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quinta-feira, 1 de abril de 2021

A Bitcoin poderá vir a ser moeda?

Em termos económicos, moeda é tudo aquilo que é aceite nas transações de bens e serviços e pagamento de dívidas, ou seja, de acordo com esta definição, qualquer coisa pode ser moeda, desde que aceite como forma de pagamento e seja capaz de servir cabalmente de meio de troca. Além disso, a moeda desempenha a função de unidade de conta, isto é, fornece um referencial para os preços dos bens e serviços. Por último, a moeda deve manter o seu poder de compra ao longo do tempo, ou seja, cumprir a função de reserva de valor.

A Bitcoin (BTC) é garantida pela fidúcia nos seus algoritmos e gradualmente pode ser trocada por bens e serviços. Cumpre muitos requisitos de reserva de valor, mas no que concerne à estabilidade as dúvidas persistem. A volatilidade da BTC poderá ser invocada por muitos como um motivo pela qual ela não é, atualmente, uma cabal reserva de valor. Também a reserva de valor da BTC depende da sua utilidade como meio de troca. Para que algo seja usado como reserva de valor precisa de ter algum valor intrínseco e se a BTC não tiver sucesso como meio de troca, não terá utilidade prática e, portanto, não terá qualquer valor intrínseco e não será atrativa como reserva de valor. Outro problema é o seu 'status' como unidade de conta, nem a maioria das empresas, nem nenhum país, a aceitou como pagamento.
 
As moedas hegemónicas ao longo da História têm seis atributos principais: a escassez, a divisibilidade, a utilidade, o transporte, a durabilidade e a falsificação. A BTC é escassa, é divisível em 100 milhões de Satoshis, mas tem que provar a sua utilidade e apesar do fácil transporte há dificuldades no armazenamento de criptomoedas e poucos espaços de troca e, nos últimos anos, as trocas foram afetadas por 'hacks', roubos e fraudes. Tem durabilidade, mas a falsificação estará no futuro sujeita à capacidade dos computadores quânticos quebrarem a criptografia. Atualmente, há quem veja vulnerabilidade na atuação dos desenvolvedores, na centralização da mineração em 4 ou 5 'pools' e no crescente poder de validação das transações. 

Atualmente, a BTC cumpre os três principais requisitos de moeda? Talvez cumpra mais do que algumas moedas dos países emergentes. Cumpre mais do que o bolívar venezuelano, mas fica muito aquém das principais moedas mundiais: dólar, euro, iene, renmimbi, libra e franco suíço. Todavia, os principais bancos centrais mundiais manifestam receios e estudam o lançamento de CBDC.

A BTC é uma moeda digital sem valor intrínseco tangível. Um Picasso, um Van Gogh ou vinhos raros têm valor, mais subjetivo do que objetivo. As moedas fiduciárias são já digitais entre as populações jovens das principais cidades mundiais onde quase tudo se paga com 'smartphone', 'homebanking' e NFC.  

Na autenticação de uma transação de BTC, cada utilizador tem a sua própria chave privada ('password') e uma chave pública que todos podem ver ('username'). Uma vez acordada uma transação entre utilizadores, antes de ser adicionada ao último bloco da cadeia, ela precisa de ser validada pelo consenso da maioria dos 'nós' (computadores na rede), sobretudo 'nós completos' que têm acesso a toda a rede e que concordam se a transação é válida. Os 'nós de mineração' possuem 'potentes computadores' (ASIC) que resolvem um complexo algoritmo e calculam o 'hash' correto (um código e elo de ligação entre blocos), necessário para adicionar um novo bloco ao último da rede, validado pelos próprios mineradores e pelos restantes 'nós' da rede. Pelo seu trabalho, a 'prova de esforço', os 'mineradores' são recompensados
com BTC e comissões. Uma transação pode ser validada e adicionada ao último bloco minerado (em média a cada 10 minutos) se pagar uma comissão elevada aos 'mineradores' ou demorar dias. O poder de mineração concentrou-se nas mãos de alguns e há quem defenda uma validação pela 'prova de participação'. Os participantes, por possuírem parte da criptomoeda, têm interesse em verificar e validar transações, têm computadores básicos, menos gastos de energia, menor pegada ambiental, mas dão menor segurança à rede…


Paulo Monteiro Rosa, In Vida Económica, 1 de abril de 2021




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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.