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sexta-feira, 7 de maio de 2021

Os Bancos Centrais e a inflação (II)

A 15 de março de 2020, A Reserva Federal Norte-americana (FED) anunciou que iria reduzir a taxa compulsória de 10% para zero para incentivar os bancos a emprestarem durante a pandemia. A FED baixou também a sua taxa de juro de referência de 1.75% para 0.25%. A 23 de março de 2020, a FED, através do seu mecanismo de mercado aberto, o FOMC, expandiu as compras de Quantitative Easing (QE) para um valor ilimitado. A 18 de maio, o seu balanço tinha crescido de 4.2 triliões para 7 triliões de dólares, cerca de 70% em menos de dois meses.

No balanço do banco central dos EUA, grosso modo, o seu ativo é constituído por títulos de dívida pública norte-americana, cerca de 65%, títulos garantidos por hipotecas (MBS), quase 30%, e SWAPs, que chegaram a representar mais de 5% do balanço em abril, quando existiu forte procura de dólares pelo exterior, nomeadamente dos países emergentes com dificuldades de liquidez. O passivo é a moeda central e é formado pela moeda em circulação e pelas reservas bancárias (compulsórias e livres). Os capitais próprios correspondem a menos de 1%, por isso, o passivo, que representa a base monetária, é quase igual ao ativo.

A significativa quantidade de moeda central tem ficado em grande parte pelo sistema bancário Ou seja, não passou a moeda crédito, através da concessão de empréstimos pelos bancos, para a “economia real”, os agentes económicos: famílias, empresas e Estado.

No Japão, há mais de 20 anos que o setor privado, antes deficitário em fundos, passou a poupador líquido e o setor público, antes excedentário, passou a assumir os gastos da economia. Os papeis inverteram-se, e a dívida pública passou de 40% do PIB nominal para mais de 250%. Na Europa, nomeadamente na Alemanha, o caminho é semelhante e os investidores e analistas interrogam-se se os EUA começam a trilhar também essa via. A dívida pública destes países é maioritariamente detida por nacionais, o que não coloca entraves aos limites de endividamento público e à inflação, pelo menos enquanto a moeda local for comumente aceite, caso contrário gerará hiperinflação.







Os empréstimos dos bancos são inferiores às amortizações dos débitos. Como pode chegar o dinheiro central à economia? O governo não está disposto a usar o seu poder para criar dinheiro no interesse público. A maior parte do novo dinheiro central é canalizado pelos bancos para os mercados imobiliário e financeiro, enquanto apenas uma minoria termina na “economia real”. O impacto na inflação é residual, porque além de serem poucas as pessoas que usufruem do aumento de riqueza, o consumo cresce a ritmos decrescentes. 

Os bancos reduzem os empréstimos às empresas, enquanto aumentam os empréstimos para hipotecas. Se a dívida das famílias está a aumentar, mas as empresas não conseguem aumentar os salários, mais cedo ou mais tarde, parte da dívida torna-se impagável e as pessoas entram em incumprimento. No futuro, nos EUA, o governo poder-se-á substituir ao setor privado através da realização de grandes infraestruturas e investimentos em tecnologia, como faz a China. Se os bancos centrais concedessem empréstimos diretamente ao público teríamos, com certeza, inflação. Ou em último caso se, por absurdo, oferecesse dinheiro aos agentes económicos, a inflação subiria na mesma proporção…

Paulo Rosa, 5 de novembro de 2020, VE



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.