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sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Incerteza penaliza bolsas

Indefinição em torno do Brexit, 'impeachment' a Donald Trump e guerra comercial marcaram uma semana de quedas nos mercados bolsistas.

As bolsas desvalorizaram esta semana penalizadas por vários riscos políticos, como as crescentes incertezas no que concerne ao desfecho do Brexit, as tensões comerciais entre os EUA e a China que ;írstão a dividir o mundo económico em dois blocos, apesar de algum aliviar no final da semana, e a intensão dos democratas avançarem com um pedido formal de investigação com vista à destituição, o tão conhecido Impeachment, do Presidente norte-americano.

O Supremo Tribunal britânico considerou "ilegal" a decisão do primeiro-ministro, Bons Johnson, de suspender o parlamento. O líder da oposição apela, agora, à sua demissão.

A suposta tentativa de Trump em pressionar o presidente ucraniano Vladimir Zelenski a investigar o antigo vice-presidente Joe Biden e o seu filho Hunter Biden, durante uma conversa telefónica entre os dois chefes de Estado, espoletou um pedido para com o intuito de destituir Donald Trump do seu cargo de presidente norte- -americano. Mas é muito pouco provável que seja bem sucedida, porque teria que passar com maioria qualificada no Senado com dois terços de votos a favor, onde o Partido Republicano - 53 senadores contra 45 democratas.

No próximo dia 14 de novembro será divulgado o PIB referente ao terceiro trimestre alemão, e a actual debilidade da indústria alemã indicia que a economia germânica poderá entrar em recessão técnica, dois trimestres seguidos de contração. A economia alemã contraiu 0,1% no segundo trimestre. A recuperação da principal economia europeia dependerá muito da resiliência do sector de serviços e do andamento das relações entre União Europeia e os EUA, nomeadamente ao nível comercial. Os industriais germânicos apelam ao governo para acabar com política de "défice zero" e que invista mais. Quase duas semanas após o BCE anunciar novas medidas de estímulo, alguns economistas duvidam se o plano funcionará. Esta semana os mercados accionistas perderam cerca de 4%, desde o principal índice francês, o CAC40, ao DAX30, passando pelo IBEX35 de Madrid e pelo PSI20. Os mercados obrigacionistas voltaram aos ganhos, depois de quase um mês em baixa, com as rentabilidades das obrigações do tesouro muito perto de registaram novos mínimos históricos. A yield das Obrigações do Tesouro português a 10 anos encontra-se a 0,11, muito perto do mínimo alcançado nos 0,08% e próximo de taxas negativas. A yield da dívida soberana germânica é negativa de -0,61%. O BCP é o título mais penalizado. A 17 de julho cotava a 0.2892 euros, e atualmente está em mínimos de abril de 2017, perde cerca de 40% desde os máximos do ano em julho, há dois meses.

AÇÕES

EMPRESAS COTADAS

A Jerónimo Martins foi penalizada esta semana, depois da investigação da autoridade da Polónia para a concorrência, por alegadas más práticas da maior retalhista polaca, a Biedronka, controlada pela empresa português, realizadas com os seus fornecedores de frutas e vegetais. A multa por práticas desleais pode chegar a 3% da receita anual. Miguel Maya, CEO do Banco Comercial Português, disse que 2019 é um ano "mais difícil" do que o previsto quando o banco fez o seu orçamento, o título perdeu cerca de 10% em bolsa durante a semana. Os CTT seguem penalizados com o aumento das posições a descoberto.

COMMODITIES MÁXIMOS

O paládio continua a registar máximos históricos, e esta semana alcançou os 1677 dólares/onça, impulsionado pelo aumento do fabrico de catalisadores para automóveis a gasolina. Na Europa a produção de carros a gasolina, superou os veículos a gasóleo, e na China e índia uma boa parte dos carros são movidos a gasolina. A procura por este metal, já mais caro que o ouro continua a aumentar e a oferta mantém-se estável em um milhão de onças. O ouro muito perto dos máximos do início do mês nos 1500 dólares/onça, valores de 2013, continua a beneficiar da subida do dólar e da descida das taxas de juro.

