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sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Preço do ouro não indicia estagflação, mas a Bitcoin…

A inflação nos EUA, de acordo com o índice de preços no consumidor (IPC), aumentou 5,9% de fevereiro de 2020, antes do confinamento ditado pela pandemia, a setembro de 2021. Nesse período, o IPC subiu de 258.824 para 274.138, o que representa uma taxa anualizada de 3,5%, talvez suficientemente elevada para espoletar o início do ‘tapering’ da Reserva Federal dos EUA (Fed) na próxima reunião de 3 de novembro.

Os futuros das taxas de juro da Fed (Fed Funds Rate) mostram uma probabilidade de 60% de aumento das taxas na reunião de 15 de junho do próximo ano, ou seja, uma subida de 25 pontos base para o intervalo [0,25% a 0,50%]. Este número corrobora a expectativa de alguns analistas que estimam que a Fed anuncie o início do
‘tapering’ provavelmente ainda para meados deste mês. Uma gradual redução da compra de ativos de 120 mil milhões de dólares ao longo dos próximos seis meses, para depois subir taxas de juro em 15 junho de 2022. Os futuros evidenciam também uma probabilidade de 54% de aumento de 50 pontos base, para [0,50% a 0,75%], a partir da reunião de 2 de novembro de 2022.

Entre 1978 e 1981, numa das fases mais graves da estagflação da década de 1970, o ouro quadruplicou de preço, mas o ‘Dollar Index’ caiu nesse período. No longo prazo, e perante uma inflação persistente, o ouro tende a configurar um porto seguro mais adequado do que o dólar. Mas a moeda norte-americana é um dos melhores refúgios de curto prazo para enfrentar períodos rápidos de elevada volatilidade, incerteza e preferência por liquidez.

O IPC nos EUA duplicou entre 1975 e 1981. Também nos últimos dois trimestres a inflação tem subido consideravelmente. Todavia, a atual cotação do ouro, reserva de valor milenar, mantém-se estável e não reflete qualquer receio de estagflação. Bem pelo contrário, espelha uma inflação temporária, em linha com as perspetivas dos principais bancos centrais, e uma economia capaz de corrigir as atuais dificuldades nas cadeias de abastecimento no próximo ano. Persistem os ‘
bottlenecks’ do lado da oferta, mas, por exemplo, a maioria dos fabricantes de automóveis espera que a escassez de semicondutores termine em meados do próximo ano e a Fitch Ratings avança mesmo com uma expectativa de excesso de ‘chips’ em 2023. Os investidores, também, antecipam uma estabilização do mercado de energia na primavera de 2022, após um inverno que se aproxima e que se antevê rigoroso. Gradualmente as pessoas regressam ao emprego impulsionadas pela diminuição dos receios quando à evolução da covid-19 e extinção dos subsídios pandémicos ao desemprego, o que permitirá resolver os problemas de escassez de mão de obra e preencher as ofertas de emprego em níveis históricos nos EUA. 

O abrandamento económico nos últimos meses, acompanhado pela subida da inflação, aumenta a ameaça de estagflação. Mas a bitcoin (BTC) valorizou 100% desde os mínimos de meados de julho e alcançou novos máximos históricos. Será a BTC percecionada, atualmente, como uma cabal reserva de valor e mais importante do que o ouro? Em março do ano passado, início do confinamento ditado pela pandemia, diante da incerteza e da volatilidade, a BTC perdeu 50% e o ouro caiu 14%, mas o dólar valorizou. Uma perceção mais ‘verde' da BTC será determinante para os investidores? A extração de ouro consome mais eletricidade, cerca de 131 TWh anualmente, contra 112 TWh da BTC. Além disso, a mineração de BTC pode escolher a região e localizá-la numa zona geográfica que possibilite consumir apenas energia renovável (por exemplo, a energia geotérmica na Islândia e a refrigeração natural). No entanto, como as minas de ouro não escolhem o local de mineração, a disponibilidade elétrica nessa zona pode ser apenas conseguida através de um combustível fóssil, por exemplo.

Todavia, o consumo de eletricidade está, em parte, correlacionado com a cotação da BTC. Uma cotação mais elevada da BTC implicaria, tendencialmente, maior consumo de energia. Um ‘
market cap’ da BTC equivalente ao do ouro, de 11 biliões de dólares e almejado pelos entusiastas da BTC, resultaria provavelmente num consumo consideravelmente mais elevado de combustíveis fósseis na mineração de BTC relativamente ao ouro. Mas os avanços tecnológicos poderão criar supercomputadores mais eficientes que diminuam o consumo de eletricidade. 

PMR, Vida Económica, 2 de novembro 2021



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.