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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Ataque russo reaviva receios de estagflação

Invasão da Ucrânia pela Rússia impulsiona o preço do gás, do petróleo e dos produtos agrícolas. Aumenta receios de desaceleração económica

Atualmente, um dos maiores receios dos investidores talvez seja um abrandamento económico associado a uma elevada inflação, ou seja, uma estagflação. A subida da cotação do ouro, muito perto dos 2000 dólares por onça, indicia isso mesmo, isto é, uma incerteza crescente face ao agravamento do conflito militar na Ucrânia e aponta também para um abrandamento na subida das taxas de juro, fruto de uma potencial desaceleração económica, em virtude das crescentes sansões económicas à Rússia.

A agudização das tensões militares entre a Ucrânia e a Rússia têm aliviado a pressão dos juros nas últimas duas semanas. As perspetivas dos mercados são de um abrandamento económico, e já antecipam, agora, menos subidas de taxas de juro pela Reserva Federal dos EUA em 2022. Os futuros sobre as taxas de juro da Reserva Federal dos EUA, negociados na bolsa de derivados de Chicago, indiciam uma subida de 25 pontos base, consubstanciada numa probabilidade de 90%, na próxima reunião de 16 de março. Há duas semanas, o mercado antecipava uma alta de 50 pontos, impulsionada pelos fortes números do emprego norte-americano em janeiro e pelos números da inflação, os mais elevados desde 1982 em janeiro.

Também o BCE na reunião do próximo dia 10 de março poderá adotar uma postura mais dovish e descartar quaisquer subidas de juros até ao final do ano, para suportar a economia europeia de qualquer desaceleração causada pela crise na Ucrânia.

Se esta estagflação se vier a materializar, então as perspetivas do início do ano que indicavam novos ganhos para os mercados acionistas em 2022, dificilmente se concretizarão. Todavia, se o conflito na Ucrânia for limitado no tempo e não se traduzir em pressões inflacionistas duradouras, então os mercados poderão recuperar dos atuais níveis.

As obrigações do tesouro são um dos portos seguros da semana. Os rendimentos das obrigações soberanas norte-americanas descem e os prazos de 10 e de 2 anos aproximam-se, sendo o spread de apenas 0,4%, o mais baixo desde o início da pandemia em março de 2020, diminuindo a inclinação da curva de rendimentos e aumentando a probabilidade de abrandamento económico.   

Os produtos agrícolas também valorizam significativamente. A Rússia é o maior produtor mundial de trigo e a Ucrânia está nos cinco primeiros. A Rússia e a Ucrânia respondem por cerca de 29% das exportações globais de trigo, 19% do fornecimento mundial de milho e 80% das exportações mundiais de óleo de girassol. O trigo segue a valorizar quase 6% e regista máximos desde julho de 2012. O milho cotado na bolsa de derivados de Chicago segue a valorizar 4%.

Os preços do petróleo atingem máximos dos últimos oito anos. A cotação do Brent superou os 100 dólares por barril e o futuro para entrega em abril 105,72 dólares por barril. O gás valoriza quase 50% e cota nos 130 euros cada MWh, nomeadamente o Gás TTF Holandês para entrega em março.

 

Paulo Monteiro Rosa, In Jornal Económico, 24 de fevereiro 2022




O ouro e as tensões geopolíticas

O ouro está em máximos dos últimos oito meses e é um ativo de refúgio por excelência quando existem tensões geopolíticas. O ouro não tem nenhuma remuneração subjacente, ou seja, a sua taxa de juro implícita é zero e o único retorno que oferece são os ganhos de capital, isto é, a valorização face ao preço de compra.

Grosso modo, a procura de ouro é impulsionada pela incerteza e pela descida das taxas de juro. E a oferta de ouro será tanto maior, quanto maior for a procura, numa alusão à lei da oferta e da procura e numa ótica de maximização do lucro pelas empresas extrativas do metal amarelo. A incerteza está muitas vezes associada às tensões geopolíticas, às economias desestruturadas dos países de fronteira e de alguns emergentes, e também à desaceleração económica ou recessão, nomeadamente num cenário de estagflação (estagnação económica acompanhada de inflação elevada). Nos últimos cinco anos, o kwanza angolano perdeu 75% do seu valor relativamente ao dólar norte-americano, o peso argentino 85%, a lira turca dois terços e o real brasileiro metade do seu valor, e, neste contexto, o ouro é sempre uma cabal reserva de
valor. Apesar da atratividade das elevadas taxas de juros nestes países, a incerteza e a acentuada inflação incentivam a detenção de ouro, bem como de moedas de referência mundial como o dólar, em detrimento das moedas locais.