CRIPTOMOEDA

BITCOIN

A Bitcoin perdeu cerca de 18% na terça-feira, a maior queda diária desde janeiro de 2018, e está aos valores de junho. O baixo volume, a queda da 'laxa de hasff, ou seja, a diminuição da capacidade de processamento da rede no registo das transações em Bitcoin é vista como uma limitação desta criptomoeda se impor como alternativa às moedas "tradicionais", e o decepcionante lançamento de futuros de Bakkt, pela bolsa "Intercontinental Exchange", sinaliza para a comunidade de criptografia que as instituições estão menos dispostas a investir em grande escala em BTC do que o esperado. 


Paulo Monteiro Rosa, Jornal Económico, 27 setembro 2019





Pagar para emprestar!


A Europa e a Ásia estão inundadas em cerca de 17 biliões de dólares de títulos soberanos (emitidos pelos Estados) e corporativos (emitidos por empresas) com rendimento negativo, mais de quatro vezes a riqueza produzida anualmente pela Alemanha e à volta de 90% do PIB norte-americano. Alan Greenspan, presidente da Reserva Federal dos EUA de 1987 a 2006, prevê que as taxas de juros negativas em breve chegarão também aos EUA. Donald Trump, apesar de continuar a corroborar a robustez da economia americana, a par do atual presidente da FED, Jerome Powell, revindica há meses taxas de juro baixas, mesmo de zero. A FED está dividida quanto à descida de taxas, bem espelhada na sua última reunião de 18 de setembro, em que 3 membros votaram contra a descida de taxas. No entanto, Trump gostaria de ver naquela Instituição pessoas como Judy Shelton, apologista do regresso ao padrão ouro, mas defensora de taxas de juro de 0% num espaço de um ou dois anos caso assumisse o cargo de responsável máximo.


As taxas de juros negativas são apenas a frente mais recente na era pós-2008 da política monetária "Não convencional" em que vivemos e nunca observada. Os bancos centrais tentam estimular mais empréstimos e mais dívidas, embora exista globalmente muito mais dívida do que em 2007. O estímulo da economia pelo lado da procura é a ideia de que uma economia prospera através do consumo e empréstimos, esquecendo o lado da oferta, a produção e a poupança.


As taxas de juros negativas subvertem o racional da economia, e só existem devido à atuação dos bancos centrais, ou seja, surge como uma distorção ou enviesamento ao que é o normal decorrer da atividade económica. Na Alemanha todas as taxas de juro são negativas, de curto e longo prazo, até maturidades a 30 anos.  

Os agentes económicos não emprestam dinheiro para perderem capital. À priori [eles] têm perceções nominais sobre a economia. Mesmo em períodos deflacionistas dos preços dos bens e serviços, a situação de juros reais positivos com taxas de juros nominais negativas é pontual. E a deflação muitas vezes tem na sua génese a inflação proveniente das nefastas bolhas financeiras e imobiliárias que nascem frequentemente devido às políticas monetárias expansionistas dos bancos centrais. Emprestar 50.000 euros durante 10 anos ao Estado alemão e reembolsar 49.750 euros não é racional. Não deveria existir racional de "mercado" para taxas negativas.


O futuro é incerto e sempre há risco da contraparte a quem se empresta dinheiro de não honrar os seus compromissos. O devedor pode fugir, morrer ou declarar falência. As condições do mercado podem mudar durante a vida do empréstimo. A inflação pode subir mais rapidamente do que a taxa de juro nominal acordada. As taxas de juros positivas compensam os credores por todo esse risco e incerteza. O juro, tal como toda a economia, é explicado pela natureza e ação humanas.


Os juros representam uma compensação para quem adia o consumo, não uma penalização. Ninguém “vende” o seu dinheiro e ainda fica obrigado a pagar juros ao “comprador”. Simplesmente guardariam o dinheiro e evitariam o risco de emprestar.


As taxas de juro que mais fidedignamente representam a vontade de toda a população, num mercado livre e normal, definem-se de acordo com as preferências temporais das pessoas. Confrontando a disposição do credor, aquele que poupa, de renunciar ao consumo atual e a vontade de um investidor ou consumidor de pagar um prémio pelo consumo atual. As taxas de juros negativas não podem explicar como ou porque alguém adiaria o consumo sem um pagamento, e muito mais inexplicável é com taxas de juro negativas, ou seja, adiar o consumo e ainda pagar por isso!


