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sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Dias calmos apesar da subida de taxas

A Fed aumentou os juros de referência, enquanto o BCE indicou querer seguir o mesmo caminho. Itália atrasou o OE, invertendo a tendência na bolsa.

PAULO ROSA, Economista e senior Trader do Banco Carregosa in "Jornal Económico", 28 de setembro 2018

Apesar de estarmos em setembro tradicionalmenteum mês de maior volatilidade - a semana nos mercados foi calma, mesmo que tenha sido marcada pela subida de juros. Nos EUA, a Reserva Federal subiu as taxas em 25 pontos base, de 2% para 2,25%, o valor mais elevado dos últimos 10 anos e na Europa as palavras de Mário Draghi indiciam o mesmo caminho.

Pela primeira vez, em mais de uma década, o banco central dos EUA omitiu, do seu comunicado, a referência à continuação de uma política monetária "acomodatícia" ou expansionista. Esta é a principal mensagem a reter da reunião da Fed. Em boa verdade, o que Jerome Powell quis transmitir foi o fim do crédito barato e uma nova subida das taxas de juro (contra o pretendido por Donald Trump, na próxima revisão de taxas, a 19 de dezembro, para um intervalo entre 2,25% e 2,5%. Para 2019, são esperadas três subidas. De salientar também, e isso terá contribuído para esta política mais hawkish (contracionista) por parte da Fed, a melhoria das perspetivas para o PIB dos EUA, que cresce a um ritmo superior a 4% ao ano, o pleno emprego e a inflação significativamente acima dos 2%.

O presidente do Banco Central Europeu (BCE) espera uma subida da inflação na zona euro, mas aquém do objetivo de 2% até 2020.

O mercado de dívida reagiu em baixa e a moeda única registou máximos desde meados de junho.

Porém, o euro acabaria por perder terreno contra o dólar após a subida dos juros pela Fed.

A guerra comercial continua e o presidente francês, Emmanuel Macron, referiu que não há acordos comerciais com os EUA após Trump ter rejeitado o acordo de Paris sobre alterações climáticas.

O Banco Asiático de Desenvolvimento alertou que as perspetivas de crescimento para a Ásia no próximo ano podem desacelerar substancialmente à medida que a guerra comercial interromper as cadeias de fornecimento das empresas multinacionais, causando danos às economias exportadoras da região. O ciclo de subidas de taxas de juro pela Fed está a encolher rapidamente a liquidez global, o que se tornou uma preocupação significativa para a atividade comercial da Ásia, elevando os custos dos empréstimos, enquanto as saídas de capital também são um risco.

Este facto já se tem espelhado na descida dos stocks globais. Mas a guerra comercial é sempre negativa, para todos, globalmente.

A finalizar a semana, a bolsa italiana - que subiu quase 5% em setembro - encetou uma descida, mais uma vez penalizada pela banca, que na manhã de quinta-feira chegou a perder cerca de 3,5%, depois de se saber que a reunião para definir os traços gerais para o orçamento do Estado para 2019 está atrasada devido a "novas complicações" ao nível do défice. O mercado, em especial o setor financeiro, vê este impasse como uma mensagem de incerteza política e, na dúvida, os investidores preferem vender e esperar para ver o que acontece.  
AÇÕES - GALP E BCP

A Galp beneficiou da alta do preço do petróleo. O BCP subiu acima dos 26 cêntimos, após a administração ter traçado um caminho bastante favorável até 2020, com uma melhoria substancial dos lucros e o pagamento de dividendos. Segundo o presidente da administração, Miguel Maya, os desafios são muito grandes, salientando que ainda há muita coisa para fazer, mas os resultados positivos são uma realidade, espelhados nos lucros semestrais de 150.6 milhões de euros. A Navigator foi dos títulos mais penalizados esta semana, e desceu dos 4,40 euros/ação para 4,15.

CAMBIAL - EUR/USD

O euro atingiu máximos de três meses contra o dólar norte- -americano, nos 1,1815. O presidente do BCE, Mário Draghi, antevê uma subida da taxa de inflação na zona euro, mas à volta de 1,7% até 2020, dando um sinal de que poderá começar a subir as taxas de juro a partir do verão de 2019, que estão nos 0%. A cedência liquidez está nos 0,25% e os depósitos nos - 0,40%. As taxas de juro de longo prazo da zona euro (as rentabilidades das obrigações do tesouro) e o euro subiram de imediato. O dólar voltou a recuperar, após a subida da taxa de juro por parte da Fed.

