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terça-feira, 7 de setembro de 2021

Quo Vadis, China?

Quando até mesmo George Soros avisa que a China está prestes a enfrentar uma grande crise financeira, escrevendo num artigo do Financial Times que o ‘boom’ imobiliário chinês está a chegar ao fim, é motivo para os investidores se preocuparem. A seguir à chegada de Xi Jinping ao poder em 2013, Soros esperava que a par da pujança económica chinesa, o atual presidente encetasse reformas políticas. Porém, Xi Jinping tem gradualmente endurecido as posições políticas do Partido Comunista Chinês (PCC). Ao robusto desempenho dos mercados financeiros chineses de meados de 2014 a meados de 2015, espelhado na valorização de 125% do índice acionista de Shanghai, seguiu-se uma forte correção de 35% e um gradual aumento do escrutínio regulatório em 2016, em 2018 e atualmente. 

Cresce o risco de incumprimento da Evergrande. De maior empresa imobiliária chinesa, a Evergrande passou a uma das maiores devedoras da economia chinesa e tem cerca de 300 mil milhões de dólares em dívida, de acordo com Jennifer James da Janus Henderson Investors. Não é apenas Soros que alerta para esta ameaça, é a própria empresa que adverte que corre o risco de não pagar os empréstimos se não conseguir levantar dinheiro no mercado. É certo que a economia chinesa está significativamente alavancada, perto de 300%, e Soros salienta que esse número estará certamente subavaliado, mas as autoridades chinesas pretendem diminuir a alavancagem e limitar o acesso a mais endividamento do promotor imobiliário mais endividado do mundo, a Evergrande. 

Em boa verdade, a guerra comercial e tecnológica encetada pela administração de Donald Trump, e seguida pelo recente presidente eleito, Joe Biden, relativamente à China é uma reação à crescente ameaça chinesa à secular hegemonia norte-americana, e o gradual endurecimento regulatório chinês às suas empresas mais não é de que um reflexo da resposta chinesa à crescente tensão entre as duas maiores economias globais.

É crescente a apreensão dos investidores ocidentais relativamente à exposição a títulos chineses. As cotações das empresas chinesas nas praças norte-americanas, através de ADR’s (American Depositary Receipt), têm sido bastante penalizadas. A compra de ADR’s não é igual à aquisição direta dos capitais próprios das empresas, facto que aumenta o receio dos investidores. Além disso, o gradual escrutínio chinês das suas empresas, nomeadamente aquelas que estão mais expostas a capitais e empresas exteriores, agrava o receio do investidores, aumenta a perceção de risco e, consequentemente, impulsiona a queda dos rácios de preço/lucro (PER – Price Earnings Ratio), tal como acontece na Rússia e outras geografias. Muitas das ações das empresas russas negoceiam com múltiplos muito baixos, cerca de três ou quatro vezes os lucros, penalizadas pela perceção de menor liberdade e transparência, entendendo os investidores que estes títulos são mais arriscados. A China parece trilhar o mesmo caminho no que concerne à perceção de menor liberdade económica e faz gradualmente jus à forma de governo ditatorial espelhada no partido único… 

Colocar o interesse comum à frente do interesse individual é nivelar por baixo, é trazer os de cima para baixo. Em boa verdade, garantir a liberdade da atividade económica é zelar pelo interesse comum. Há um crescente receio em investir na economia chinesa e as graduais pressões regulatórias agravam esse fenómeno. Todavia, os planos económicos quinquenais do PCC vão manter a economia chinesa no caminho do crescimento, mas muito aquém do seu potencial porque o financiamento é menor, a procura global também e o investimento tende a desacelerar. Os investidores fogem sempre do interesse comum e procuram sempre o porto seguro da liberdade económica. Pode a China viver em autarcia? Claro que pode, tal como os EUA, ao contrário de Portugal. Porém, uma economia chinesa mais próxima da autarcia crescerá muito menos que uma economia virada para o mercado externo e o nível de bem estar da população não será tão elevado como numa aproximação à liberdade económica. 

Todavia, a China prepara-se, pela primeira vez, para assumir uma participação na Ant de Jack Ma…

Paulo Monteiro Rosa, 3 de setembro de 2021 In Vida Económica



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.