Mas não há uma correlação direta e positiva entre uma inflação mais elevada e uma maior procura de ouro.
Depende das causas que estão na génese da inflação. No atual contexto de crescimento económico e de quase pleno emprego, a exemplo os EUA, a inflação tende a aumentar devido ao crescimento da atividade económica e neste cenário o ouro não é um ativo tão atrativo porque a incerteza é baixa e os bancos centrais procuram adotar posturas monetárias contracionistas, refletidas na subida de taxas de juro. Como o ouro não tem um juro implícito, acaba, por vezes, por perder para as principais moedas mundiais, em virtude da subida dos juros. Taxas de juros mais elevadas aumentam o custo de oportunidade de manter ouro sem juros.

O abrandamento económico aumenta a procura de ouro e a recessão acelera ainda mais essa procura, devido à incerteza que existe num contexto de contração económica. Esse apetite por ouro será tanto maior, quanto mais elevada for a inflação, por isso a cotação do ouro tende a acelerar em cenários de estagflação.

A evolução das taxas de juro tem um papel importante na cotação do ouro. Quando os bancos centrais precisam de estimular o crescimento económico, através de uma política monetária expansionista, configurada na diminuição das taxas de juro e expansão dos seus balanços, o ouro como não gera qualquer rendimento torna-se gradualmente mais atrativo. Taxas de juro baixas, ou nulas, retiram às moedas fiduciárias quaisquer remunerações e é indiferente ter ouro ou dólares, euros, ienes. Ademais, neste cenário o ouro tem vantagem porque é visto como um ativo de refúgio desde os primórdios da civilização, logo o investidor fica protegido face a tensões geopolíticas e todas as incertezas que sempre existem.

Todavia, a reversão da política monetária pelos bancos centrais e a adoção de uma postura gradualmente mais ‘hawkish’, evidenciada na crescente subida de taxas de juro, retira boa parte do ‘brilho’ ao ouro. Mas quaisquer sinais de desaceleração económica e abrandamento das pressões inflacionistas nas economias avançadas, nomeadamente nos EUA, contribuirá para um novo impulso da cotação do ouro.

Ultimamente, o ouro tem sido impulsionado pelas tensões geopolíticas entre a Ucrânia e a Rússia. Atualmente, vários cenários se configuram para a evolução da ouro. Uma investida da Rússia em território ucraniano limitada às duas repúblicas separatistas tenderia a travar a subida da cotação do ouro. Numa situação de escalada do conflito através de uma resposta musculada da NATO e da Ucrânia relativamente à Rússia, o ouro tenderia a valorizar ainda mais. Mas se as pretensões da Rússia vão além das duas repúblicas separatistas e o objetivo das tropas russas seja tomar Kiev, o ouro poderá superar os 2000 dólares por onça e fixar novos máximos históricos.

Paulo Monteiro Rosa, In Vida Económica, 23 de fevereiro 2022


 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Abrandamento da inflação nos EUA parece inevitável

A inflação norte-americana tem subido gradualmente ao longo dos últimos 12 meses. Em janeiro de 2022, a taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) acelerou 7,5%, a mais elevada desde fevereiro de 1982, impulsionada pelo aumento dos custos da energia, pela escassez de mão de obra e pelas dificuldades nas cadeias de abastecimentos (‘bottlenecks’), em consequência da pandemia de covid-19, e por uma procura robusta no ano passado, reprimida em 2020 pelo confinamento e pelas restrições à liberdade de circulação mais rígidas. Há um ano, em janeiro de 2021, a taxa de inflação homóloga, medida pelo IPC, foi de 1,5%. Excluindo energia e alimentação, categorias voláteis, o IPC subiu 6%, o maior aumento desde agosto de 1982.

A subcategoria dos carros e camiões usados contribuiu com 1,55 pontos percentuais (pp) para o aumento de 7,5% da inflação em janeiro, os carros e camiões novos 0,46 pp, a alimentação 0,86 pp, a energia 1,83 pp, a habitação (‘shelter’) 1,33 pp, a remodelação das habitações 0,34 pp e os transportes 0,29 pp, ou seja, estes itens responderam por quase 90% do crescimento dos preços e têm um peso total de 71,5% no IPC. As escolas e comunicação, a educação (livros, computadores, ‘smartphones’), os cuidados de saúde e os medicamentos representam 15% do IPC e subiram 1,7%, 0,8%, 2,7% e 1,4%, respetivamente. O vestuário e roupa, os artigos recreativos (televisão, bicicletas, brinquedos), os serviços de água, esgotos e lixo e os serviços recreativos (concertos, desportos) subiram respetivamente 5,3%, 4,1%, 4% e 5%, e respondem por grande parte do restante peso de 13,5% no IPC.

