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sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

2022: mais uma odisseia à volta do sol

Há um ano o otimismo, impulsionado pelas vacinas, reinava entre os investidores, mas poucos previam a robustez das valorizações que empurraram as ações europeias e norte-americanas para máximos históricos consecutivos ao longo de 2021. Poucos antecipavam as sucessivas valorizações das criptomoedas, impulsionadas nomeadamente pelo Ethereum e os NFTs (Non Tangible Token) que surgiram à sua volta. Marcaram também 2021, a desaceleração chinesa e a crise de liquidez que tem afetado os seus promotores imobiliários, bem como a multiplicação histórica de SPACs (Special Purpose Acquisition Company) e a valorização das fabricantes de veículos elétricos.

A evolução da pandemia, e tudo o que a rodeia, tem sido o principal motor do mercado há quase dois anos, causando um ‘selloff’ histórico em março de 2020 e, em seguida, uma recuperação sustentada pelos programas de vacinação que permitiram a gradual reabertura da economia. Atualmente, as preocupações pandémicas regressaram sob a capa da nova variante ómicron. É provável que o novo coronavírus SARS-CoV-2, responsável pela doença Covid-19, se torne secundário no próximo ano, à medida que o aparecimento de comprimidos antivirais orais da Pfizer e da Merck aumentem a capacidade para superar a infeção. Talvez o vírus se torne um incómodo endémico, mas controlável. Ainda assim, se há algo que a pandemia nos ensinou é que estratégia no mercado acionista é uma coisa e a epidemiologia é outra. Mesmo que o vírus desaparecesse por completo, continuaria provavelmente a definir o rumo dos mercados acionistas, pela simples razão que deixaria de existir racional para continuarem os estímulos orçamentais e monetários, dois dos principais motores da exuberância deste ano, espelhada na valorização dos mercados acionistas e dos criptoativos, e aumento de SPACs.

A elevada inflação este ano tem sido gerível porque os crescentes lucros provaram que as empresas conseguem repassar os custos mais elevados (desde matérias-primas à mão de obra) para um consumidor que continua disposto a gastar. Se as pressões inflacionistas forem gradualmente diminuindo nos próximos meses, nomeadamente depois da primavera, talvez o mercado acionista não reaja em forte alta, porque muito provavelmente as ações já descontam esse potencial fenómeno de alívio de inflação. Mais ou menos acelerado, o ‘tapering’ da Reserva Federal dos EUA e as três subidas de taxas de juro da Fed previstas pelos futuros da bolsa de Chicago, poderão abrandar a inflação. Todavia, se as pressões sobre os preços persistirem, ou mesmo se intensificarem, o cenário passa de gerível e benéfico a tortuoso e indesejável no que concerne às ações. Estas são apenas uma boa proteção contra a inflação temporária, refletida em desequilíbrios pontuais entre a oferta e a procura. Um intervalo de inflação transitória entre 3% a 5% é administrável. Mas uma inflação prolongada penalizaria os lucros das empresas e resultaria numa estagflação, espelhada numa inflação estrutural em que a produção não conseguiria responder à procura. A inflação elevada também pressionaria os bancos centrais a apertar consideravelmente a sua política monetária, aumentando assim os custos dos empréstimos para países muitos endividados, como Itália. O impacto da redução de compras do BCE de dívida periférica europeia está talvez entre os maiores riscos observáveis no próximo ano, mas outros cisnes negros podem sempre aparecer.

A transição energética poderá tornar a inflação estruturalmente mais alta, mas a descarbonização cria também oportunidades de investimento, e os carros elétricos são o exemplo mais conhecido. O partido alemão ‘os verdes’ suporta a atual coligação de governo germânico e poderá impulsionar ainda mais os investimentos ‘verdes’. Entre as restrições chinesas e as políticas de Xi Jinping também, com certeza, existirão oportunidades de investimento, como seja o renovável.

O ‘rebranding’ do Facebook chamou a atenção para um espaço crescente de atividade económica fora do mundo físico. Os ‘metaversos’, os mundos digitais são realidades crescentes onde as pessoas podem socializar e fazer negócios. Todavia, os potenciais cisnes negros no próximo ano podem ir das tensões em Taiwan a uma assinalável crise económica da Turquia após a queda da lira, ou do voto presidencial francês às eleições de meio de mandato nos EUA.

Paulo Monteiro Rosa, In Vida Económica, 10 de dezembro 2021




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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.