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sexta-feira, 6 de maio de 2022

Mundo mais verde tem custos, mas compensa

Na prossecução da transição energética, tem-se intensificado o debate sobre os recursos minerais, principalmente os metais industriais, necessários às tecnologias de geração de energia limpa, nomeadamente as ditas energias renováveis, e sobretudo se o fornecimento desses mesmos minerais pode representar uma ameaça à transição para a energia limpa. 

A crescente utilização de energias renováveis requer um aumento substancial na produção de painéis solares, turbinas eólicas, baterias, veículos elétricos, equipamentos de eletrólise da água para produção de hidrogénio, entre outros. E de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), essas tecnologias são muito mais intensivas em minerais do que as tecnologias equivalentes de combustíveis fósseis. Por exemplo, um carro elétrico necessita, em média, seis vezes mais recursos minerais do que um carro convencional. E uma central eólica terrestre consome nove vezes mais recursos minerais do que uma central a gás natural com a mesma capacidade.

Na mineração dos metais industriais ocorre emissão significativa de gases de efeito estufa, sobretudo dióxido de carbono (CO2), e neste processo há utilização intensiva de energia. Impactos ambientais são visíveis, desde a poluição do ar e da água, contaminação dos solos devido aos resíduos, perturbação social, e perda de biodiversidade. Todavia, essa contribuição negativa para as emissões não nega as vantagens climáticas das tecnologias de energia limpa quando consideradas em conjunto com as emissões do ciclo de vida completo de outras tecnologias. As emissões totais de gases de efeito de estufa no ciclo de vida dos veículos elétricos são, em média, cerca de metade das emissões dos carros com motor a combustão interna, e com potencial para uma redução adicional de 25% quando utilizada eletricidade de baixo carbono proveniente das renováveis.  

As tecnologias subjacentes às energias renováveis – de turbinas eólicas e painéis solares aos veículos elétricos e ao armazenamento de energia em baterias – exigem um vasto conjunto de minerais e metais industriais, desde o cobre, o cobalto, o níquel, o lítio até ao grafite, crómio, zinco e alumínio. Assim sendo, e no intuito de poupar o planeta, a maximização do ‘reciclar’ da política dos 3 Rs deve-se sobrepor, sempre que possível, aos acréscimos de mineração.

Talvez a maior poluição na extração de minerais seja a dos cursos de água. Por exemplo, o níquel, o lítio e o cobre poluem mais a água do que o cobalto. E o lítio é o que utiliza mais intensamente água. Os tipos de recursos minerais utilizados variam de acordo com a tecnologia. Lítio, níquel, cobalto, manganês e grafite são cruciais para o desempenho e longevidade das baterias. As redes elétricas precisam de uma enorme quantidade de cobre e alumínio, sendo o cobre transversal a todas as tecnologias relacionadas com eletricidade, fazendo jus à designação de principal metal industrial a nível mundial. Na produção de veículos elétricos, o cobre e o grafite representam cerca de 60% dos recursos minerais utilizados, o níquel à volta de 20% e o lítio responde por 4%, de acordo com a AIE. Nas turbinas eólicas, o cobre responde por mais de metade e o zinco um terço. No solar é quase 60% de silício e mais de 40% de cobre. Na energia nuclear, o cobre e o crómio são os metais industriais mais utilizados. 

Nos próximos anos, o Lítio, o cobalto e o níquel deverão ter um acréscimo de procura superior ao cobre, este último há muito que é largamente utilizado na economia. As maiores necessidades de sempre de lítio e de cobalto nascem com a atual transição energética. Sendo assim, o preço do lítio quadruplicou nos últimos anos e a cotação do níquel triplicou nos últimos dois anos. Enquanto isso, o preço do cobre, apesar de cotar em máximos históricos, está ligeiramente acima dos anteriores máximos de 2011 e duplicou de preço nos últimos dois anos.

Em suma, atualmente os combustíveis fósseis representam 84% da matriz energética mundial, por isso um processo de descarbonização nas próximas décadas só poderá ser exequível com um elevado investimento nos metais industriais e recursos minerais indispensáveis à produção de turbinas eólicas, painéis solares, pequenos reatores nucleares modulares (SMR) e carros elétricos.

 


PMR In VE 6 maio 2022





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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.