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sexta-feira, 12 de abril de 2019

ESTARÁ A RESERVA FEDERAL A ANTECIPAR O FIM DE CICLO?


O que é interessante é que, apesar da linguagem de que "tudo está bem com a economia", a Reserva Federal norte-americana, no passado dia 20 de fevereiro, reverteu totalmente o curso da contração monetária ao baixar a taxa de reduções no balanço da FED nos próximos meses e encerrá-las inteiramente em setembro. Ao mesmo tempo, a FED salientou que a economia pode precisar de estímulos monetários em breve.

Dez anos de expansão económica, taxa de desemprego muito perto dos mínimos dos últimos 50 anos, as taxas de juro permanecem próximas dos mínimos históricos, o balanço da Reserva Federal norte-americana é quatro vezes superior ao normal e a maior autoridade monetária dos Estados Unidos julga que são necessários mais estímulos financeiros! Se os agentes económicos não conhecessem a realidade dos últimos 10 anos esta situação seria um paradoxo académico para os estudantes de economia.

Naturalmente, todo o mercado ouviu as palavras de Jerome Powell na passada quarta-feira, dia 20 de março, e reagiu em alta no dia seguinte. Mas os fracos dados referentes aos PMI (´Purchasing Managers Index´, Índice dos Gestores de Compra, que mede a “saúde” económica da indústria e do setor dos serviços) alemão e francês na sexta-feira de manhã, pressionou os mercados em baixa.

No último FOMC (Federal Open Market Committee, reunião da Reserva federal dos EUA), a FED deu ao mercado o que este queria na reunião de dezembro. Sobre as taxas, Powell sinalizou que está indefinidamente suspensa a subida de taxas devido aos riscos elevados para a economia global e porque o forte crescimento da economia norte-americana e a queda do desemprego no ano passado não produziram um aumento esperado na inflação.

Nos últimos meses, as taxas de crescimento económico abrandaram e os agentes económicos interpretaram esse facto como uma forte limitação da capacidade da FED para aumentar as taxas juros. Mas também a própria FED, apesar de ter dito que a economia dos EUA continua sólida, reduziram drasticamente suas perspetivas do crescimento económico, não apenas no curto prazo, mas também no longo prazo.

A FED sabe alguma coisa que os investidores não sabem? Dada à rápida reversão da política monetária, provavelmente sim.

Os comentários da FED não apoiam as elevadas cotações dos ativos financeiros, impulsionados pelo crescimento mais forte do lucro. Uma perspetiva mais fraca para a economia significa um crescimento com abrandamento da geração do lucro. Dessa forma, isso coloca o atual mercado avaliado em 30 vezes os lucros em risco, e teria que existir uma correção do mercado para reequilibrá-lo com expectativas reduzidas para os “cash flows” futuros.

Há entraves substanciais à economia e aos mercados no curto prazo que apoiam a reversão da FED para uma política monetária expansionista. Ou seja, as taxas de juros negativas ou próximas de zero representam condições que compreensivelmente existem imediatamente após uma recessão profunda, e não 10 anos depois. Estaremos perante um fim de ciclo que renasceu já sob a forma de um início de um novo ciclo? O que sabemos é que a FED tem agora menos ferramentas do que alguma vez teve no fim de um ciclo económico.
Janet Yellen, a anterior presidente da Reserva Federal, referiu que a inversão da curva de rendimentos pode sinalizar que a FED precisa de descer juros, mas não vê sinais de recessão. As taxas de juro no mercado monetário a 1 mês, 3 meses, 6 meses e 12 meses rondam os 2.45% e são superiores às taxas de juro no mercado de capitais (rentabilidades das obrigações do tesouro) ao longo da curva até a taxa a 10 anos. A taxa a 2 anos, 3 anos, 5 ano e 7 anos estão entre os 2.2% e os 2.3%. A 10 anos encontra-se nos 2.44%. Há uma expetativa de recessão em termos académicos…

Paulo Rosa, Vida Económica, 29 março



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.