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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

O EMPREGO E A INFLAÇÃO


A política monetária da Reserva Federal dos EUA (FED) tem como metas o pleno emprego ea estabilidade de preços, duas variáveis que estão correlacionadas negativamente segundo a curva de Phillips e caracterizadas por um conflito na sua escolha. No entanto, a taxa de desemprego nos EUA foi crescente na segunda metade da década 1970 e na primeira metade da década de 1980 e superou os 10% numa altura em que a inflação chegou aos 15% (período de estagflação). E nos últimos trinta anos a taxa de inflação nos EUA tem-se mantido controlada, e descendente, entre 1% a 3%, ea taxa de desemprego permaneceu entre os 4%e os 6%, se excetuarmos os danos colaterais, e cíclicos, da recessão de 2008 e da pandemia de 2020. Tem existido mais uma correlação positiva entre as duas variáveis do que um “trade-off” defendido pela curva de Phillips. Esta similitude de baixas taxas de inflação e de baixo desemprego é, atualmente, transversal a quase todas as economias desenvolvidas desde o Japão, Reino Unido e Suíça à Alemanha, e uma das justificações poderá passar pelo peso cada vez menor dos salários no PIB. Se partirmos do pressuposto de que são mais os rendimentos do trabalho que impactam a inflação, e esta hipótese é corroborada pela teoria económica ao colocar em vários modelos a taxa de desemprego para determinar a tendência da inflação, então, à medida que pesam cada vez menos no rendimento disponível o impacto sobre a inflação como um todo é menor, deixando explicação para os rendimentos do capital, os juros, as rendas e os lucros, para a menor pressão inflacionista nas últimas décadas.
O aumento da base monetária pelos bancos centrais nos últimos 12 anos, e mais vincadamente nos últimos 9 meses, tem impactado assimetricamente a massa monetária e favorecido mais os rendimentos do capital, fazendo jus à não neutralidade da nova moeda central quando entra na economia que Cantillon defendia há 3 séculos. Temos assistido à subida dos títulos da dívida pública, impulsionada pela compra de ativos pelos bancos centrais, descidas dos juros e valorização dos mercados acionista e imobiliário. Se o consumo cresce a ritmos decrescentes à medida que o rendimento disponível aumenta, então rendimentos do capital acrescidos não terão tanto impacto na subida da inflação como teriam acréscimos na mesma proporção de rendimentos do trabalho. Também o cabaz de bens e serviços para aferir a inflação é dinâmico, e procura sempre substituir um bem que encareceu por outro mais barato, como acontece com o PCE nos EUA, e, em suma, acaba por ser um cabaz mais semelhante ao das famílias mais desfavorecidas. Todavia, mesmo a criação de mais empregos, provavelmente, só redundará em mais inflação se os novos postos de trabalho forem pouco produtivos. Para reduzir o número de pessoas desempregadas durante um período de pleno emprego, seriam necessárias reformas do lado da oferta para aumentar a produtividade.

Alguns economistas veem o desemprego como um meio necessário para controlar a inflação, ou seja, para evitar que a inflação acelere. Mas no longo prazo o desemprego depende essencialmente de variáveis estruturais e a inflação é mais um fenómeno monetário. O pleno emprego pode, grosso modo, ser traduzido pela taxa natural de desemprego de longo prazo (NAIRU). Ea NAIRU (“Non-Accelerating Inflation Rate of Unemployment”) representa a taxa de desemprego que não acelera, ou não gera, inflação. Se numa economia a taxa de desemprego é superior à NAIRU, então as pressões inflacionistas motivadas pelo nível de emprego tendem a abrandar. A inflação aparece e acelera quando a taxa de desemprego é inferior à NAIRU.



A taxa de desemprego é cíclica e muito assimétrica, porque aumenta significativamente nas recessões e desce muito lentamente nas recuperações económicas, ea NAIRU estimada numa recessão é mais alta e acompanha a taxa de desemprego (com algum atraso) e os estabilizadores automáticos (do lado da receita, o IRS e
o IRC, e do lado da despesa, os subsídios de desemprego) agravam o défice orçamental que poderá ser interpretado como um défice estrutural crescente (a componente cíclica é subestimada). Mas na realidade há uma situação cíclica adversa, uma recessão e a economia está longe do seu pleno emprego, sem pressões inflacionistas, mas a penalizar os rendimentos do trabalho, nomeadamente os mais baixos... Paulo Rosa, in Vida Económica, 18 de dezembro 2020

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.