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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

A ‘Decarbonomics’ e a ‘greenflation’ marcam 2022


A par da enérgica recuperação da crise económica de 2020 determinada pelo confinamento, o ano passado fica também marcado pelas elevadas e históricas taxas de inflação. Nos EUA o índice de preços no consumidor (IPC), em 2021, atingiu os valores mais altos desde 1982, penalizado sobretudo pelas dificuldades nas cadeias de abastecimento e pelos custos salariais mais elevados ditados pela escassez de mão de obra. Na Alemanha, a maior economia da Zona Euro, o IPC alcançou o nível mais elevado desde 1993, impulsionado principalmente pelos consideráveis aumentos dos custos da energia, nomeadamente do gás natural e do petróleo, em grande medida pressionados pela aceleração da transição energética ditada pela política de descarbonização.
Há um consenso generalizado de que 2022 continuará a ser um ano de crescimento económico robusto a nível global, mas a um ritmo mais moderado, em consonância com a fase mais madura do ciclo. Como resultado da crescente inoculação da população, do surgimento de medicamentos inovadores e de métodos de prevenção e combate à pandemia gradualmente mais eficazes, espera-se que a economia global seja cada vez menos afetada por potenciais novos surtos de covid-19. Todavia, existem vários riscos para este cenário central para lá da pandemia, tais como riscos políticos, desde as eleições presidenciais em França às intercalares nos EUA em novembro, problemas nas cadeias de abastecimento, que tenderão a normalizar ao longo do ano, a subidas nos preços e pressões salariais, à turbulência no mercado imobiliário chinês e aos custos da energia. Espera-se que a economia seja alavancada também por planos de gastos plurianuais nas principais economias desenvolvidas, em particular o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) na Zona Euro e os programas de infraestruturas do presidente Joe Biden nos EUA.

Traçada pelas autoridades dos EUA como principal prioridade em 2021, a recuperação do mercado de trabalho foi uma realidade e a economia norte-americana aproximou-se do pleno emprego em dezembro com uma taxa de desemprego de 3,9%. No entanto, o objetivo foi em parte alcançado com um preço elevado, ou seja, uma subida histórica da inflação. A Reserva Federal dos EUA (Fed) procura agora rapidamente reverter a política monetária e são esperadas, atualmente, quatro subidas de juro em 2022, de acordo com os futuros das ‘Fed Funds Rate’ negociados na bolsa de derivados de Chicago. Powell afirmou que poderia mesmo começar a reduzir o balanço em meados do ano para travar a inflação.
A Fed estima para 2022 uma taxa de inflação medida pelo PCE de 2,6%, um crescimento económico de 4% e pleno emprego com uma taxa de desemprego de 3,5%, idêntica ao mês de fevereiro de 2020, antes do confinamento determinado pela pandemia. Em suma, o banco central dos EUA mostra-se otimista e, apesar de alguma desaceleração, ainda espera um crescimento económico robusto, caracterizado por um pleno emprego e uma considerável travagem da inflação. A evolução da política monetária ao longo do ano tentará materializar este otimismo da Fed, mas existe o risco de um abrandamento económico face a esta postura mais ‘hawkish’.

A crescente política de descarbonização dita a nova economia no pós-pandemia, apelidada por alguns de ‘decarbonomics’, e à medida que os receios da inflação continuam, um dos principais dilemas é encontrar a melhor forma de suavizar a volatilidade crescente da transição energética. É crucial resolver as lacunas entre os combustíveis fósseis e a energia limpa, ou a ‘greenflation’ será uma realidade. A agenda global de políticas verdes para 2022 (EUA, UE, Ásia, América Latina) está repleta de eventos importantes definidos para alimentar as tendências de crescimento ESG.

Na Europa, a inflação em 2022 dependerá em grande medida dos custos da energia. A natureza intermitente das energias renováveis, tais como a eólica, a solar e a hídrica, não responde cabalmente às constantes necessidades energéticas da economia, impulsionando os custos da eletricidade e, consequentemente, a inflação de preços no consumidor europeu. A Comissão Europeia procura catalogar a nova geração nuclear como energia ‘verde’, mas os resultados desta decisão só serão observados no longo prazo. Quanto ao crescimento económico, o Banco Central Europeu estima um aumento de 6% em 2021 e de 4,5% em 2022.   
 

PMR 12 fevereiro 2022 In VE



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.