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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Maior inclinação da curva de rendimentos nos EUA

Esta semana, a rentabilidade dos títulos do tesouro norte-americanos a 10 anos manteve a subida consecutiva iniciada há seis meses, desde os níveis de 0.5% a 4 de agosto, para o atual valor de 1.329%, o mais elevado desde 27 de fevereiro do ano passado, impulsionada pelos progressos na aprovação de um pacote de estímulos orçamentais nos EUA e o aumento das expetativas de inflação à medida que as temperaturas negativas restringem a produção de petróleo e gás no maior centro de energia dos EUA no Texas. Ambos os fatores penalizam as cotações dos títulos do tesouro e impulsionam as respetivas “yields” que têm uma evolução inversa. Na última semana este comportamento acelerou e o rendimento dos títulos a 10 anos passou de 1.07% para 1.32% perante a expetativa de inflação.

 Devido à crise sanitária, à recessão económica e ao distanciamento social ditado pela pandemia, as famílias foram acumulando poupanças nos últimos 9 meses, as contas bancárias cresceram substancialmente com os apoios estatais e cheques de estímulos e, atualmente, à medida que a vacinação prossegue, a primavera se aproxima e a pandemia abranda, os investidores esperam que a procura aumente consideravelmente e impulsione a inflação. Acrescem os receios inflacionistas da implementação de um salário mínimo de 15 dólares/ hora nos EUA que impacte os custos das empresas e, consequentemente, agrave os preços. Atualmente os novos casos são de apenas 60 mil nos EUA, números idênticos a meados de outubro do ano passado, após terem atingido os 308 mil a 8 de janeiro, e refletem a esperança de que o pior da Covid-19 possa já estar ultrapassado. Foi assim há 100 anos, aquando da pandemia de gripe espanhola, e os investidores esperam que seja assim também com a atual pandemia de Covid-19, com o regresso da atividade económica no verão deste ano e o consumo duplamente reforçado quer pela vontade e pelo desejo de consumir, o que não foi adquirido o ano passado e as férias tão aguardadas, e pela acumulação de rendimento disponível espelhado nas crescentes poupanças bancárias e na subida de 70% do agregado monetário Ml que inclui a moeda em circulação e os depósitos à ordem.

 O spread entre os rendimentos de dois e dez anos, que é a parte mais observada da curva de rendimentos, atingiu pontualmente o valor mais elevado dos últimos quatro anos nos 120 pontos base, e espelha a crescente inclinação da curva de rendimentos norte-americana e a subida das expetativas de inflação. O diferencial entre os rendimentos a cinco e 30 anos é atualmente de 150 pontos base, o mais elevado desde 2015. O mercado espera que a Reserva Federal dos EUA (FED) tolere um índice de preços no consumidor acima da fasquia de 2%, tal como referiu em agosto do ano passado, e esse facto empurrou as expetativas de inflação a 10 anos para o nível mais elevado desde 2014, com a taxa de inflação de equilíbrio medida pelos Títulos do Tesouro Protegidos pela Inflação (TIPS - Treasury Inflation Protected Securities) a atingir os 2,246%.

Nos últimos 6 meses, assistimos a uma subida gradual, e quase proporcional, de 70 pontos base da rentabilidade dos títulos do tesouro a 10 anos, de 0.50% para 1.32%, e das expetativas da inflação a 10 anos, de 1.57% para 2.24%. Todavia, a taxa de juro real mantém-se negativa e os rendimentos dos títulos do tesouro indexados à inflação a 10 anos mantêm-se inalterados em -1% desde agosto, o que penaliza consideravelmente quem adquire ou detém estes títulos. O colapso das taxas de juros reais abaixo de zero significa que o governo dos EUA está a ser pago em termos reais pelos empréstimos obtidos. Isso é obviamente raro, mas é uma oportunidade política para o governo impulsionar as infraestruturas e atingir o pleno emprego em 2022 como pretende Janet Yellen. Mas poderá redundar em mais inflação, que é grosso modo o custo do trabalho e das commodities, como cimento e aço para infraestruturas, e pressionar a subida dos juros.


PAULO ROSA Economista Sénior do Banco Carregosa, In Vida Económica, 19 de fevereiro de 2021




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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.