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terça-feira, 7 de setembro de 2021

‘Tapering’: Reserva Federal dividida

De acordo com alguns membros da Reserva Federal dos EUA (Fed), reduzir a compra de títulos mais cedo poderá propiciar uma maior flexibilidade para aumentar as taxas de juros. Vários membros aproximam as suas posições para começar a reduzir as compras mensais (80 mil milhões de dólares em títulos do tesouro e 40 mil milhões de dólares em títulos garantidos por hipotecas) nos próximos três meses se a recuperação económica continuar, e encerrar o programa de compra de ativos até meados do próximo ano.

A Fed referiu em dezembro passado que continuaria no ritmo atual de compras de títulos até alcançar um "progresso adicional substancial" em direção às metas de inflação média de 2% e emprego robusto. Recentemente, Jerome Powell deixou claro que o principal obstáculo é o emprego, com a Fed disposta a manter alta a inflação. Mas na última reunião de 27 e 28 de julho, a Fed deliberou sobre duas questões importantes: quando começar a reduzir as compras mensais de 120 mil milhões de dólares e com que rapidez.

O presidente da Fed de Boston, Eric Rosengren, espera um crescimento de emprego suficiente que satisfaça, já na próxima reunião da Fed de 21 a 22 de setembro, os critérios de redução de compra de títulos, que se iniciaria no outono, terminando em meados do próximo ano, desde que o crescimento económico se mantenha robusto. O presidente da Fed de Dallas, Robert Kaplan, referiu que as compras de ativos são para estimular a procura, mas, atualmente, esse problema não se coloca. Se reduzir as compras de ativos mais cedo, a Fed poderá esperar mais tempo antes de aumentar as taxas de juros, referiu Kaplan. O presidente da Fed de St. Louis, James Bullard, quer começar a reduzir os ativos em outubro e concluir o programa em março, reduzindo as compras de títulos do Tesouro em 20 mil milhões de dólares por mês e de títulos garantidos por hipotecas em 10 mil milhões por mês.

Ao mesmo tempo, outros membros pediram mais paciência. A governadora da Fed, Lael Brainard, referiu que seria prudente ver o relatório de emprego de setembro, que não estará disponível até o início de outubro, antes da Fed decidir.

As respostas são importantes para os mercados financeiros porque os membros da Fed afirmaram que preferem concluir o programa de compra de títulos antes de considerar o início do aumento das taxas de juro. Na reunião da Fed de 15 e 16 de junho, 13 dos 18 membros da Fed projetaram aumento de taxas de juro até ao final de 2023, e sete membros anteciparam mesmo uma subida de taxas até ao final de 2022. O mercado aguarda com expetativa o próximo diagrama ‘dot plot’ que sairá da reunião de 21 e 22 de setembro, com um resumo das respetivas projeções económicas trimestrais. No final do mês realizar-se-á o simpósio da Fed em Jackson Hole e novas pistas surgirão sobre o cronograma para redução de ativos e aumento das taxas.

Na passada terça-feira, o euro face ao dólar cotou a 1,1702, o valor mais baixo desde o início de novembro do ano passado. A agudização da pandemia em algumas regiões, impulsionada pela variante delta, e a tomada do poder no Afeganistão pelos talibãs, despertaram nos investidores o apetite pela moeda norte-americana, considerada um dos principais ativos de refúgio globais. A recente valorização do dólar deve-se também aos números favoráveis do relatório do emprego nos EUA, relativos ao mês de julho. A criação de quase um milhão de postos de trabalho e a descida da taxa de desemprego para 5,4%, de 5,9% em junho, fomentam gradualmente no seio dos membros da Fed o início do ‘tapering’. É a terceira vez que o par EUR/USD regressa a esta significativa zona de suporte (1,1700 a 1,1738) desde os mínimos de há 10 meses. Atualmente, também há poucas notícias positivas para o euro, com os crescentes casos da variante delta a penalizarem as perspetivas da Zona Euro e o Banco Central Europeu (BCE) a defender a sua política monetária energicamente ‘dovish’, visto que a inflação é considerada transitória por natureza, forçando o BCE a ficar para trás em relação aos demais, sem previsão de aumento das taxas de juro até 2024. Atualmente, a rentabilidade da bund alemã a 10 anos é negativa de -0,50%, indiciando abrandamento económico.

Paulo Monteiro Rosa, 20 de agosto de 2021 in Vida Económica



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.