350 mil milhões de euros em 2005 para 867 mil milhões de euros em Junho deste ano.

Estão criados os requisitos essenciais para a cotação da onça de ouro continuar suportada e, provavelmente, subir nos próximos tempos.
A criação de moeda, sem produção subjacente, aumenta a liquidez no mercado, baixa o preço da moeda e traduzir-se-á no futuro numa espiral inflacionista.
Como o ouro não gera renda e as taxas de juro estão praticamente a zero, torna-se cada vez mais indiferente deter moeda ou ouro.
A actual crise financeira ainda não terminou e, provavelmente, os alicerces da próxima já estão a ser construídos. As políticas monetárias expansionistas que nos trouxeram até esta crise, obviamente, não poderão ser agora a solução do problema, através de mais expansões monetárias. A incerteza veio para ficar. O ouro continuará a ser um activo de refúgio…

Paulo Monteiro Rosa, economista, 20 de Setembro de 2012

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.