Nos EUA, o salário médio por hora aumentou 5,7% no ano passado, o ritmo mais elevado dos últimos 20 anos, mas abaixo da inflação. Ou seja, em termos médios, o aumento dos preços penaliza o poder de compra dos norte-americanos. A remuneração dos trabalhadores poderia contribuir para uma espiral de subida de preços-salários (salários crescentes impulsionam os preços e vice-versa), mas a elevada inflação é justificada, em grande parte, pelos desajustamentos causados pela pandemia, não pelos custos mais elevados das empresas devido à alta dos salários.

A capacidade produtiva instalada mantém-se e deverá ser deflacionista quando todos os trabalhadores regressarem ao trabalho. Os serviços que os norte-americanos conseguiram assegurar a partir do teletrabalho não registaram subidas significativas.

Nos dez anos anteriores à pandemia, a inflação manteve-se, quase sempre, abaixo dos 2%, mas os salários aumentaram anualmente cerca de 3%, alicerçados em ganhos de produtividade.

A título de exemplo, em 2019, a taxa de desemprego mensal foi sempre inferior a 4%, abaixo da NAIRU (taxa de desemprego abaixo da qual há aceleração da inflação) à volta dos 4,5% ao longo desse ano, mas a taxa de inflação não aumentou. Em 2021, a economia norte-americana regressou aos níveis pré-covid com menos 2,7 milhões de trabalhadores, a 31 de dezembro de 2021 relativamente ao início da pandemia, ou seja, os atuais aumentos salariais são também suportados por ganhos de produtividade.

Grosso modo, a inflação foi imposta pela pandemia e deverá abrandar com a passagem a endemia. No último ano, a escassez de ‘chips’, em resultados dos ‘bottlenecks’ ditados pela pandemia, penalizaram a produção de carros novos e, consequentemente, a procura de carros e camiões usados aumentou significativamente e os seus preços subiram 40%. Todavia, não se espera que a procura de um bem duradouro seja anualmente recorrente e, além disso, a procura de carros no último ano e meio foi impulsionada, em parte, pela maior necessidade de deslocação para a periferia em contexto pandémico. Em 2021, os preços dos carros e camiões novos aumentaram 12%, penalizados pela subida dos preços dos ‘chips’ e por um aumento da procura dos norte-americanos num ambiente de pandemia e com poupanças acrescidas. O restabelecimento das cadeias de abastecimento e um esperado aumento significativo na capacidade de produção de chips tenderá a normalizar os preços dos semicondutores. Mas, nos próximos anos, a transição energética determinada pela atual política de descarbonização, empurra os consumidores para os veículos elétricos (EV), todavia a oferta ainda é muito exígua e os preços elevados. Os EV serão inflacionistas enquanto não há massificação da sua produção.

A habitação (‘shelter’) aumentou 4,4%, um valor ligeiramente acima do normal, mas bem abaixo do aumento de 7,5% do IPC. O peso elevado no IPC, cerca de 33%, confere-lhe importância no índice, mas a subida anual deste item tem rondado os 3% nas últimas décadas, e poderá regressar para esses níveis com o esperado abrandamento da procura de casa na periferia por motivos de teletrabalho e aulas online ditados pela pandemia.

A energia subiu 27%, principalmente devido à alta do preço do petróleo, mas a produção desta matéria-prima deve aumentar à medida que a subida do seu preço incentiva novas perfurações e impulsiona a retoma do ‘Shale Oil’ norte-americano. Os países da OPEP+ repõem gradualmente os cortes ditados pelo confinamento da primavera de 2020 e as exportações de petróleo iranianas podem aumentar pela primeira vez em quase três anos. No entanto, as tensões geopolíticas no leste europeu persistem, mas é um cenário que se espera que seja temporário. Por fim, a atual política de descarbonização adotada globalmente é um fator inflacionista e determina um custo de energia mais elevado e persistente.

O IPC acelerou na primavera do ano passado, nomeadamente a partir de maio e junho. Assim sendo, os efeitos de base deverão atuar a partir dessa data e a inflação poderá abrandar por esse motivo. Além disso, as necessidades de aquecimento diminuem depois do inverno e os preços do petróleo e gás podem desacelerar também por esse motivo e contribuir para mitigar os níveis de inflação.

A Reserva Federal dos EUA (Fed) tenta refrear a inflação e a probabilidade de um aumento de 50 pontos base na reunião de março é de 62%, de acordo com os futuros da Bolsa de Chicago. A última vez que a Fed subiu 50 pontos foi há 18 anos, em 2004, no início de uma postura contracionista de normalização da política monetária, após a recessão de 2001 espoletada pelo colapso das ‘dotcoms’ e pelo atentado do 11 de setembro em 2001, um período caracterizado por um ‘bearmarket’ de 25 meses, o mais longo desde a grande depressão de 1929. Ultimamente, a inclinação da curva de rendimentos nos EUA tem diminuído e o ‘spread’ entre a ‘yield’ do tesouro a 10 anos e os 2 anos é agora de apenas 0,45%. Uma musculada subida dos juros pela Fed pode redundar em forte desaceleração económica. Os próximos dados relativos à evolução do IPC de fevereiro serão divulgados em 10 de março e ditarão a política da Fed e a evolução dos mercados. Também na reunião de março, a Fed divulgará as suas perspetivas económicas trimestrais, nomeadamente as novas expectativas para a taxa de inflação para o final do ano e para 2023, bem como quaisquer alterações à sua política monetária e o novo diagramo de taxas de juro ‘dot plot’.

