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sexta-feira, 24 de maio de 2019

O TODO-PODEROSO "ELES"


Todos os dias ouvimos a palavra "eles" nas mais diversas conversas ou situações. "Eles dão chuva para amanhã", ou seja, os meteorologistas preveem chuva. "Eles dizem que o candidato X vai ganhar as eleições com uma percentagem de X%". "Eles estão a pensar construir mais uma ponte entre o Porto e Gaia". "Eles vão passar a multar…". "Eles fizeram uma lei…". A entidade "eles" reveste-se de poder. "Eles" mandam, fazem, dizem e "nós" acatamos resignados.

Nos mercados financeiros a entidade "eles", além de ter muita força, serve na maior parte das vezes para justificar os nossos erros, a nossa indisciplina perante o todo-poderoso, o sobrenatural "Eles" que enviesa as nossas análises e nos faz perder dinheiro, segundo a nossa perspetiva.

Realizamos uma compra de um determinado número de ações a um determinado preço, e depois a cotação sobe muito, ou desce acentuadamente, e nós temos a tendência de afirmar que "eles" puxaram pelo título para vender mais caro ou "eles" pressionaram o título, através da venda de ações que têm em carteira, para comprarem mais baixo.

Não é apenas nos mercados, mas na nossa vida em geral, que o "eles" é uma entidade sempre presente.

Tudo é influenciado pelo "eles".

As estratégias ruinosas, os nossos falhanços ou aquilo que não conseguimos controlar.

Os acontecimentos não dependem da vontade humana, mas da interação humana. "Nós" também pertencemos, muitas vezes, ao grupo "eles", à aludida entidade "eles", e através da nossa interação no quotidiano, na compra de um determinado ativo, também estamos a influenciar o meio que nos rodeia, a cotação da ação de uma empresa.

Na realidade, existem pessoas, coletivas ou singulares, que influenciam mais o dia a dia do mundo ou o andamento dos mercados, como é o caso do presidente dos EUA, Donald Trump.

Haverá repercussões na vida das pessoas quando a administração norte-americana decide qualquer política sobre as tarifas alfandegárias a aplicar à China ou à União Europeia?

Quando a Reserva Federal decide não avançar com mais subidas de taxas de juro, mas até está a pensar em descê-las? No entanto, a Reserva Federal age de acordo com o andamento dos dados macroeconómicos norte-americanos, que vão sendo divulgados, e que dependem da ação humana. Mas esta ação humana é muitas vezes influenciada pela própria ação das autoridades monetárias. Em suma, muitas vezes os bancos centrais tomam medidas para colmatarem decisões tomadas no passado.

O dia a dia de um camponês no meio de um arrozal na China não influenciará substancialmente a vida do planeta, a não ser a sua própria vida. Porém, o dia a dia de todos os camponeses de arroz na China terá influência sobre a vida de muitas outras pessoas. Há pessoas que influenciam mais que outras, mas todas têm a sua importância.

Existem alguns investidores que pensam que o mercado está contra eles e raramente acham que são eles que podem estar errados.

Chegam mesmo a dizer, após entrarem no mercado, que "eles" já estão a levar o mercado para o lado oposto da sua posição. Se não entrassem, o mercado não teria esse comportamento. É paradoxal a atitude destes investidores, porque significa que eles, apesar de se acharem pouco relevantes e sem força para alterarem o rumo do mercado e os seus preços, são bastantes importantes e muito significativos que o "eles" está a olhar para aquilo que fazem, e o "eles" atua no mercado em função das suas posições. Em abono da verdade, este perfil de investidores procura desculpas, que os confortem, para justificarem alguns insucessos nos mercados financeiros… quando nos sucessos já pertencem ao "eles".

Paulo Monteiro Rosa, In "Vida Económica", 24 maio 2019




Mercados respiram com tréguas dos EUA à Huawei


Esta semana registaram-se mínimos históricos na rentabilidade das obrigações do tesouro português, abaixo de 1%.
 

As tréguas dos EUA, por 90 dias, à Huawei permitiram ao mercado respirar um pouco depois das quedas desde o início de maio. A empresa de telemóveis chinesa, a Huawei, é neste momento a principal arma de arremesso na guerra comercial entre os EUA e a China.

