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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Vacina retira brilho ao ouro

A incerteza é o principal fator que influencia a cotação do ouro, considerando estável a produção e o consumo desta matéria-prima. Um abrandamento da atividade económica gera incerteza e impele as autoridades monetárias à criação de mais moeda fiduciária para estimular novamente o crescimento, resultando em dúvidas crescentes quanto à credibilidade da moeda perante as possibilidades de desvalorização e aparecimento de inflação de preços. Crescente incerteza beneficia o ouro como um ativo de refúgio de excelência. A evolução da cotação do ouro está correlacionada negativamente com a atividade económica sustentada, assumindo como estáveis as decisões políticas, e as atuais perspetivas de recuperação económica significativa, depois da recessão em 2020 ditada pela pandemia, alicerçadas no sucesso da vacinação e na erradicação da pandemia. A vacina retira brilho ao ouro, mas a incerteza quanto à evolução da economia cria terreno fértil para a boa performance do metal amarelo. 

A partir da primavera, o considerável aumento do balanço dos bancos centrais, nomeadamente da Reserva Federal norte-americana (FED), e os confinamentos ditados pela pandemia aceleraram o desempenho positivo do ouro o ano passado. O ouro não gera rendibilidade e as taxas de juros do dólar também, atualmente, com a descida da taxa de referência da FED para níveis de quase zero e as rentabilidades das obrigações do tesouro norte-americano a caíram para níveis históricos durante o confinamento da primavera passada. De agosto a dezembro há uma recuperação gradual da yield a 10 anos das treasuries de 0,50% para 0,90%. Nas últimas semanas a subida da yield tem sido mais acentuada e no dia 12 de janeiro atingiu 1,14%, e pressiona o ouro em baixa. Há uma recuperação das taxas de juro reais do dólar no espaço de 15 dias de 20 pontos base de -1,1% para -0,9%. A gradual vacinação da população melhora as perspetivas de crescimento e da retoma económica, após a pandemia, e retira brilho ao ouro e a outros metais preciosos e impulsiona a procura de metais industriais como o alumínio e o cobre, este o mais importante metal da indústria, em máximos de 2013 e estimulado pela considerável procura chinesa que responde por mais de metade das importações mundiais. O rácio entre o cobre e o ouro tem subido há mais de meio ano, refletindo uma crescente expetativa de recuperação económica, espelhada na melhor performance do principal metal industrial, em detrimento do mais relevante metal precioso, de 3,5 para 4,25 e, nas últimas semanas, tem sido acompanhado pela subida mais significativa da rentabilidade da dívida pública dos EUA a 10 anos, um padrão habitual. Se as atuais perspetivas de crescimento se materializarem sustentadamente e sem inflação indesejável, o desempenho do ouro ficará, provavelmente, aquém do verificado o ano passado. O segundo metal precioso mais importante em termos históricos, a prata, muito utilizado em termos industriais, poderá ser penalizado pela costela preciosa, mas beneficiado pelo lado industrial. A relação entre o ouro e a prata atingiu o ano passado níveis históricos acima dos 100 e, atualmente, a prata já recuperou, beneficiando da sua característica mais industrial, e o rácio desceu para cerca de 70, também em resultado do pior desempenho do ouro pelo seu cariz mais precioso e menos industrial. O mínimo deste rácio é à volta de 10. 
 
O último período de significativa valorização do ouro, cerca de 7 vezes dos 250 dólares a onça para 1750 dólares, de 2001 a 2010 coincidiu, em parte, com a desvalorização da moeda norte-americana seguindo-se depois uma época de depreciação do ouro, durante quase toda a segunda década do século XXI, conjugada com um período de considerável robustez do dólar. Ou seja, como o ouro é cotado na moeda norte-americana é expetável uma correlação inversa, mais ou menos visível e de reequilíbrio constante, entre a variação desta unidade de conta e o preço do metal amarelo. Os crescentes défices gémeos norte-americanos, da balança corrente em máximos de 2006 e das contas públicas em níveis históricos nos 130% do PIB nominal, espelham uma potencial vulnerabilidade do dólar.

Vida Económica 15 de janeiro de 2021 Paulo Rosa 



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.