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sexta-feira, 24 de julho de 2020

Cenário de um dólar fraco


O cenário de um dólar fraco pode ser realidade perante o número crescente de variáveis que penalizam a moeda norte-americana. A Covid-19 implicou um reforço da política monetária expansionista da Reserva Federal norte-americana, através de um aumento da massa monetária e da descida da taxa de juro de referência de 1,75% para 0,25%. O diferencial da taxa de juro entre a “Fed Funds Rate” e a taxa de depósito do Banco Central Europeu (BCE) já não é tão favorável ao dólar, uma vez que essa diferença passou de 275 pontos base para apenas 75 pontos base em menos de duas semanas, nomeadamente na primeira metade do mês de março.

O esperado aumento do défice orçamental dos EUA em 2020, como resposta do Governo ao confinamento, e o discurso da FED, em que deu a entender que não pretende aumentar taxas de juro antes de 2023, podem penalizar o dólar num futuro próximo. Para além disso, há a perceção de que os EUA têm sido menos eficazes no controlo da pandemia do que a Europa e a China. Nos últimos meses, a FED tem criado mais dinheiro do que o BCE, e, desde o início de março, o balanço da FED expandiu-se perto de 70%, enquanto que o do BCE aumentou cerca de 35%. A taxa de desemprego nos EUA aproximou-se da taxa da Zona Euro, muito devido à maior flexibilidade laboral nos EUA. No passado, a diminuição do diferencial da taxa de desemprego entre a Europa e os EUA beneficiou o euro contra o dólar. Além disso, há a considerar as implicações favoráveis para o euro de uma união política mais solidificada na Europa, espelhada no acordo de recuperação económica “pós-Covid” alcançado no início da semana, e na atual cotação de 1,16 dólares por cada euro, o valor mais elevado da moeda única desde setembro de 2018.

É pouco provável que a tecnologia, nomeadamente norte-americana, que tem sido o setor líder nos últimos anos, continue a sê-lo se o dólar enfraquecer significativamente. As empresas value e os mercados emergentes tendem a melhorar o seu desempenho num cenário de queda no dólar. A ações cíclicas costumam ter melhor performance que as empresas defensivas, porque um dólar mais fraco é frequentemente associado a um aumento das expectativas de inflação e a um crescimento nominal mais rápido do PIB. As empresas com elevados níveis de alavancagem operacional, ou seja, aquelas que são capazes de aumentar as receitas sem que os custos subam tão rapidamente, beneficiam de margens de lucro crescentes quando o crescimento económico nominal aumenta ou quando elas conseguem repassar custos de produção mais altos para os clientes.

Um bom exemplo é o setor de materiais e também o industrial. Devido ao nível baixo de ativos fixos, o setor tecnológico geralmente tem um menor grau de alavancagem operacional. As empresas básicas (setor Staples) tendem a ter mais pricing power do que as empresas discricionárias num período de eventual queda do dólar e expectativas de inflação crescentes, uma vez que os produtos que vendem são menos substituíveis.

A inclinação da curva de rendimentos nos EUA tende a acentuar-se em períodos de fraqueza do dólar, e o setor bancário pode ser beneficiado porque tendencialmente cede crédito com prazos mais longos, a taxas mais elevadas, do que paga pelos depósitos dos clientes, que têm prazos mais curtos ou são à ordem, e a taxas mais baixas, neste contexto. Atualmente, a horizontalidade da curva e o controlo da mesma penalizam a lucratividade dos bancos.

Muitas economias emergentes são configuradas de maneira pró-cíclica, o que é o oposto da economia dos EUA, porque a inflação tende a ser mais alta nesses países, costumam ter défices elevados da balança de pagamentos, precisam de importar capital do exterior e a dívida que assumem é frequentemente denominada em dólares americanos. Com um dólar fraco, a dívida em moeda estrangeira torna-se mais fácil de pagar, a inflação importada diminui, os preços das commodities em dólares aumentam, cresce a capacidade dos bancos centrais dos países emergentes de reduzir as taxas de juros devido à menor inflação, o crescimento acelera, aumenta a poupança doméstica, o investimento interno e a atratividade de investimentos vindo do exterior intensificam-se.