Paulo Monteiro Rosa,



sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Mercados continuam resilientes


O ataque à maior produtora de petróleo do mundo, a Saudi Aramco, é mais um problema a adicionar à panóplia de variáveis que assombra a estabilidade dos mercados financeiros: o Brexit, as tensões comerciais, o abrandamento económico, a inversão da curva de rendimentos no que concerne à evolução das taxas de juro.

No passado domingo, um ataque com drones destruiu parte das instalações da maior companhia petrolífera estatal da Arábia Saudita e a maior companhia do ramo do mundo em termos de reservas de "crude" e de produção. O valor da Saudi Aramco foi estimado em cerca de 2 biliões de dólares pelo Financial Times, mais do dobro do valor da Google ou da Amazon, as maiores capitalizações bolsistas do mundo. E quase nove vezes a riqueza produzida anualmente em Portugal (PIB português).

Depois do atentado, a Oferta Pública de Venda (OPV) da Saudi Aramco, há algum tempo a ser preparada pelo Reino Saudita, poderá ser cancelada.

A Saudi Aramco é responsável pela produção de quase 10 milhões de barris de petróleo diários, 12% da produção mundial, e os danos causados pelo ataque tiraram do mercado 5,7 milhões de barris, mais de metade da produção da empresa de petróleos da Arábia Saudita.

Porém, os preços do petróleo, que haviam subido mais de 10% na abertura dos mercados na segundafeira, começaram a aliviar depois de a Saudi Aramco ter anunciado que a produção voltará ao normal num espaço de duas a três semanas.

Este atentado, independentemente da sua origem ter sido no Iémen, no Iraque, no Irão..., coloca em causa a já difícil estabilidade geopolítica do Médio Oriente, e é mais um problema, a adicionar a muitos mais, para o crescimento económico mundial.

No entanto, os mercados, quer acionistas quer obrigacionistas, mantiveram-se bastante calmos e tranquilos, com perdas pouco significativas, o que mostra a força e resiliência que continuam a caracterizar este mercado de alta, nomeadamente das praças norteameri canas.

Se fosse noutra altura, de maior fragilidade do sentimento das bolsas, estas teriam perdido bastante mais, não sendo de admirar quedas de 4% ou 5%.

A probabilidade de mais descidas nas taxas de juro de referência da Reserva Federal norte-americana tem esmorecido, nomeadamente depois da forte subida dos preços do petróleo. Com preços de energia mais elevados, temos mais inflação e, por conseguinte, os bancos centrais tendem a ter uma política monetária menos expansionista, tendo que subir taxas de juro, se necessário, para refrear a subida da inflação.

Uma cotação do petróleo muito "cara" redundará numa estagflação, tal como a verificada em 1970 e de que muitas pessoas já não se lembram. Com preços a subir de forma generalizada, a par de uma atividade económica estagnada, uma política monetária mais contracionista, com subidas de taxas de juro para controlar os preços, terá um impacto negativo no crescimento económico.

Apesar de os mercados financeiros não terem reagido tão negativamente, como seria de esperar, face à forte subida do preço do petróleo, isso não belisca minimamente a importância que o petróleo continua a ter como principal motor energético da economia mundial.

Em suma, poderemos concluir, em virtude das quedas residuais das bolsas aquando da forte subida do petróleo, que os mercados acionistas continuam resilientes às quedas... e anestesiados pela excessiva liquidez decorrente da enorme oferta de moeda e de crédito. 

Paulo Rosa, 20 de setembro 2019, Vida Económica




sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Em modo agosto

Setembro é um mês-chave no que concerne às políticas monetárias expansionistas mais enérgicas por parte do BCE e da FED.