Qualquer melhoria futura quanto aos números de inflação e níveis das taxas de juro poderá suportar os ativos de risco, mais especificamente ações, criptomoedas, metaverso, NFT e SPAC.   

PMR 17 fevereiro VE


 
  

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Adeus, 2021! Olá, 2022!



O ano de 2022 promete ser de subida de taxas de juro e finalização de muitos programas de compra de ativos pelos bancos centrais. O Banco de Inglaterra iniciou ainda em 2021, há poucos semanas, a subida da sua taxa de juro diretora em 15 pontos base de 0,10% para 0,25%. A Reserva Federal dos EUA (Fed) deverá terminar o seu programa de compras pandémicas ainda no primeiro trimestre e subir três vezes as suas taxas de juro de referência ao longo de 2022, de acordo com o seu diagrama de pontos (‘dot plot’) divulgado na sua última reunião, em dezembro do ano passado. O gráfico de juros da Fed veio corroborar as expetativas dos futuros das taxas de juro da Fed (Fed Funds Rate), negociados na bolsa de derivados de Chicago, que antecipam há mais de três meses três subidas em 2022 de um quarto de ponto cada do intervalo [0% a 0,25%] para [0,75% a 1%].
A política monetária contracionista poderá condicionar o desempenho favorável do mercado acionista no último ano e meio, nomeadamente dos setores que mais têm beneficiado com as baixas taxas de juro, tais como o tecnológico. No entanto, o desempenho deste setor estará sempre dependente dos resultados das empresas e do crescimento económico.

Ao contrário do ano passado, a economia norte-americana está mais sólida. A Fed sente-se suficientemente confiante para aumentar as taxas de juros e encerrar o seu programa de flexibilização quantitativa, focalizando-se agora no ‘lidar com a inflação’, depois de ter estado focada no emprego em 2021. Todavia, o BCE deverá manter ainda uma política monetária relativamente acomodatícia para suportar as dívidas públicas significativamente elevadas dos países do sul da Europa e, assim, manter a coesão europeia. Também o ciclo económico na Europa está mais atrasado que o norte-americano e poderá justificar uma política monetária expansionista durante mais algum tempo. E além de um BCE ainda ‘dovish’ em 2022, há o lançamento de um estímulo orçamental pan-europeu espelhado no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). As ações europeias podem beneficiar do programa europeu de apoio à pandemia e de um BCE muito menos ‘agressivo’ do que a Fed.

O atual ‘bull market’ tem apenas 21 meses, teve início em março de 2020 e o índice norte-americano S&P 500 acumula um ganho de 118%. Isso significa que já superou o rali de 2002 a 2007, que durou quase quatro vezes mais e registou uma subida de 103%. O índice pan-europeu Stoxx 600 valoriza cerca de 83% desde o dia 16 de março de 2020, aquém da subida de 145% de 2003 a 2007. Por vezes os investidores norte-americanos referem que “os mercados de alta não morrem de velhice, mas são mortos pela Fed”. Há o risco de uma substancial subida das taxas de juro pela Fed travar o atual ‘bull market’ e abrandar o crescimento económico, de tal forma que seja tarde para remediar cabalmente o risco de desaceleração.

Tradicionalmente, as ações europeias negoceiam com múltiplos inferiores às suas congéneres norte-americanas, ou seja, costumam ser relativamente mais baratas que as dos EUA, facto muitas vezes justificado por um retorno médio dos capitais próprios (ROE) mais elevado das empresas norte-americanas, explicando, assim, esse prémio e diferencial em relação às ações da Europa. Mas habitualmente as ações de estilo ‘value’ (valor) superam as ações ‘growth’ (crescimento) num ambiente de subida de taxas de juro. E as empresas europeias são mais ‘value’ que as norte-americanas. As gigantes tecnológicas norte-americanas FAAMG (Facebook, Amazon, Apple, Microsoft e Alphabet), e todo o ‘cluster’ envolvente, justificam muitas vezes o estilo mais ‘growth’ das empresas norte-americanas.
Em 2021, a economia portuguesa foi impulsionada pela retoma económica global, pelo ressurgimento da procura e pela melhoria do emprego. O PRR deverá suportar o crescimento em 2022, a par do turismo, do setor hoteleiro e da restauração. Mas os serviços relacionados com o turismo estrangeiro podem ainda permanecer abaixo dos níveis pré-pandemia. As dificuldades nas cadeias de abastecimento talvez ainda penalizem o setor industrial, mas deverão desaparecer ao longo do ano. A pandemia de covid-19, reflexo das novas variantes, pode ainda configurar um risco ao turismo estrangeiro, onde a incerteza permanece elevada devido aos constrangimentos, sobretudo nos aeroportos. 