Donald Trump colocou a Huawei na lista negra, o que levou a Google e as empresas fabricantes de chips a suspenderem os negócios com a empresa chinesa.

A Huawei pode perder o acesso ao Android, Play Store e apps do Google. As administrações das empresas americanas fabricantes de chips Qualcomm, Intel, Xilinx e Broadcom poderão suspender as encomendas para a Huawei. Devido a esse facto, as tecnológicas norte-americanas sofreram fortes quedas no início da semana, mas recuperadas na sessão seguinte.

As actas referentes à última reunião da Reserva Federal, divulgadas na passada quarta-feira, mostram inflação moderada, mas transitória, que será paciente em qualquer movimentação das taxas de juros nos próximos tempos. Os futuros sobre taxas de juro da Fed, negociadas na bolsa de derivados de Chicago, espelham probabilidades de descida das taxas de juro crescente à medida que se aproximam do final do ano. Neste momento, a probabilidade de descida de taxa de juro da Fed em janeiro de 2020 em 25 pontos base, de 2,5% para 2,25%, é de 39%, de 50 pontos base, de 2,5% para 2%, é de 27% e manutenção nos 2,5% é de 21%. Não há, neste momento, perspectivas de subida das taxas de juro da Reserva Federal norte- -americana. A descida das taxas juro de longo prazo do dólar, nomeadamente a yield das obrigações do tesouro dos EUA a 10 anos, reflete um abrandamento económico, baixa inflação e uma política monetária expansionista.

A taxa de juro das obrigações soberanas portuguesas a 10 anos registou um novo mínimo histórico e quebrou os 1%. O spread da dívida portuguesa em relação à alemã a 10 anos, é neste momento de 1,1%, dos mais baixos desde 2008. Entre 1999, quando foi criado o euro, e 2007, o spread andou sempre muito perto de zero, à volta de 0,2%, com o mercado a percepcionar, nessa altura, uma cabal integração europeia.

Esta semana, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública - IGCP realizou a troca de maturidade em abril 2021 para maio 2026, no montante de 742 milhões de euros, adiando o pagamento da dívida em cinco anos.

A falência da empresa de aviação Low Cost WOW teve um impacto bastante significativo na pequena economia da Islândia, com a redução de turistas, e levou mesmo o banco central islandês a cortar a taxa de juro para estimular a economia que agora se prevê um contração.

AÇOES PSI20

As papeleiras nacionais, Navigator e Altri, têm sido penalizadas. O aumento de custos, nomeadamente químicos e madeira, são um entrave ao crescimento do lucro, que se mantém estável em termos anuais desde 2011, em torno dos 200 milhões de euros. O fim do benefício no preço de venda da energia de biomassa em 2020 está também a penalizar a principal empresa de pasta do país. A Semapa, que detém cerca de 70% da Navigator, também tem sido penalizada. Os CTT recuperaram dos mínimos históricos depois de ser conhecidas compras por parte da Manuel Champalimaud SGPS, que detém cerca de 12.5% da empresa postal.

CAMBIAL LIBRA E RENMINBI

A libra esterlina continuou a perder esta semana em relação ao euro e regista mínimos desde fevereiro. As negociações complexas e sem consensos sobre o Brexit têm penalizado a libra. Perante a guerra comercial entre os EUA e a China, a moeda chinesa depois de depreciar mais de 3%, dos 6,70 para 6,90 por cada dólar americano, esta semana manteve-se em torno deste valor. O Banco Central da China é um dos principais players no conflito comercial. Pequim tem utilizado frequentemente o instrumento cambial, mas espera não desvalorizar muita a sua moeda, até porque espera que haja um acordo positivo no final das conversações com Washington.

COMMODITIES PETRÓLEO

A cotação do petróleo desceu cerca de 5% esta semana. Os EUA passaram a importar novamente petróleo da Venezuela e a Arábia Saudita está preocupada com o crescente aumentos dos stocksque poderão penalizar o preço do crude. A OPEP reuniu-se no passado fim de semana, mas a principal medida tomada sobre os níveis de produção foi adiada para a próxima reunião, dias 25 e 26 de junho em Viena. A OPEP, a Rússia e outros produtores não membros do cartel concordaram em reduzir a sua produção de petróleo em 1,2 milhão de barris por dia a partir do início do ano. A próxima reunião visa decidir sobre uma prorrogação do prazo ou ajuste do actual pacto em vigor. 