PAULO ROSA, 30 de setembro de 2019, Jornal Económico 

Semana sem variações assinaláveis nos mercados acionistas, com o principal indicador de volatilidade do S&P500, o VIX, a estabilizar à volta dos 18 pontos, mas com novos mínimos históricos das rentabilidades das obrigações do tesouro. A yield das obrigações soberanas portuguesas a dez anos aproxima-se dos 0%, cotando atualmente já abaixo dos 0,1%. A rentabilidade da dívida pública alemã a 10 anos está nos -0,7%, níveis históricos, e a cinco anos muito perto de -1%, a indiciarem, cada vez mais, uma recessão económica.

Christine Lagarde, futura presidente do Banco Central Europeu (BCE), afirmou que o banco central da zona euro ainda não atingiu o limite mais baixo das taxas de juro, continuando com comentários dovish (política monetária expansionista). Nos primeiros comentários abrangentes sobre política monetária desde a conquista do cargo, Lagarde referiu esta quinta-feira que o BCE tem as ferramentas para enfrentar uma crise e deve estar pronto para usá-las, se necessário. Estas palavras penalizam a moeda única, o euro, enfraquecem os mercados accionistas, mas continuam a alimentar a bolha nos mercados obrigacionistas, e consequentemente novos recordes em baixa das taxas de juros.

O presidente do banco central da Holanda, e membro do BCE, Klaas Knot, não concorda plenamente com as palavras de Lagarde, e disse que a economia da área do euro não está fraca o suficiente para garantir a retoma da compra de títulos, ou seja um novo Quantitative Easing (QE) e que esse passo não deve ser dado a menos que a desaceleração económica se agrave, e se os riscos de deflação se tornarem uma realidade. Para já, não há necessidade de reativar o programa de compra de ativos, mas este será o instrumento apropriado a ser ativado caso haja recessão económica.

Jens Weidmann, presidente do BundesBank (Banco Central Alemão), é ainda mais conservador e acha que um QE não deve ser utilizado, sob pena de ficarmos sem "munições" para quando realmente ocorrerem futuras contingências.

Muito provavelmente, em setembro o BCE descerá as taxas de juros em dez pontos base de absorção de liquidez (da remuneração dos depósitos), dos atuais valores negativos de -0.40% para -0.50%. E a 18 de setembro, a Reserva Federal norte-americana baixará as suas taxas de referência em 25 pontos base, dos 2,25% para 2%, com uma probabilidade de 99.6%, segundo os futuros negociados na bolsa de derivados de Chicago.

China faz uma concessão inesperada, e vai adiar retaliação comercial até à visita dos EUA. Pequim tem opções para retaliar, mas acredita que deve discutir com Washington a possibilidade de remover novas tarifas. As ações europeias, norte-americanas e asiáticas subiram significativamente.

CAMBIAL

PESO ARGENTINO

A moeda cai novamente para junto dos mínimos históricos, alcançados há semanas, após o anúncio do plano de reestruturação da dívida.

Perante enormes dificuldades financeiras, a Argentina pedirá aos credores, incluindo o FMI, uma prorrogação para reembolsar os 101 milhões de dólares em dívidas, enquanto luta para evitar a nona falência do estado soberano.

Apesar das palavras apaziguadoras do ministro das Finanças, os investidores não dão o benefício da dúvida e preferem vender pesos argentinos, que valem cerca de 60 por cada dólar norte-americano.

COMMODITIES

OURO

A cotação do ouro representa desde sempre um excelente barómetro do medo, numa relação proporcional. Quanto mais se adensam os receios de uma recessão económica, mais elevada será a cotação do ouro. A remuneração do ouro é de zero, tendo apenas como compensação no investimento os ganhos de capital. Mas tem a concorrências dos títulos da dívida pública das economias mais pujantes do planeta. À medida que as taxas de juro descem, o ouro tem tendência a subir, bem como a dívida soberana alemã, suíça e norte-americana.

AÇOES CTT E BCP

Atualmente, as posições curtas na maior empresa de correios de Portugal representam cerca de 5.7% do capital social da empresa, com os investidores a apostarem na continuação da deterioração dos resultados dos CTT.

O BCP padece também deste onda especuladora por parte de alguns investidores.

Os CTT cotam atualmente nos 1,87 euros por ação, muito perto dos mínimos históricos alcançados há semanas. 






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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.