PMR 4 janeiro 2022 In VE




A ‘Decarbonomics’ e a ‘greenflation’ marcam 2022


A par da enérgica recuperação da crise económica de 2020 determinada pelo confinamento, o ano passado fica também marcado pelas elevadas e históricas taxas de inflação. Nos EUA o índice de preços no consumidor (IPC), em 2021, atingiu os valores mais altos desde 1982, penalizado sobretudo pelas dificuldades nas cadeias de abastecimento e pelos custos salariais mais elevados ditados pela escassez de mão de obra. Na Alemanha, a maior economia da Zona Euro, o IPC alcançou o nível mais elevado desde 1993, impulsionado principalmente pelos consideráveis aumentos dos custos da energia, nomeadamente do gás natural e do petróleo, em grande medida pressionados pela aceleração da transição energética ditada pela política de descarbonização.
Há um consenso generalizado de que 2022 continuará a ser um ano de crescimento económico robusto a nível global, mas a um ritmo mais moderado, em consonância com a fase mais madura do ciclo. Como resultado da crescente inoculação da população, do surgimento de medicamentos inovadores e de métodos de prevenção e combate à pandemia gradualmente mais eficazes, espera-se que a economia global seja cada vez menos afetada por potenciais novos surtos de covid-19. Todavia, existem vários riscos para este cenário central para lá da pandemia, tais como riscos políticos, desde as eleições presidenciais em França às intercalares nos EUA em novembro, problemas nas cadeias de abastecimento, que tenderão a normalizar ao longo do ano, a subidas nos preços e pressões salariais, à turbulência no mercado imobiliário chinês e aos custos da energia. Espera-se que a economia seja alavancada também por planos de gastos plurianuais nas principais economias desenvolvidas, em particular o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) na Zona Euro e os programas de infraestruturas do presidente Joe Biden nos EUA.

Traçada pelas autoridades dos EUA como principal prioridade em 2021, a recuperação do mercado de trabalho foi uma realidade e a economia norte-americana aproximou-se do pleno emprego em dezembro com uma taxa de desemprego de 3,9%. No entanto, o objetivo foi em parte alcançado com um preço elevado, ou seja, uma subida histórica da inflação. A Reserva Federal dos EUA (Fed) procura agora rapidamente reverter a política monetária e são esperadas, atualmente, quatro subidas de juro em 2022, de acordo com os futuros das ‘Fed Funds Rate’ negociados na bolsa de derivados de Chicago. Powell afirmou que poderia mesmo começar a reduzir o balanço em meados do ano para travar a inflação.
A Fed estima para 2022 uma taxa de inflação medida pelo PCE de 2,6%, um crescimento económico de 4% e pleno emprego com uma taxa de desemprego de 3,5%, idêntica ao mês de fevereiro de 2020, antes do confinamento determinado pela pandemia. Em suma, o banco central dos EUA mostra-se otimista e, apesar de alguma desaceleração, ainda espera um crescimento económico robusto, caracterizado por um pleno emprego e uma considerável travagem da inflação. A evolução da política monetária ao longo do ano tentará materializar este otimismo da Fed, mas existe o risco de um abrandamento económico face a esta postura mais ‘hawkish’.

A crescente política de descarbonização dita a nova economia no pós-pandemia, apelidada por alguns de ‘decarbonomics’, e à medida que os receios da inflação continuam, um dos principais dilemas é encontrar a melhor forma de suavizar a volatilidade crescente da transição energética. É crucial resolver as lacunas entre os combustíveis fósseis e a energia limpa, ou a ‘greenflation’ será uma realidade. A agenda global de políticas verdes para 2022 (EUA, UE, Ásia, América Latina) está repleta de eventos importantes definidos para alimentar as tendências de crescimento ESG.

Na Europa, a inflação em 2022 dependerá em grande medida dos custos da energia. A natureza intermitente das energias renováveis, tais como a eólica, a solar e a hídrica, não responde cabalmente às constantes necessidades energéticas da economia, impulsionando os custos da eletricidade e, consequentemente, a inflação de preços no consumidor europeu. A Comissão Europeia procura catalogar a nova geração nuclear como energia ‘verde’, mas os resultados desta decisão só serão observados no longo prazo. Quanto ao crescimento económico, o Banco Central Europeu estima um aumento de 6% em 2021 e de 4,5% em 2022.   
 

