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sexta-feira, 8 de julho de 2022

Base monetária nos EUA desce 13% desde os máximos de dezembro

                                   
A inflação mais elevada das últimas décadas tem penalizado a atividade económica e o sentimento do consumidor. Também a postura cada vez mais ‘agressiva’ dos bancos centrais, na tentativa de travar a alta dos preços, acelera essa tendência de deterioração do sentimento à medida que as taxas de juro sobem nos mercados monetário e de capitais. Sendo assim, o risco de recessão aumenta e a inflação tende a desacelerar com o abrandamento da procura. Intensifica-se o risco de crédito e desacelera o de taxa de juro.

Na Zona Euro, o contexto macroeconómico tem-se deteriorado e o sentimento do consumidor em junho caiu para níveis de 2013. Na Alemanha, o sentimento do consumidor, medido pelo GfK, registou um novo mínimo histórico em julho, refletindo uma diminuição da propensão a comprar e um alívio na pressão inflacionista do lado da procura. Em junho, o índice harmonizado de preços no consumidor na Alemanha desceu pela primeira vez desde outubro de 2020, queda justificada, em parte, pela redução do imposto sobre os combustíveis, mas também pela diminuição da procura. A balança comercial alemã em maio apresentou o primeiro défice desde 1991. Também as perspetivas para a atividade empresarial têm abrandado e o PMI alemão aponta, em junho, para o crescimento mais lento desde julho de 2020.

Nos EUA, a confiança do consumidor medida pela Universidade de Michigan regista níveis de 2008 e a do Conference Board assinala mínimos desde fevereiro de 2021. O PMI caiu em junho para 52,7, o nível mais baixo desde julho de 2020. O indicador GDP Now da Reserva Federal de Atlanta antecipa uma contração de 2,1% do PIB norte-americano no segundo trimestre. No entanto, o mercado de trabalho permanece resiliente, mas os pedidos de subsídio de desemprego semanais subiram, ainda que ligeiramente, para os níveis mais elevados do início do ano.    

Nos EUA, a política monetária é cada vez mais contracionista. Desde os máximos históricos em dezembro do ano passado, a base monetária desceu 13% e a rubrica reservas bancárias no passivo da Reserva Federal dos EUA (Fed) diminuiu 32%. No entanto, os depósitos junto da Fed, refletidos pela rubrica ‘reverse repo’ no passivo, registam sucessivos recordes semanais e representam atualmente mais de 25% do balanço do banco central dos EUA. Há elevada liquidez, mas esta está cada vez mais centralizada no ‘porto seguro’ da Fed e cada vez menos disponível para emprestar. Diante deste cenário, o risco de liquidez tende a aumentar, mas o mercado de ‘repo’, talvez um dos melhores barómetros para aferir as dificuldades de liquidez, não apresenta atualmente nenhuma perturbação. Enquanto a rubrica ‘repo’, no ativo do balanço da Fed, se mantiver nula (sinónimo de inexistência de necessidades urgentes de liquidez), é expectável que um problema mais grave de liquidez se mantenha afastado. Mas as dificuldades podem aparecer à medida que o ‘quantitative tightening’ da Fed, iniciado há apenas um mês, avança e retira liquidez ao mercado. A TED spread regista máximos desde a primavera de 2020, de 0,6%, e este indicador é comumente usado como medida de risco de crédito e representa a diferença entre a LIBOR do dólar a 3 meses e a taxa de juro dos títulos do tesouro dos EUA a 3 meses, estes últimos vistos como livres de risco.

Se, desde a primavera de 2020 até dezembro do ano passado, a política energicamente expansionista da Fed impulsionou a base monetária em 90%, permitindo a recuperação da economia norte-americana, o regresso ao pleno emprego e a valorização dos mercados acionistas, agora, a reversão da política da Fed, espelhada na queda da base monetária nos últimos seis meses, promete intensificar o risco de liquidez e tem influenciado negativamente os mercados acionistas.

Os investidores tentam quantificar a desaceleração da inflação e até que ponto algum alívio na subida dos juros poderá compensar os eventuais ‘profit warnings’ ditados por uma hipotética recessão. A queda da confiança empresarial e do sentimento do consumidor, a potencial recessão e a contração monetária são variáveis deflacionistas. Um abrandamento do ritmo de globalização não é inflacionista, apenas se existir um recuo da mesma. No entanto, os preços elevados dos combustíveis fósseis, penalizados pela transição e segurança energética e pela guerra, são variáveis inflacionistas. Certo é que os avanços e recuos da guerra na Ucrânia, nos próximos meses, influenciarão o nível de inflação, e a evolução da economia global e dos mercados. 

PMR In VE 8 julho 2022










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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.