Paulo Monteiro Rosa, 24 de maio de 2019



sexta-feira, 17 de maio de 2019

DIMINUIÇÃO DA OFERTA IMPULSIONA BITCOIN

O Bitcoin (BTC), a moeda virtual mais conhecida, cota nos 7400 dólares, máximos desde meados de novembro do ano passado. Desde o início do ano sobe quase 100%, após as fortes perdas verificadas em 2018, de quase 75%. Apesar do contínuo aumento dos ataques cibernautas todos os anos, a confiança no Bitcoin não tem sido abalada, e espelha cabalmente a capacidade deste ativo financeiro continuar, provavelmente, na senda dos ganhos nos próximos tempos. No início de maio foram roubados 7000 Bitcoins, equivalente a 52 milhões de dólares, à Binance, uma das maiores bolsas de criptomoedas do mundo, e, no entanto, após uma queda à volta de 4%, o BTC recuperou todas as perdas e segue em máximos dos últimos seis meses. Em maio de 2020, cada bloco "minerado" passará de 12,5 BTC para 6,25 BTC, e o mercado poderá estar a antecipar essa diminuição da oferta.
Neste momento, existem cerca de 17,7 milhões de BTC minerados, 84% do total possível de 21 milhões de BTC.

A atual cotação, a capitalização é de 116 mil milhões de euros, à volta de 66% da riqueza criada em Portugal num ano.

Não é um valor suficientemente elevado, capaz de gerar instabilidade e incerteza nos mercados financeiros, e muito menos em termos macroeconómicos, caso haja um aumento exponencial da volatilidade da BTC ou mesmo um colapso da moeda virtual mais prestigiada do momento.
Em janeiro de 2009 foi minerado o primeiro bloco. No começo da moeda digital Bitcoin, cada bloco continha 50 bitcoins. A volta de cada dez minutos um bloco é minerado. No entanto, aproximadamente de quatro em quatro anos os blocos minerados passam a conter metade dos bitcoins do período anterior, e este processo de divisão pela metade é conhecido por "Halving".
Significa que a inflação nominal deste ativo financeiro vai diminuindo.

O primeiro "Halving" foi a 28 de novembro de 2012, quando cada bloco passou de 50 para 25 BTC. O segundo "Halving" deu-se a 9 de julho de 2016 e cada bloco passou de 25 para 12,5 BTC.
A próxima divisão será a 23 de maio de 2020, quando cada bloco minerado a cada dez minutos conterá apenas 6,25 BTC. E assim sucessivamente...

A taxa de inflação nominal da BTC é hoje de 3,8% e a partir de maio de 2020 será aproximadamente de 1,8% e vai diminuindo continuamente, aproximando-se de zero. No entanto, a inflação real é a que interessa, está relacionada com o seu poder aquisitivo, e será aquilo que o Bitcoin conseguir comprar. Neste momento, um BTC vale 7400 dólares americanos (USD), cerca de 6600 euros. Com um BTC consigo comprar cerca de dez televisões, um quarto do valor de um automóvel ligeiro de gama média, quase seis smartphones da nova geração da Apple, o iPhone XS...

Aquando do primeiro "Halving", em 2012, existiam minerados 10 milhões e 512 mil BTC, no segundo "Halving", em 2016, 15 milhões e 768 mil BTC, e a 23 de maio de 2020 serão 18 milhões e 396 mil BTC. A quantidade minerada é cada vez menor, e os custos de mineração, nomeadamente com energia elétrica e computadores mais potentes, são exponencialmente crescentes, e são fatores que poderão estar por detrás das subidas nos últimos 6 meses e poderão continuar a catapultar o BTC para máximos até ao próximo "Halving" em maio de 2020. As transações baseadas na tecnologia no "Blockchain" da BTC demoram cada vez mais tempo, devido ao processo mais longo de validações, sempre desde o início, e poderão ser um entrave ao seu sucesso.