COMMODITIES - PETRÓLEO

As principais referências do petróleo, o Brent de Londres e o WTI de Nova Iorque, estão em máximos dos últimos quatro anos, desde dezembro de 2014.

Apesar das palavras de Donald Trump, a OPEP não vai aumentar a produção para pressionar em baixa os preços do crude como pretendido pelo presidente norte-americano. As sanções impostas pelos EUA ao Irão, com cerca de 4% da quota de produção mundial, têm impulsionado a cotação do petróleo. Duas das maiores empresas que operam no setor, a Trafigura e a Mercuria, apostam que o petróleo atingirá os 100 dólares por barril no início de 2019. 




A América continua grande, apesar de Donald Trump

Na semana passada os dois principais índices chineses, o tecnológico Zhenzhen e o Shanghai, registaram mínimos dos últimos quatro anos (os valores mais baixos desde outubro de 2014), devido aos receios de abrandamento económico. Desde os máximos, verificados em meados de janeiro, o Zhenzhen perde quase 30%. 

Porém, e em contraponto, as bolsas norte-americanas registam os valores mais altos de sempre (Dow Jones, S&P500 e Nasdaq100) beneficiando do bom comportamento das empresas tecnológicas e das taxas de juro que, apesar da subida, continuam baixas e ainda não pressionam as bolsas. No dia 26 de setembro a Reserva Federal subiu a taxa de juro para 2.25% e, muito provavelmente, voltará a subir 25 pontos base, para 2.5%, a 19 de dezembro.

Já em 2015 e 2016 as bolsas chinesas foram penalizadas pelo receio de abrandamento económico. Na altura registaram fortes perdas que não voltaram a recuperar. As tensões comerciais continuam a pressionar a economia chinesa e a moeda, reflexo do seu cariz exportador maioritariamente para os EUA. O significativo défice comercial dos EUA pode justificar esta política por parte da administração de Donald Trump, no intuito de corrigi-lo.

O défice comercial dos EUA, à volta dos 600 biliões de dólares anuais, 3% do PIB norte-americano, representa grosso modo o superavit chinês, alemão e japonês.

Todavia, os ajustamentos comerciais, que podem fazer sentido em termos locais e no curto prazo, não devem ser realizados com protecionismos ou políticas nacionalistas. E, na realidade, a economia norte-americana é a menos protecionista dos três grandes blocos económicos mundiais (EUA, Zona Euro e China). A atual guerra comercial é semelhante à do período pós-grande depressão de 1929 no que concerne ao renascer dos protecionismos. Uma das principais medidas utilizadas pelos países para ultrapassar a crise financeira e económica foi fecharem-se sobre si próprios. O período atual é algo análogo e vale a pena refletir sobre o que aconteceu depois do período entre 1930-40 quando pensamos sobre as atuais relações EUA-China.

O Renminbi/Yuan continua a espelhar o enfraquecimento da economia chinesa. Perde cerca de 10% desde o início do ano, apesar das autoridades referirem que não vão usar a sua moeda como "arma" na guerra comercial. O yuan afundou quase 1% no dia 23 de setembro, depois de a China ter cancelado as conversações comerciais com os EUA. Decididamente, esta é mais uma prova de que, neste diferendo, o elo mais fraco é o país asiático.

A excelente formação existente na maior parte dos países desenvolvidos culmina, em parte, na emigração para os EUA de jovens prodígios de todo o mundo no campo da engenharia e biotecnologia. Na China, na Indonésia, na Alemanha, em França, no Dubai, muitos jovens ambicionam ir para grandes multinacionais norteamericanas. É um facto há cerca de cem anos. Já Einstein emigrou para os EUA tal como os grandes cientistas europeus do pós-guerra. As maiores capitalizações bolsistas, a nível mundial, são empresas tecnológicas norte-americanas: Apple, Amazon, Google, Microsoft e Facebook.

A entrada em bolsa de novas empresas é sucesso garantido nos EUA. A 21 de setembro a OPV da portuguesa Fartech subiu à volta de 40% na estreia na bolsa de Nova Iorque.

A dívida pública norte-americana é de 21 triliões de dólares, cerca de 105% do PIB nominal, e é detida em grande parte por institucionais, empresas e famílias norte-americanas. Existe um mito de que a China tem um grande poder de influenciar o rumo da dívida americana, mas tem apenas 5%, a par do Japão. Estes dois países asiáticos acumulam divisas sobre os EUA devido ao comércio internacional, que lhes é favorável, e compram dívida pública americana para beneficiar dos juros à volta de 3% e da segurança do dólar.

