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sexta-feira, 7 de maio de 2021

‘Sell in May and go away’?

Em março, a taxa de desemprego nos EUA diminuiu para 6% e desce há 11 meses consecutivos de 14,8%, na primavera do ano passado, a taxa mais elevada desde a Grande Depressão há mais de 80 anos. As previsões atuais indicam novamente uma queda para 5,8% em abril, à medida que os setores mais afetados pela pandemia, como restauração, hotelaria, viagens e lazer, dependentes da proximidade social, recuperam em parte os níveis pré-covid. A Reserva Federal de Atlanta espera um robusto crescimento do PIB dos EUA, no primeiro trimestre, de 8,2%. Em abril, é esperada uma taxa de inflação de 2,5%, depois de 2,6% em março. É habitual uma subida da inflação, que se espera temporária, no início de um novo ciclo económico, e perante a reabertura e retoma da atividade pré-covid, com eventuais ‘bottleneck’ e aumento da procura, reprimida nos últimos 12 meses devido à pandemia. Também a base mais baixa da taxa de inflação durante o primeiro confinamento na primavera do ano passado e os enérgicos estímulos orçamentais do governo norte-americano pressionam atualmente os preços.

A crescente robustez da economia norte-americana poderá originar uma redução dos estímulos monetários da Reserva Federal dos EUA (FED) mais cedo do que o previsto pelo mercado. Esta é uma das contrariedades que os investidores poderão ser confrontados nos próximos tempos, a par de uma nova subida das ‘yields’ das obrigações do tesouro norte-americano, após um período de tréguas no último mês, e perante a pujança da economia dos EUA. Na verdade, o Congresso designou a FED para assegurar o pleno emprego, a estabilidade de preços e taxas de juro de longo prazo moderadas, e, como tal, preços estáveis implicam taxas de juro reais positivas no longo prazo, e, consequentemente, acima do atual nível de 1,64% da ‘yield’ a 10 anos. Estabilidade de preços e taxas de juro de longo prazo caminham juntas, por isso, frequentemente, é apelidada a incumbência da FED como duplo mandato, estabilidade de preços e pleno emprego. A 27 de agosto do ano passado, a FED anunciou que não aumentaria as taxas de juro enquanto a economia não atingisse o pleno emprego, mas desde que a inflação continuasse baixa. A FED alterou a meta de inflação para uma média, o que significa, atualmente, permitir preços um pouco acima do seu objetivo de 2%, fixado em janeiro de 2012, para compensar os períodos em que esteve abaixo de 2%. Perante o atual sobreaquecimento da economia é provável que a FED adote uma postura gradualmente mais ‘hawkish’ nos próximos tempos e antecipe paulatinamente a redução do seu atual montante de compra de ativos.

Os resultados das empresas, referentes ao primeiro trimestre, têm sido em geral melhor do que o esperado e parte das empresas reiterou ou reviu em alta as suas perspetivas para o resto do ano de 2021. As atuais cotações provavelmente já descontam grande parte das boas notícias e esta poderá ser mais uma adversidade na evolução futura dos mercados.

De acordo com os dados divulgados pela FINRA (Autoridade Reguladora da Indústria Financeira), a alavancagem subiu 71% nos últimos 12 meses e atingiu um recorde de 822 mil milhões de dólares no passado mês de março. Em abril do ano passado as contas margens representavam 480 mil milhões de dólares. A alavancagem alimenta a subida dos mercados e é um sinal de confiança, mas também pode ser de irracionalidade, acelera as quedas nos períodos de correção e gera um aumento significativo de volatilidade no mercado. De acordo com o Bank of America, depois de 1930 a utilização de crédito para comprar ativos financeiros apenas por 10 vezes esteve acima dos 60% e os últimos dois períodos foram em 2000 e em 2007. 

As matérias-primas, quer os metais industriais quer as ‘commodities’ agrícolas, retomaram esta semana os máximos dos últimos anos e a tendência altista iniciada na primavera do ano passado espelha uma robusta recuperação económica global, mas poderá também ser uma contrariedade para o mercado se redundar em inflação indesejável. 

Paulo Rosa, 30 de abril de 2021, In Vida Económica


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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.