Paulo Rosa, In Vida Económica, 24 de julho de 2020



segunda-feira, 20 de julho de 2020

Recrudescimento da Covid-19 nos EUA ameaça economia


A recuperação económica dos EUA poderá estar ameaçada perante uma segunda vaga da pandemia que pode desencadear uma recessão dupla. Dados em tempo real mostram desacelerações no tráfego de peões e tráfego de pessoas em restaurantes à medida que os casos de vírus aumentam em 38 estados. Seis estados (Arizona, Califórnia, Colorado, Flórida, Michigan e Texas) sofreram um aumento de casos no último mês e os governadores desses estados estão a reverter os planos de reabertura, com cerca de 15 a ponderar parar a reabertura da economia. 
 
O ressurgimento dos casos de vírus força os governantes a retardar ou reverter os planos de reabertura gradual da economia. Perante uma nova paralisação da atividade económica, existe um potencial risco de a forma da recuperação ser de um “U” ou um “W” em vez de um “V”. 
 
Segundo um estudo da Capital Economics, o tráfego de consumidores em restaurantes e shoppings ainda não foi revertido para os níveis anteriores à Covid-19, sendo a evolução desfavorável desde meados de junho. O tráfego de pessoas junto de revendedores de automóveis e grandes retalhistas quase regressou aos níveis de janeiro, no entanto, nas últimas semanas a tendência é de baixa.
Se a recuperação estagnar, os empregadores poderão ser forçados a dispensar trabalhadores. Neste verão, as férias também tenderão a ser limitadas no tempo e mais localizadas, evitando-se viagens de longo curso, porque a recessão motivada pelo novo coronavírus debilitou as finanças da população. 
 
A Reserva Federal norte-americana e a administração dos EUA podem desencadear uma nova ronda enérgica de estímulos financeiros para evitar uma recessão dupla na segunda metade do ano. 
 
O balanço da FED aumentou cerca de 70% desde o início da pandemia, espelhando o esforço hercúleo do banco central dos EUA para mitigar a recessão económica provocada pelo confinamento. O peso do balanço no PIB norte-americano subiu de 19% para valores bem acima dos 30%. Atualmente, ascende a quase sete biliões de dólares, mas muitos analistas não se surpreenderiam se o balanço da FED alcançasse os 10 biliões de dólares, caso surgissem novas restrições à circulação de pessoas que impactassem negativamente o andamento da atividade económica. 
 
Os “swaps” de cedência de liquidez da Reserva Federal dos EUA atingiram os 446 mil milhões de dólares em maio, um aumento que representou o esforço do banco central dos EUA para fornecer liquidez aos sistemas financeiros internacionais, nomeadamente dos países emergentes. Nas últimas semanas esta rubrica diminuiu em mais de 200 mil milhões de dólares, sendo a responsável pela queda do balanço da FED. Há uma procura mundial muito significativa por dólares sempre que acontece uma perturbação na economia e quer as pessoas quer as empresas desejam reter muito mais dinheiro do que o habitual, principalmente dólares, quando a preferência por liquidez aumenta significativamente. 
 
Os bancos centrais dos países emergentes necessitam de dólares para refrearem a forte procura que esta moeda tem em momentos de crise e estabilizarem as suas moedas depauperadas.
Por sua vez, as compras de ativos por parte da FED representam quase 90% do balanço, mais de seis triliões de dólares, e subiram cerca de 50% desde o início da pandemia e confinamento no ocidente, tendo estabilizado nas últimas semanas. No entanto, a FED estará atenta a qualquer contrariedade económica que surja e atuará, muito provavelmente, em conformidade...
 
 Paulo Rosa, in VIDA ECONÓMICA | 17-07-2020 | PAG 1 e 21
 

EDP capitaliza-se para crescer e surpreende mercado em época de Covid-19

Em semana de início de resultados do segundo trimestre, a elétrica não teme incertezas e receios da pandemia e continua a crescer por aquisições. Já o BCE manteve as suas compras inalteradas.