PMR 12 fevereiro 2022 In VE



Nem ‘efeito janeiro’, nem ‘barómetro janeiro’ em 2022?

                          


O ‘efeito janeiro’ é percebido como um movimento de alta nos preços das ações durante o mês de janeiro. Um dos principiais motivos para essa subida, no primeiro mês do ano, poderia ser uma reação dos investidores às previsões dos analistas, geralmente positivas decorrente da tendência de alta do PIB no longo prazo. Apesar desse comportamento do mercado ter sido identificado no passado, o ‘efeito janeiro’ parece ter perdido importância nos últimos anos, à medida que a sua presença se torna gradualmente conhecida e os investidores se ajustam mais rapidamente a esse potencial evento, nomeadamente quando as previsões macroeconómicas para o ano são positivas. Os investidores antecipam esse efeito de subida e realizam compras em novembro e dezembro.

Nos EUA, a subida em janeiro tem sido muitas vezes justificada pelo regresso dos investidores aos mercados no início do ano, depois das vendas em dezembro por motivos de eficiência fiscal, alienando os títulos com prejuízos para realizar menos-valias e compensar as mais-valias noutros títulos. Mas também nos EUA o ‘efeito janeiro’ tem sido paulatinamente menos importante. A partir de 2021, mais pessoas têm planos poupança reforma protegidos por impostos e, portanto, não têm motivos para vender no final do ano por motivos fiscais.

As perspetivas para 2022 de contração monetária por parte de muitos bancos centrais, nomeadamente a subida de taxas de juro pela Reserva Federal dos EUA (Fed), têm penalizado os mercados em janeiro e o S&P 500 desvaloriza cerca de 8,6% desde o início do ano, sendo necessário recuar a 2009 para se encontrar uma queda idêntica. Esta semana, o FMI reviu em baixa o crescimento económico mundial para 2022 de 4,9% para 4,4%, designadamente dos EUA, da China e da Alemanha, e manteve perspetivas pouco animadoras para a inflação que estima de 5,4% nos EUA, 4,4% na Zona Euro e 2,2% na China.
Sendo assim, as quedas dos mercados em janeiro estão ajustadas às perspetivas de subida de taxas de juro e à visão menos otimista do FMI, bem como ao agravamento das tensões geopolíticas no leste europeu entre a Rússia e a Ucrânia. Por conseguinte, há uma outra teoria conhecida como ‘barómetro janeiro’, que sugere que os retornos do mercado de ações durante o primeiro mês do ano preveem os do resto do ano. Se o mercado de ações subir em janeiro, mais ganhos podem estar reservados para os restantes 11 meses, e vice-versa. Desde 1950, o chamado ‘barómetro janeiro’ acertou 84,5% das vezes, segundo o Stock Trader's Almanac. O ‘barómetro janeiro’ é predominantemente um fenómeno dos EUA associado ao índice S&P 500.

Nos últimos dois anos, os meses de janeiro foram negativos, mas o S&P 500 valorizou 16,4% e 28,3% em 2020 e 2021, respetivamente. É certo que foram anos atípicos, mas todos os anos têm mais ou menos incertezas. Em 2009, janeiro desvalorizou 8,6% e o ano foi positivo em 35%, ou seja, nem o ‘efeito janeiro’, nem a teoria do ‘barómetro janeiro’ prevaleceram. O mesmo aconteceu em 1992 (após recessão económica) em 2003 (recuperação dos mercados do ‘bearmarket’) bem como em 2005, em 2009 e 2010 (após a grande recessão) e em 2014, 2015 e 2016. Uma desaceleração da inflação nos EUA em 2022 e consequente abrandamento da política monetária contracionista da Fed, poderia mitigar as recentes perdas em bolsa no mês de janeiro, e 2022 seria mais um ano em que não se materializaria nem ‘efeito janeiro’, nem ‘barómetro janeiro’, tal como em 40% dos anos desde 2009.

PMR 27 janeiro 2022 VE



    




Curva de Philips penaliza mercados



A Reserva Federal dos EUA (Fed), para alcançar o pleno emprego, abriu mão da inflação. Agora procura emendar e adota uma postura de ‘tolerância zero’ perante a alta dos preços. 

A pandemia de covid-19 impulsionou a taxa de desemprego dos EUA para o máximo dos últimos 80 anos, nos 14,7%. Mas, nos últimos dois anos, a Fed manteve-se firme na melhoria do mercado de trabalho. A taxa de desemprego baixou para os 3,9% em dezembro, mas para alcançar esse objetivo a Fed abriu mão da inflação em agosto de 2020. Nessa altura, Jerome Powell anunciou uma nova abordagem à inflação, e a nova postura passaria de um objetivo da inflação nos 2% para uma inflação média nos 2%, o que permitiu a subida da inflação bastante acima da meta dos 2% sem qualquer adoção de uma postura contracionista da política monetária, facto que ajudou a impulsionar os mercados acionistas. Agora que o pleno emprego foi alcançado, está na hora da Fed trabalhar na estabilidade de preços e trazer a inflação novamente para os 2%, facto que poderá penalizar os mercados acionistas porque implica uma política monetária contracionista, através de subida de taxas de juro e potencial diminuição do balanço do banco central dos EUA.

