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sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Portugal à frente do pelotão


 

No final de junho, a dívida pública portuguesa face ao PIB situava-se nos 121,2%. As classificações do risco de crédito ("Credit Rating") da República Portuguesa atribuídas pelas três principais casas de investimento a nível mundial, as norte-americanas Moodys, Fitch, Standard&Poors são respetivamente de "Baa3", "BBB" e "BBB-". A classificação dada pela canadiana DBRS é de "BBBHu", e durante algum tempo suportou e permitiu o financiamento da República por parte do BCE. Estas atribuições, apesar de se situarem num nível de investimento ("Investment Grade"), estão ligeiramente acima do patamar de investimento de especulativo (as denominadas "High Yield", de risco elevado).

As classificações da Grécia quedamse entre o "B+" e "BB-'1, as italianas nos "BBB" e as espanholas nos "A".

No entanto, atualmente, Portugal é o país que merece maior confiança do mercado, no seio dos países denominados como PIGS há dez anos, enquanto Espanha continua a ser penalizada pelo crescente impasse político e Itália pelos diferendos com a União Europeia quanto às metas do défice orçamental e pelo elevado endividamento público.

Porém, o BCE, aparentemente, tem operado um pequeno "milagre" económico em Portugal, com o risco das obrigações do tesouro nacional, espelhado nas rentabilidades (ou Yields), em níveis extremamente baixos. A situação kafkiana estende-se à economia grega e aos seus títulos soberanos que têm sido bafejados pela política monetária energicamente expansionista do BCE, apesar de a dívida pública helénica se encontrar em níveis historicamente altos, nos 181% do PIB nominal, todavia o risco percecionado pelo mercado é hoje idêntico ao da República Italiana.'

Desde 7 de outubro, a rentabilidade da dívida pública portuguesa a dez anos é mais baixa que a congénere espanhola.

Contudo, grande parte das empresas portuguesas remunera generosamente os acionistas com rentabilidades entre os 5% e os 10%, quando as taxas de juro dos depósitos bancários, do mercado monetário ("Euribor") ou dos mercados de capitais (rentabilidades das OT, Obrigações do Tesouro) estão perto de 0% e nalguns casos negativas, refletindo a desconfiança do mercado acionista português, nomeadamente o índice PSI20.

É normal os ativos financeiros "equity" gerarem maiores retornos que um investimento em renda fixa, porque o risco dos capitais próprios é significativamente mais elevado, mas provavelmente não se justifica uma diferença tão grande.

A prudência do mercado acionista, através do pagamento de um prémio bastante superior, poderá sinalizar abrandamento da economia portuguesa, e poderá ser olhada com preocupação. O bom comportamento do mercado obrigacionista, enviesado pela atuação do BCE, não ceve ser tido em conta.

Desde a criação do euro em 1999 até à crise financeira de 2008, os spreads entre as rentabilidades das obrigações do tesouro dos países setentrionais e dos países meridionais mantiveramse muito próximos, e podemos adiantar que Implicitamente existiram "eurobonds". A partir de 2015, início do "Quantitative Easing" do BCE, a convergência regressou... 

PAULO ROSA Economista/sénior trader do Banco Carregosa 


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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.