Segundo Mário Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), as criptomoedas não são moedas, mas ativos com um risco bastante elevado, e não compete ao BCE regular as criptomoedas. Draghi refere que o BTC é "algo que está dentro da competência da proteção do consumidor, e o BCE pretende ter a certeza de que as pessoas que compram esses ativos sabem o que fazem e estão cientes dos riscos que correm". Atualmente, e segundo o que é público, o BCE não tem planos para emitir a sua própria moeda digital. Mas, eventualmente, num futuro próximo, isso pode acontecer...
A comunidade de aficionados de moedas virtuais criticou a postura de Draghi e apontou para a inflação das moedas fiduciárias como uma prova de que o euro também não é estável.

Paulo Rosa, Semanário "Vida Económica", 17 de maio





sexta-feira, 10 de maio de 2019

Volatilidade regressou ao mercado

Tensões comerciais empurram mercados acionistas para primeira correção do ano, após máximos alcançados nas praças norte-americanas.  
 
As bolsas chinesas registaram fortes perdas na primeira sessão da semana, após três sessões consecutivas encerradas, de 1 a 3 de maio, aquando da comemoração do dia do trabalho. Na segunda-feira a bolsa de Shanghai perdeu cerca de 5,5% e a principal bolsa tecnológica chinesa, Shenzhen, recuou à volta de 7,5%, penalizadas pelo recrudescer das tensões comerciais entre a China e os EUA e o abrandamento económico chinês. Segundo Warren Buffet, a guerra comercial será negativa para o mundo inteiro.  
 
A China anunciou que irá tomar medidas para retaliar os aumentos, por parte dos EUA, das tarifas alfandegárias em 15 pontos percentuais para alguns produtos chineses, dos atuais 10% para 25%, com efeito a partir de hoje, dia 10 de maio, segundo o presidente norte- -americano, Donald Trump.  
 
Nos EUA, o emprego continua forte e a taxa de desemprego no mês de abril fixou-se nos 3,6%, o valor mais baixo dos últimos 50 anos, desde 1969. Foram criados 263 mil postos de trabalho, exceptuando os sazonais empregos agrícolas, quando o mercado esperava 186 mil. Os postos de trabalho criados no sector privado alcançaram os 236 mil acima dos 180 mil esperados.  
 
A volatilidade parece ter regressado ao mercado. O VIX, índice que mede a volatilidade do mercado de acções norte-americano, baseada nas volatilidades implícitas das opções cotadas na bolsa de derivados de Chicago, regressou a valores acima dos 20 pontos, algo que não acontecia desde janeiro, espelhando alguma semelhança com a forte volatilidade registada em dezembro do ano passado. Os mercados acionistas dos EUA caíram, desde 30 de abril, quatro sessões em seis. Porém, os mercados encontram-se em máximos históricos. O Nasdaq compósito registou o nível mais elevado de sempre no passado dia 29 de abril, e é normal registarem-se algumas correções, que para já não passam disso.  
 
A tendência de alta continua provavelmente, para os mercados poderem "respirar" e ganharem fôlego para novas subidas e máximos históricos. Mas estamos no mês de maio e o adágio dos mercados accionistas sell in May and go away (vender em maio e ir de férias, até setembro) está sempre presente na mente dos investidores...  
 
O banco do BCP na Polónia, o Bank Millennium, apresentou resultados no primeiro trimestre de 160 milhões de zlotys (37 milhões de euros) melhor que o estimado pelos analistas, à volta dos 150.1 milhões de zlotys.  
 
O Estado Português financiou- -se em 1.250 milhões de euros a níveis históricos. As emissões tiveram uma yield a 10 anos de 1.059% e a 15 anos de 1.563%, ambas significativamente inferiores face ao último leilão comparável quando as taxas se fixaram nos 1.143% (10 anos) e 2.045% (15 anos). A situação política, no que concerne ao tempo de serviço dos professores, não retirou qualquer confiança dos investidores na dívida portuguesa que continua a beneficiar da política monetária expansionista do Banco Central Europeu. 

Paulo Monteiro Rosa, Jornal Económico, 10 de maio 2019

https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/volatilidade-regressou-ao-mercado-442609





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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.