Além do crescimento orgânico, a EDP tem adotado nos últimos anos uma postura de crescimento via aquisições. Os investidores têm premiado essa estratégia que está espelhada na evolução positiva da cotação da empresa, que se encontra próxima dos valores alcançados em 2007, antes da grande recessão. A empresa pretende levantar cerca de mil milhões de euros junto dos seus acionistas. Quem não acompanhar o aumento de capital verá a sua posição diluída na empresa, mas poderá sempre alienar em bolsa os direitos, estando dependente da procura e liquidez dos mesmos, existindo a priori um equilíbrio teórico entre o valor dos direitos e o ajuste da cotação quando cotarem em ex-rights (sem direitos).

 

 https://leitor.jornaleconomico.pt/noticia/edp-capitaliza-se-para-crescer-e-surpreende-mercado-em-epoca-de-covid-19

 

 

 

sexta-feira, 10 de julho de 2020

O nível de atividade e os juros. Rácio ouro / cobre e a rentabilidade da yield do tesouro americana a 10 anos

Vem nos livros de introdução à economia eé quase uma evidência “La Palisse" para uma parte da população: à medida que a atividade económica abranda, os juros devem descer para estimulá-la. Existem muitos rácios e valores para avaliar o nível de atividade económica eum deles éo rácio ouro/cobre. O nível de taxa de juro poderá ser aferido pelas rentabilidades das obrigações do tesouro, e se existir perceção de abrandamento económico, que poderá ser espelhada pelo aumento do rácio ouro/cobre, as taxas de juro tendem a diminuir e as cotações dos títulos de dívida pública a aumentar.

O cobre é sensível ao crescimento económico eo ouro à procura de refúgio e proteção perante alterações nos rendimentos reais. Atualmente, o ouro é também uma cabal reserva de valor devido às baixas taxas de juro das principais moedas fiduciárias. A rentabilidade do tesouro é um reflexo de refúgio, das perspetivas de crescimento económico e do nível de inflação. A “yield curve" norte-americana espelha a política monetária da Reserva Federal, embora Jerome Powell afirme que não a controla, mas contradiz se ao referir que as taxas de juro vão permanecer próximas de zero até 2022.

Em caso de abrandamento económico, o cobre será menos procurado ea propensão para a compra de ouro será maior à medida que a incerteza aumenta, logo o rácio tenderá a ser mais elevado. Para estimular a atividade económica, os juros propendem a descer. Se o rácio ouro/cobre cair, isso indica uma aceleração do crescimento. Perante uma expansão económica considerável, o consumo de cobre tende a aumentar, a procura de ouro por motivos de incerteza tende a ser menor e o rácio descerá. Os juros têm espaço para subir e regressar aos níveis anteriores, de recessão ou abrandamento económico, para refrear a atividade económica e impedir a indesejável inflação muito acima dos 2% e preservar o ciclo económico expansionista durante um período mais longo.

Existem muitas estratégias de negociação e as correlações são das mais importantes e com um maior grau de sucesso. Poderá ser uma oportunidade interessante de "trading" caso exista alguma divergência significativa pontual do sentido do movimento do rácio ouro/cobre ou da normal evolução dos juros perante maior ou menor atividade económica. Vendendo ou comprando o que está subavaliado ou sobreavaliado e esperar que regressem a valores normais para fechar a posição.

Em caso de abrandamento económico e perspetiva de descida da taxa de juro para estimular o crescimento, as obrigações do Tesouro, mais sensíveis ao risco de taxa de juro e menos ao risco de crédito, tenderão a valorizar, bem como a cotação do ouro. Enquanto o cobre propende a desvalorizar, e, assim, há lugar a uma subida do rácio ouro/cobre.

No gráfico, podemos observar um crescimento económico considerável impulsionado e justificado, em parte, pela política orçamental expansionista da Administração de Donald Trump, eleita em novembro de 2016. Este crescimento começou a dar sinais de fadiga em 2019 e início de 2020, culminando numa forte desaceleração aquando do confinamento, iniciado em março, perante a agudização da pandemia de Covid-19.

Paulo Rosa, 3 de julho de 2020, Vida Económica




 

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.