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sexta-feira, 2 de setembro de 2022

“A inflação é a doença e a recessão é a cura”

                                          


“A inflação é a doença e a recessão é a cura”. Explicitamente não foram estas as palavras proferidas por Jerome Powell em Jackson Hole na semana passada, mas na realidade foi esta a mensagem que ficou implícita nas palavras do presidente da Reserva Federal dos EUA (Fed) no simpósio no Wyoming. A prioridade é a estabilidade de preços e uma potencial recessão poderá ser um mal necessário na prossecução desse objetivo de abrandamento da inflação, apesar dos seus efeitos secundários adversos.

Apesar de a Fed ter aumentado as suas taxas de juro de referência em 225 pontos base nas suas últimas quatro reuniões, e ser aguardada mais uma alta de 75 pontos no próximo dia 21 de setembro, de acordo com os futuros negociados na bolsa de derivados de Chicago e com uma possibilidade de 73%, a liquidez no mercado ainda permanece relativamente favorável para a  inflação. Provavelmente o banco central dos EUA teria de intensificar a sua retirada de liquidez do mercado para mitigar a inflação mais elevada dos últimos 50 anos e alcançar a estabilidade de preços. A redução do balanço da Fed, iniciada no dia 1 de junho no montante mensal de 47,5 mil milhões de dólares, agora duplicada para 95 mil milhões no passado dia 1 de setembro, ainda não afetou visivelmente a liquidez nos mercado financeiros. Todavia, a tarefa da Fed é hercúlea. Entre o excesso de liquidez, nomeadamente ditado pelo suporte à crise pandémica, e a escassez de liquidez que poderá surgir nos próximos trimestres, os constantes reequilíbrios no fio da navalha requerem mestria por parte da Fed.

A queda de 15% da base monetária do banco central dos EUA desde os máximos históricos de 6,5 biliões de dólares em dezembro do ano passado, representa uma descida na liquidez, acompanhada pela queda dos mercados acionistas, sobretudo do Nasdaq 100 que desvalorizou mais de 30% dos máximos históricos do final de novembro a meados de junho. No entanto, nos últimos dois meses e meio, a queda da base monetária do banco central dos EUA não só abrandou, como subiu mesmo 85 mil milhões de dólares, para 5,582 biliões em 24 de agosto, mantendo liquidez nos mercados. O mesmo havia acontecido em março e esse movimento tinha sido acompanhado por uma recuperação das ações norte-americanas.

Também o atual mercado de trabalho resiliente poderá reforçar a posição mais austera da Fed no combate à inflação. Em boa verdade, há um regresso do “trade-off” entre inflação e desemprego especificado na curva de Philips. Um mercado de trabalho resiliente, uma taxa de desemprego de 3,5%, a mais baixa dos últimos 50 anos, a par de uma taxa de inflação à volta dos 9%, a mais elevada dos últimos 50 anos, autoriza a Fed a intensificar ainda mais a sua postura contracionista, reforçando uma retirada mais rápida da liquidez injetada nos mercados para mitigar a crise financeira ditada pela pandemia. As ofertas de emprego nos EUA (JOLTs) aumentaram em julho, corroborando ainda mais a postura do banco central dos EUA. Havia cerca de dois empregos disponíveis por candidato em julho, face a 1,8 em junho. A Fed vê as ofertas de emprego quase recordes como um potencial impulso para aumentos salariais, o que é considerado um acelerador da inflação. A atual taxa de desemprego está muito abaixo da NAIRU (Non-Accelerating Inflation Rate of Unemployment), ou seja, da taxa de desemprego que não acelera a inflação, justificando e legitimando cada vez mais uma enérgica política monetária contracionista pela Fed. O Gabinete de Orçamento do Congresso refere que a NAIRU nos EUA foi de 4,4% no segundo trimestre.

PMR In VE 31 agosto 2022



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.