Na curva de Philips, os ajustes que procuram a melhoria do mercado de trabalho tendem a ser benéficos para os mercados acionistas, porque a política monetária é expansionista. Mas quando se procura ajustar a inflação, a postura da política monetária é contracionista e tendencialmente penalizadora dos mercados acionistas. No entanto, uma desaceleração da inflação impulsionada pela melhoria das cadeias de abastecimentos, descida dos preços da energia e contenção salarial poderá realizar boa parte do trabalho da Fed e travar as subidas de taxas de juro e manter um quadro otimista para o crescimento económico. Uma forte aceleração da postura hawkish da Fed, no limite poderia redundar numa acentuada desaceleração económica, ou mesmo recessão, e novamente subida da taxa de desemprego como resultado de uma estabilidade de preços. É a curva de Philips a funcionar…    

“É nosso trabalho reduzir a taxa de inflação para 2%” referiu Powell na quarta-feira, enfatizando várias vezes que o “mercado de trabalho está forte”. A Fed sinalizou que deverá, muito provavelmente, aumentar as taxas de juros em março e reafirmou os planos de encerrar as suas compras de títulos naquele mês. Salientou que há probabilidades de iniciar uma redução do seu balanço ainda este ano. A Goldman Sachs antecipa que a Fed comece a cortar o balanço em 100 mil milhões de dólares por mês a partir de julho. Os futuros negociados na Bolsa de Derivados de Chicago indiciam agora cinco subidas de taxas de juro em 2022, mais uma que momentos antes das declarações de Jerome Powell, após a reunião de dois dias. É esperado que o ano termine com os juros de referência da Fed, as ‘Fed Fund Rates’, no intervalo de [1,25% a 1,50%].  

Na semana, a volatilidade tem imperado. De realçar os máximos desde 2014 do barril de petróleo. Em consequência das crescentes preocupações geopolíticas em torno de um potencial conflito militar na Ucrânia, as ações de petróleo e gás valorizaram 4%, registando, na quarta-feira, o melhor dia desde novembro de 2020.
Farmacêuticas - EUA
As vendas de testes de diagnóstico para a Covid-19 impulsionaram o lucro e vendas da Abbott que reportou lucro no 4º trimestre de US$ 1,98 mil milhões e receitas de quase US$ 11,5 mil milhões, um aumento de 7%. A diversificação do portfólio de dispositivos médicos e outros produtos de saúde da empresa também cresceram.
Lucro líquido da Johnson & Johnson mais do que duplica no 4º trimestre. A farmacêutica estima receita de US$ 3 mil milhões a US$ 3,5 mil milhões da sua vacina covid-19 em 2022. Os resultados refletem aumento nas vendas nos Estados Unidos e internacionais, com destaque para o desempenho do setor farmacêutico, que reportou vendas de US$ 14,288 mil milhões no trimestre, alta de 16,5% numa base anual. As vendas da vacina da Janssen contra a covid-19 contribuíram para o crescimento.


Telecomunicações - EUA
A Comcast adicionou 212.000 assinantes de banda larga de outubro a dezembro, uma queda de 60,6% em relação aos 558.000 ganhos um ano antes. Os negócios de banda larga da Comcast aceleraram em 2020, à medida que mais pessoas estudavam e trabalhavam remotamente, mas esse crescimento desacelerou durante o segundo semestre de 2021.
A Verizon entra em 2022 com adoção significativa do 5G e impulso de banda larga fixa sem fio. A empresa cobre mais de 95 milhões de pessoas nos EUA com 5G Ultra Wideband.
A unidade WarnerMedia da AT&T Inc divulgou um sólido crescimento de receita no quarto trimestre, ajudado por novos clientes para o seu serviço de streaming HBO Max. Os serviços HBO e HBO Max ganharam 4,3 milhões de assinantes no último trimestre e 13,1 milhões no ano. O número de clientes atingiu 73,8 milhões.

