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sexta-feira, 12 de abril de 2019

QUO VADIS INFLAÇÃO?

Qual será a evolução dos principais blocos económicos mundiais? Como se comportarão as variáveis macroeconómicas, nomeadamente a inflação? O Índice de Preços no Consumidor (IPC) foi em fevereiro de 1.5% nos EUA, na China e na Zona Euro, e de 0.2% no Japão, de 1.8% no Reino Unido, e de 0.6% na Suíça.

O Japão vive uma estabilização dos preços no consumidor há cerca de 25 anos, com períodos alternados de deflação e inflação pouco significativos do IPC, apesar das sucessivas políticas monetárias expansionistas por parte das autoridades monetárias japonesas cada vez menos convencionais para estimular a inflação. Políticas que foram encetadas na Zona Euro, e irão regressar em setembro, e nos EUA, onde poderão voltar…

Neste período, não existiram problemas relevantes na banca nipónica. Um país que vive em pleno emprego (a taxa de desemprego é de apenas 2.3%, quase exclusivamente friccional), com um índice de criminalidade tão baixo que os polícias vivem numa monotonia, e uma invejável estabilidade social e económica. Mas a dívida pública é de 230% do PIB! Porém, quase 80% está nas mãos das autoridades japonesas, nomeadamente o BoJ (Banco do Japão), através da “monetização” da dívida pública do país do sol nascente. E a restante está, em boa parte, na mão de cidadãos japoneses.
O comportamento do motor da economia europeia, a Alemanha, é muito semelhante ao do Japão. O povo germânico, tal como o japonês, é disciplinado, instruído e talhado para sustentar cabalmente uma economia. Estes povos foram facilmente manietados por líderes sem escrúpulos na 2ª Grande Guerra, há 70 anos. Em boa verdade, todos os povos podem ser agrilhoados a ideais nacionalistas por líderes com ideias mais ou menos perversas… 


Na Alemanha, tal como na Europa, temos uma inversão da pirâmide demográfica, algo que já acontece no Japão há décadas. E a consequente deflação, que é uma virtude e sempre desejável desde que não seja causada pela queda das cotações dos mercados financeiros e das bolhas imobiliárias. A deflação é desejável quando é consequência dos avanços tecnológicos, apesar do desemprego friccional aumentar no curto prazo. Porém, após ciclos de forte crescimento económico em que as cotações dos títulos nos mercados financeiros sobem para níveis de “bolhas”, teremos o reverso da moeda e o lado indesejável da deflação por via da queda dos preços das obrigações e das ações e da descida dos preços do imobiliário.

Mas há diferenças entre a Europa e o Japão. Há uma Europa setentrional, onde as falências de bancos são mais improváveis, porém não devemos esquecer a evolução do Deutsche Bank - um problema para a banca alemã - e uma Europa meridional, nomeadamente a Itália, onde a banca transalpina representa um problema que pode entrar em erupção a qualquer momento, qual vulcão adormecido…

O BoJ imprime moeda, ou simplesmente cria moeda digital, para comprar dívida pública nipónica. Estamos perante a monetização da dívida pública japonesa, ou seja, esta dívida é financiada através do dinheiro criado pelo Banco Central, que também compra ações de empresas para tentar colocar dinheiro junto das pessoas e incrementar a inflação. É a imaginação dos bancos centrais nas políticas monetárias expansionistas “não convencionais”! No limite, e por absurdo, um banco central poderia comprar montes de lama, sem qualquer valor, para colocar dinheiro na economia!

Os EUA registam crescimento económico há 10 anos consecutivos. Porém, em 2 meses, a Reserva Federal com um movimento extraordinário, qual pirueta, passou de uma contração monetária para uma intenção de descer juros. As taxas de juros de longo prazo – as rentabilidades das obrigações do tesouro – são mais altas nos prazos mais curtos, no início da curva.

A economia chinesa pode ser uma caixa de Pandora, devido à contabilidade nacional daquele país ser ainda muito hermética, e os analistas alertarem para um provável endividamento de duvidosa sustentabilidade. O imobiliário e os mercados financeiros sobem há décadas.
Ao nível dos preços no consumidor, estaremos perante uma desinflação, ou mesmo deflação, secular? E uma inflação monetária cada vez menos convencional e mais engenhosa por parte dos bancos centrais?

Paulo Rosa, in Semanário "Vida Económica", 12 de abril


 

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.