O DAX30 alemão está a 10% dos máximos, refletindo o cariz exportador da economia germânica, desde os automóveis à área farmacêutica e tecnológica. O francês CAC40 está a apenas 3% dos máximos históricos. 

Paulo Rosa, "Vida Económica", 28 de setembro 2018






sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Bolsas em maré calma

Na Europa, o Dax30 e o Cac40 recuperam algum terreno perdido à boleia da banca italiana. Também as praças norte-americanas reconquistaram cerca de metade das perdas do início de setembro, a beneficiar dos bons dados relativos ao emprego, que mostram uma economia robusta que continua a criar mensalmente, de acordo com o mês de agosto, mais de 200 mil postos de trabalho. A taxa de desemprego abaixo dos 4% espelha o pleno emprego.

A 1 de outubro, a Navigator vai voltar a aumentar o preço do papel e liderou as subidas, a par da Semapa e da Altri, a respirar das fortes perdas das últimas sessões, depois de fulgurantes subidas desde março. A Haitong subiu a recomendação para a Navigator de manter para comprar, apesar de ter descido o preço alvo de 5.40 para 5.20€. A Mota Engil perdeu 30% em oito sessões consecutivas e recupera, acompanhando o movimento do PSI20 e das principais praças mundiais. Beneficiou de uma compra de 60 mil ações próprias na quarta-feira a 2.155 €. A tem recuperado com a forte subida do preço do petróleo de quase 5%.

Na quinta-feira, o BCE reviu em baixa as suas previsões para o crescimento da Zona Euro baseando essa revisão na diminuição da procura mundial, penalizada pelas tensões comerciais.

Aliás, os problemas das economias emergentes continuam a agudizar-se e são, atualmente, uma das causas da desestabilização dos mercados, a par dos nacionalismos crescentes na Europa, sendo Itália a maior preocupação.

Passados 10 anos sobre a falência da Lehman Brothers, surgem, nalgumas economias, sinais de bolhas especulativas em setores que vão desde o imobiliário às ações e obrigações, passando pelas dívidas públicas.

As bolhas continuam a ser alimentadas pelas baixas taxas de juro e pelos elevados balanços dos bancos centrais, políticas criadas para, precisamente, debelar as consequências da crise financeira de 2008. Mas há uma grande exceção: a descida da dívida pública alemã nos últimos anos, ao contrário do que acontece nas restantes grandes economias. Em 2012 a dívida pública germânica em relação ao PIB nominal era de 80%, e em 2017 foi de 64%. Nos EUA, nas mesmas datas, a dívida pública foi de 100% e 105% do PIB, respetivamente.

No câmbio, a cada semana que passa aparecem novos mínimos históricos de moedas de países emergentes. Depois do peso argentino, da lira turca, do real brasileiro, entre outras, esta semana foram a rupia indiana e a rupia do Sri Lanka que seguem em mínimos contra o dólar nos 72.91 e 163, respetivamente. •

CAMBIAL EFEITO ATINGE A RUPIA INDIANA

Os desequilíbrios externos agudizam-se na economia indiana, nomeadamente a pressão do preço do petróleo. A índia importa quase 80% de suas necessidades de combustível. O conflito comercial entre os EUA e a China, que se agravou em agosto, tem penalizado outros produtos importados, e esse facto verificou-se na forte desvalorização da rupia. Há especulações de que a China possa desvalorizar o yuan para superar os EUA, o que pode ter um efeito cascata nas moedas emergentes, incluindo a rupia.

CAMBIAL RANDE RUBLO SERÃO AS PRÓXIMAS?

A rupia paquistanesa registou mínimos históricos contra o dólar no final de julho nos 129.48. E o rand sul- -africano perdeu, apenas no mês de agosto, cerca de 15% em relação ao dólar e cede 30% desde fevereiro. Cota nos 15, muito perto do mínimo alcançado a 11 de janeiro de 2016 nos 17.995. Também o percurso do rublo russo é quase tirado a papel químico do Rand e vai pelo mesmo caminho de desvalorização em relação ao dólar.

COMMODITIES FURACÃO AMEAÇA PETRÓLEO

O Brent subiu cerca de 3% esta semana e o WTI. "benchmark" para os EUA, apreciou perto de 2%. O crude norte- -americano, após ter encerrado nos 67.75 dólares na sexta-feira anterior, chegou a cotar acima dos 70 dólares esta semana, uma valorização de quase 4%. Com setembro chegou a época dos furacões no Atlântico, junto à costa americana, que ameaça as plataformas petrolíferas norte-americanas no golfo do México. A interrupção na produção está a impulsionar os preços do petróleo nos mercados.





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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.