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sexta-feira, 7 de maio de 2021

Os Bancos Centrais e a inflação (I)

A maior parte do dinheiro na economia é criada pelos bancos quando concedem  empréstimos. Mas, após a crise financeira de 2008, os bancos abrandaram o ritmo dos empréstimos e, portanto, a criação de nova moeda diminuiu. Ao mesmo tempo, os agentes económicos pagavam os seus empréstimos, o que significava que o dinheiro estava a ser 'destruído' e a quantidade total de massa monetária na economia estava a contrair. Para combater este facto e 'substituir' a moeda que os bancos destruíam, os bancos centrais nos EUA e Inglaterra, e mais tarde o Banco Central Europeu (BCE), criaram dinheiro novo através do denominado Quantitative Easing (QE), política cujo Japão havia sido pioneiro anos antes.

Em boa verdade, existem dois tipos de moeda na atual configuração do sistema monetário. A central, criada pelos bancos centrais e denominada também por moeda de primeira ordem e que corresponde à base monetária, que circula apenas no sistema bancário entre bancos (OIM - Outras Instituições Monetárias) e respetivo banco central da moeda em causa de dado país ou região económica. E a moeda crédito, também moeda de segunda ordem, que é criada pelos bancos sempre que concedem um empréstimo. Ou seja, a moeda central só chega aos agentes económicos (famílias, empresas e Estado) quando os bancos comerciais, que receberam a moeda do banco central em troca de títulos, cederem essa moeda ao público já sob a forma de moeda crédito através de um empréstimo, e dependerá sempre do analista de crédito, da capacidade instalada da economia, da procura de moeda por parte das famílias, empresas e Estado.

Imaginemos que numa economia existem 100 unidades monetárias centrais e 900 unidades monetárias crédito, no total a economia tem 1000 unidades monetárias. Face ao crescimento económico e à crescente procura de moeda, o banco central decide criar 500 novas unidades monetárias, através da impressão de novas notas ou dígitos, e cede-as aos bancos em troca de títulos. O novo dinheiro, ainda moeda central, passar a estar no ativo dos bancos e no passivo do banco central. A economia tem agora 1500 unidades monetárias no total (600 centrais e 900 crédito). Este novo dinheiro só chegará ao público quando existir um empréstimo de um banco comercial, mas, entretanto, no mercado de capitais desta economia a procura de títulos, para trocas com o banco central, já resultou numa valorização dos mesmos e respetiva redução das taxas de juro.

A Reserva Federal norte-americana quando emite dólares, atualmente sob a forma de dígitos e apenas papel moeda quando solicitado pelos bancos, coloca-os junto dos bancos através dos “dealers”, grande bancos como Morgan Stanley ou Goldman Sachs, e posteriormente estes, com uma carteira de clientes diversificada, conduzem a moeda central aos restantes bancos. Apenas quando um banco emprestar esse dinheiro, ainda moeda central, agora no ativo do banco, passará a moeda crédito e estará na posse do público e da denominada “economia real”.
  Os bancos centrais não cedem dinheiro diretamente ao público. 

A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) espelha a igualdade entre a moeda e a produção. Na pré-história, aquando da troca direta, a equação refletia, obviamente, a equivalência entre a produção e a produção, onde parte da produção é moeda e era trocada pela parcela da produção de outros. Atualmente, a TQM representa a paridade entre a quantidade de moeda e o PIB nominal. A equação é dada por MV=PQ, onde a massa monetária (M), ponderada pela sua velocidade de circulação (V), é igual ao produto dos preços (P) pela produção (Q). A velocidade de circulação do dólar está em mínimos históricos e como a massa monetária quando medida pela moeda crédito não cresceu, apesar do aumento de 70% do balanço da FED, moeda central, nos últimos seis meses, então a inflação dos preços, um fenómeno monetário, também não aumentou, e a diminuição da velocidade é justificada pela descida da produção. O agregado monetário M1, que corresponde à moeda central acrescida da moeda crédito criada através dos depósitos à ordem, subiu menos que o passivo da FED, logo não houve criação de moeda crédito, e, assim sendo, não há aumento da inflação de preços por via monetária.
      

Paulo Rosa, 30 de outubro de 2020, In VE


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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.