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sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Escassez de chips e a indústria automóvel

A escassez global de semicondutores continua a afetar o fornecimento de microchips usados ​​para produzir quase tudo atualmente, nomeadamente bens que empregam produtos eletrónicos, desde eletrodomésticos a computadores, e está a penalizar significativamente a indústria automóvel. Quase todos os fabricantes enfrentam atrasos na produção e paralisações temporárias enquanto esperam pelos chips de que precisam para terminar de construir carros na linha de montagem. Em Portugal, a Autoeuropa já interrompeu várias vezes a produção este ano devido à contínua escassez de componentes. A última paragem foi no final de setembro e início de outubro e retomou a produção na passada quarta-feira, dia 6.

Os semicondutores contêm processadores de microchip que são usados ​​em ‘smartphones’, televisões, ‘routers’ de internet e até mesmo termostatos de controle de temperatura doméstica. Os carros novos são construídos, cada vez mais, com uma infinidade de microchips a bordo, desde motores de janelas a sistemas de navegação, e a indústria automóvel foi duramente atingida pela escassez de chips que espoletou paragens e abrandamento na produção de automóveis. Isso significa que menos automóveis estão disponíveis e que comprar carro, seja novo ou usado, é mais difícil do que o normal. Atualmente, os chips são tão essenciais na produção de carros quanto o aço, o alumínio e o plástico.

Nos EUA, parte dos consumidores que perspetivavam comprar carro novo porque o antigo estava com problemas mecânicos, optam por consertá-lo. Devido à oferta limitada de carros novos e usados, os preços de ambos estão acima do habitual.

 Os fabricantes venderam mais de 14 milhões de veículos nos EUA em 2020 e mais de 17 milhões no ano anterior. A necessidade de microchips é crescente. A pandemia de covid-19 é, talvez, a principal causa da escassez de chips. Na primavera do ano passado, os fabricantes de automóveis encerraram as fábricas e cancelaram as encomendas de semicondutores. Ao mesmo tempo, a procura de computadores e outros produtos eletrónicos aumentou acentuadamente impulsionada pelo teletrabalho, ensino à distância e entretenimento em casa devido à pandemia. Quando as fábricas de automóveis retomaram a produção e as vendas aumentaram fortemente, os fabricantes de microchips não conseguiram acompanhar a considerável subida da procura. As dificuldades climatéricas no início do ano no Texas e o incêndio numa fábrica de chips no Japão afetaram visivelmente a já sobrecarregada cadeia de suprimentos de semicondutores.

Vários governos apostam no aumento significativo da capacidade de produção de chips. À medida que os preços dos semicondutores sobem aumenta também a atratividade para a produção dos mesmos. A indústria de chips não se caracteriza por custos fixos elevados e outras barreiras à entrada presentes num monopólio natural e que, de tal modo, impeçam o aumento significativo de produção. Sendo assim, num mercado concorrencial o lucro tende para zero, logo é esperado que a produção de chips aumente ou novos produtores entrem neste setor enquanto as margens forem elevadas, voltando a reequilibrar a oferta deste bem, cada vez mais necessário, e a descida do seu preço. A Intel, que não fornecia chips para a indústria automóvel, iniciou a produção para este setor. Grandes fabricantes de chips como a TSMC, a empresa de Taiwan que domina a indústria global de semicondutores, estão a construir mais fábricas.

As exportações japonesas de bens duradouros e maquinaria para a produção de chips têm aumentado significativamente nos últimos meses, refletindo o esforço e as perspetivas de reforço da produção de chips a nível global. A Fitch Ratings espera que à atual escassez de chips suceda um excesso de produção em 2023. Várias fabricantes de automóveis esperam que a escassez de chips se mantenha até meados de 2022.

Está a ser um bom momento para vender um carro que não esteja a utilizar? O aumento dos preços dos carros novos empurrou muitos consumidores para os carros usados, tornando-os mais escassos e mais caros também. Em suma, temos atualmente um mercado de vendedores.

 

Paulo Rosa, In Vida Económica, 8 de outubro de 2021




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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.