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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

O NOVO PARADIGMA DOS JUROS

O mercado espera, nomeadamente na Zona Euro, um longo período de taxas de juro próximas de zero. Todas as matundades das emissões de dívida soberana alemã estão neste momento em território negativo. A rentabilidade das bunds alemãs a 5 anos é negativa de -0.86%, a 10 anos de -0.65% c a 30 anos de -0.23%.
Quem emprestar 50.000 euros, em termos nominais, ao Estado germânico numa emissão de dívida a 30 anos, terá aproximadamente um retorno de 49.885 euros no investimento realizado. Em termos reais, que tem em conta a inflação e caso fosse em média de 1 % nos próximos 30 anos, o retorno do investimento seria ainda menor, no montante de apenas 49.385 euros.
Haverá algum racional nestes investimentos se existir deflação dos preços de bens e serviços, se nos depararmos com uma forte turbulência nos mercados financeiros durante um longo período de tempo ou se o Banco Central Europeu (BCE) permanecer com a sua política monetária vincadamente expansionista. Mas se a média da inflação nos próximos 30 anos for negativa de -1%, ou seja deflação, o retomo desse investimento, em termos reais, será positivo de 50.385 euros.
Na Zona Euro, onde mais marcadamente se observa este novo paradigma, as taxas caíram ainda mais e mais prazos viram as taxas desceram para valores negativos, depois de Mano Draghi ter sinalizado novas descidas das taxas de juro já em setembro. Há alguns meses que as taxas alemãs passaram a ser mais negativas que as taxas da deflacionána economia japonesa, que vive um período deflacionista há 25 anos.
Nos EUA, na Zona Euro, no Japão, na Suíça, no Reino Unido o comportamento das taxas de juro indicia cada vez mais um abrandamento e mesmo recessão económica, com as taxas de juro de longo prazo inferiores às taxas de juro de curto prazo, culminando na inversão da curva de rendimentos ("yield curve"). Taxas de juro mais baixas no longo prazo são sinónimo de expetativas baixas para a inflação, ou mesmo deflação. Uma baixa inflação é consequência de uma estagnação ou recessão da atividade económica, e os números conhecidos na semana passada revelaram que a Alemanha, quarta maior economia mundial e segundo maior exportador, contraiu no 2° trimestre. 
 
A taxa de juro das obrigações da dívida pública norte-amencana a 10 anos cota a 1.57% abaixo dos 1.58% das taxas a 2 anos, o que não acontecia desde 6 de junho de 2007, e é visto pelo mercado como um forte indicador de recessão económica. Também a rentabilidade dos bilhetes do tesouro a 3 meses dos EUA cota a 1.92% bastante acima da rentabilidade das obrigações do tesouro americano a 10 anos, facto muito utilizado pela FED para identificar a aproximação de recessÕes económicas e atuar baixando as suas taxas de juros de referência ("Fed Funds Rate"). Os futuros negociados na Bolsa de Derivados de Chicago indiciam pelo menos mais duas descidas este ano, no dia 18 de setembro em 25 pontos base, de 2.25% para 2%, e mais 25 pontos base, de 2% para 1.75%, dia 30 de outubro e podendo acontecer na última reunião da FED no final do ano, 11 de dezembro, ou no início do ano, a 29 de janeiro de 2020, mais um corte de 25 pontos base de 1.75% para 1.5%. 
 
A Libor a 3 meses do iene é negativa de -0.10% superior aos -0.23% das obrigações soberanas nipónicas a 10 anos. A Libor a 3 meses do franco suíço é negativa de -0.8% acima da "yield" das obrigações do tesouro da Confederação Helvética a 10 anos que é negativa de -1.1%.
A Libor a 3 meses da libra esterlina é de 0.76%, mais alta que a rentabilidade das obrigações soberanas do Reino Unido a 2 anos de 0.46%, e superior aos 0.42% das obrigações a 10 anos. Este novo paradigma incentiva a fixar a taxa de juro de um crédito à habitação. Passar a pagar a taxa SWAP também conhecida por troca de taxa variável por fixa, que habitualmente cota 40 pontos base acima da rentabilidade das obrigações alemãs e é atualmente negativa de -0.45% a 5 anos, e se acrescida de um "spread" de 1.1%, daria 0.65% de juro final fixo durante 5 anos.
Paulo Monteiro Rosa, Semanário "Vida Económica", 23 agosto 2019

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.