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sexta-feira, 22 de maio de 2020

Admirável mundo novo

No contexto da pandemia da Covid-19 novas realidades emergem. O confinamento, o encerramento de empresas e as medidas de distanciamento social determinaram a "economia 90%", impactando a vida quotidiana. Sem surpresa, as empresas que enfrentam maior exposição a viagens, e exigem interações presenciais, esperam um longo período de tempo para regressar à normalidade. Por outro lado, empresas de segmentos de mercado como construção, consumer Staples e data centers prevêem uma normalização mais rápida. No S&P 500, os lucros por ação, desde o início do ano, foram corrigidos em baixa 27%. Todavia, os mercados acionistas continuam resilientes, apesar da incerteza da forma de recuperação. Perante a enérgica atuação dos bancos centrais, o efeito TINA (There Is No Alternative) continua a moldar a postura dos investidores e a alimentar o FOMO (Fear Of Missing Out).

A intensificação das estratégias de digitalização, do direct-to-consumer e da automação são as principais prioridades dos gestores, dado que o envolvimento on-line disparou com o confinamento. Aparecem soluções de digitalização centradas na mudança de comportamento do consumidor num ambiente de baixa mobilidade e sem contacto. Os restaurantes adicionaram serviços de pedidos e pagamentos on-line, o retalho voltou-se para o marketing digital e para o comércio eletrónico, o atendimento ao paciente voltado para a telemedicina. O trabalho em casa impulsionou as tecnologias e os bancos investem ainda mais em recursos de financiamento móvel. As empresas dos setores de consumo básico tiveram picos nas vendas online (receitas da Walmart subiram74%). Muitas aplicações tiveram um crescimento exponencial de downloads: Chats e vídeo (+1485%), fitness em casa (+288%), compras (+214%) e comércio eletrónico (+116%). Os canais diretos ao consumidor conheceram um aumento semelhante, com os clientes a procurarem alternativas de compra, e as empresas a promoverem as vendas diretas ao consumidor final, com estratégias de automação nas suas operações e cadeias de suprimentos que reduzirão no longo prazo os custos operacionais.

Há uma força de trabalho em mudança. A redução dos custos de mão de obra por demissões, licenças e cortes de salários, não se limitaram às indústrias mais afetadas pelo distanciamento social. Em abril, 20,5 milhões de empregos foram perdidos e a taxa de desemprego nos EUA subiu para 14,7%. As empresas capazes de fazer a transição de funcionários para trabalhar em casa, optaram pelo WFH (Work From Home), aparecendo potenciais oportunidades para que alguns dos seus funcionários continuassem a trabalhar remotamente a longo prazo, com reduções nos custos das deslocações e dos espaços físicos (os custos de internet, eletricidade e água passam da empresa para casa). As empresas com funcionários no local incorreram em custos adicionais associados à garantia da segurança desses trabalhadores.

Hoje, os gestores privilegiam a liquidez e a robustez do balanço. O aumento da incerteza levou as empresas a reduzirem gastos de capital, recompras de ações e pagamento de dividendos. Têm existido oportunidades de fusões e aquisições, considerando o ambiente amai, para empresas com balanços musculados.

Em parte, o S&P 500 tem mostrado relativa resiliência à contração económica, devido ao elevado peso das Blues Chips e das empresas defensivas (não cíclicas). A crise afetou mais as pequenas empresas que têm menos flexibilidade operacional. No primeiro trimestre, os lucros por ação do S&P 500 caíram 14%, enquanto do Russell 2000 pequena capitalização (Small Caps) desceram 90%. Os lucros da Microsofi aumentaram 22%.

As plataformas on-line compensam parcialmente as quedas de receita no consumo pessoal. O consumidor responde por 70% da economia dos EUA, e o consumo discricionário, excluindo a Amazon, caiu 6% no primeiro trimestre e as vendas a retalho nos EUA baixaram 16% em abril. Mas as restrições aceleraram a mudança para o comércio eletrónico.

O aumento dos custos associados à manutenção ou retoma da atividade comercial continuará a pressionar as margens de lucro. O Facebook mencionou que após um declínio inicial acentuado em março, a receita com anúncios estabilizou durante as primeiras três semanas de abril, em comparação com o mesmo período do ano anterior. 

Paulo Rosa,
Vida Económica, 22 de maio de 2020



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.