Banca - EUA
A empresa de cartões de crédito American Express referiu que os seus lucros do quarto trimestre subiram 20% em relação ao ano anterior, com os consumidores a gastarem níveis recordes de dinheiro durante a época festiva no final do ano impulsionados pelos cartões de crédito personalizados da empresa.
A Mastercard divulgou um lucro trimestral acima das estimativas dos analistas, beneficiada por aumento no consumo nos Estados Unidos e crescimento em mercados internacionais após um aumento nas viagens internacionais que impulsionaram as transações através dos seus cartões. A Mastercard foi impulsionada por uma subida no turismo.
Lucro no quarto trimestre da Capital One Financial cai, mas a receita aumenta impulsionada pelos robustos resultados de crédito. A empresa de serviços financeiros teve um lucro de US$ 2,43 mil milhões, em comparação com US$ 2,57 mil milhões um ano antes.



Criptografia quântica, ‘blockchain’ e ‘cloud’

A crescente necessidade de armazenamento de dados informáticos requer mais meios de ‘hardware’ para guardarmos aquilo que nos é essencial. A computação em nuvem ou ‘cloud’ possibilita armazenar dados informáticos remotamente, em vez de os mantermos no disco rígido do nosso computador ou dispositivo de armazenamento local, permitindo o seu acesso em qualquer parte do mundo desde que haja eletricidade e internet. Os serviços de computação em nuvem fornecem uma série de funções, tais como o acesso ao ‘e-mail’, armazenamento, ‘backup’ e recuperação de dados, aplicações, jogos, músicas e vídeos. Graças aos serviços de computação em nuvem, podemos ter acesso ao nosso ‘e-mail’ em qualquer computador a nível global. Podemos armazenar arquivos no Google Drive, por exemplo, garantindo que esses dados estão sempre disponíveis em caso de falha do disco rígido do nosso computador. Ajuda a economizar custos de capital substanciais, pois não é preciso nenhum investimento físico em ‘hardware’, nem de técnicos de tecnologias de informação (TI) habilitados na manutenção do ‘hardware’, porque a compra e gestão de equipamentos é feita pelo fornecedor de serviços em nuvem.

O 5G possibilitará o acesso a uma maior quantidade de dados, com uma latência quase impercetível, que permitirá um rápido acesso aos dados armazenados em nuvem. A conexão de vários objetos físicos, ou seja, a Internet das coisas (IoT) e a inteligência artificial (AI) serão exponenciadas pelo 5G e pela ‘cloud’, e o mundo estará cada vez mais nas nossas mãos, ou seja, no nosso telemóvel.
 

O armazenamento de dados é um mercado em franca expansão e as nossas crescentes necessidades terão um custo num futuro próximo. Muitas empresas há muito que pagam pela utilização dos serviço em nuvem. Os maiores fornecedores são nomes conhecidos como Azure e AWS, da Microsoft e da Amazon, respetivamente. Por exemplo, a maior parte dos portugueses têm uma conta gratuita na Google, que lhes permite o acesso ao seu correio eletrónico Gmail, ao armazenamento no Google Drive e utilização do Google Fotos, e no total estão disponíveis até 15 Gigabites gratuitamente. Mais armazenamento terá que ser pago.

Muito provavelmente, a nuvem terá um custo num futuro próximo para a população em geral por uma necessidade que gradualmente se torna básica, como a conta mensal da eletricidade, da água e das telecomunicações.

Ora, uma necessidade básica que contém dados muitas vezes confidenciais requer que a computação em nuvem tenha uma excelente e segura conexão à internet. Governos centrais e setor bancário procuram as melhores soluções em nuvem e as principais empresas de ‘cloud’ tentam oferecer gradualmente melhores respostas a empresas, setor financeiro e administrações públicas em que a confidencialidade é fundamental.

Os serviços em nuvem baseados em ‘blockchain’ podem ser a solução para muitos problemas associados à nossa privacidade e à segurança dos nossos arquivos? Os vários recursos da ‘blockchain’ como descentralização, transparência e segurança tornam esta tecnologia importante. Os entusiastas da ‘blockchain’ afirmam que esta tecnologia pode assegurar maior privacidade e segurança à ‘Cloud of Things’ (interligação entre a IoT e a computação em nuvem, a ‘nuvem das coisas’) e afastar, em parte, aqueles terceiros que fornecem os serviços de nuvem e centralizam os dados. A ‘blockchain’ procura a descentralização do armazenamento dos dados em ‘nuvem’. A integração da ‘blockchain’ e das ‘Cloud of Things’, a denominada BCoT, poderá estar menos vulnerável aos ataques cibernéticos.

A criptografia quântica ganha também preponderância como resposta à segurança do armazenamento de dados em nuvem, perante as crescentes ameaças e riscos de segurança cibernética, como violação de dados, devido à proliferação da Internet, dispositivos conectados e serviços online. A criptografia quântica é uma tecnologia que usa a física quântica para proteger a distribuição de chaves de criptografia simétricas e funciona através do envio de fotões, que são “partículas quânticas” de luz, através de um ‘link’ ótico. 

PMR 4 fevereiro 2022 In VE


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