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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Nem ‘efeito janeiro’, nem ‘barómetro janeiro’ em 2022?

                          


O ‘efeito janeiro’ é percebido como um movimento de alta nos preços das ações durante o mês de janeiro. Um dos principiais motivos para essa subida, no primeiro mês do ano, poderia ser uma reação dos investidores às previsões dos analistas, geralmente positivas decorrente da tendência de alta do PIB no longo prazo. Apesar desse comportamento do mercado ter sido identificado no passado, o ‘efeito janeiro’ parece ter perdido importância nos últimos anos, à medida que a sua presença se torna gradualmente conhecida e os investidores se ajustam mais rapidamente a esse potencial evento, nomeadamente quando as previsões macroeconómicas para o ano são positivas. Os investidores antecipam esse efeito de subida e realizam compras em novembro e dezembro.

Nos EUA, a subida em janeiro tem sido muitas vezes justificada pelo regresso dos investidores aos mercados no início do ano, depois das vendas em dezembro por motivos de eficiência fiscal, alienando os títulos com prejuízos para realizar menos-valias e compensar as mais-valias noutros títulos. Mas também nos EUA o ‘efeito janeiro’ tem sido paulatinamente menos importante. A partir de 2021, mais pessoas têm planos poupança reforma protegidos por impostos e, portanto, não têm motivos para vender no final do ano por motivos fiscais.

As perspetivas para 2022 de contração monetária por parte de muitos bancos centrais, nomeadamente a subida de taxas de juro pela Reserva Federal dos EUA (Fed), têm penalizado os mercados em janeiro e o S&P 500 desvaloriza cerca de 8,6% desde o início do ano, sendo necessário recuar a 2009 para se encontrar uma queda idêntica. Esta semana, o FMI reviu em baixa o crescimento económico mundial para 2022 de 4,9% para 4,4%, designadamente dos EUA, da China e da Alemanha, e manteve perspetivas pouco animadoras para a inflação que estima de 5,4% nos EUA, 4,4% na Zona Euro e 2,2% na China.
Sendo assim, as quedas dos mercados em janeiro estão ajustadas às perspetivas de subida de taxas de juro e à visão menos otimista do FMI, bem como ao agravamento das tensões geopolíticas no leste europeu entre a Rússia e a Ucrânia. Por conseguinte, há uma outra teoria conhecida como ‘barómetro janeiro’, que sugere que os retornos do mercado de ações durante o primeiro mês do ano preveem os do resto do ano. Se o mercado de ações subir em janeiro, mais ganhos podem estar reservados para os restantes 11 meses, e vice-versa. Desde 1950, o chamado ‘barómetro janeiro’ acertou 84,5% das vezes, segundo o Stock Trader's Almanac. O ‘barómetro janeiro’ é predominantemente um fenómeno dos EUA associado ao índice S&P 500.

Nos últimos dois anos, os meses de janeiro foram negativos, mas o S&P 500 valorizou 16,4% e 28,3% em 2020 e 2021, respetivamente. É certo que foram anos atípicos, mas todos os anos têm mais ou menos incertezas. Em 2009, janeiro desvalorizou 8,6% e o ano foi positivo em 35%, ou seja, nem o ‘efeito janeiro’, nem a teoria do ‘barómetro janeiro’ prevaleceram. O mesmo aconteceu em 1992 (após recessão económica) em 2003 (recuperação dos mercados do ‘bearmarket’) bem como em 2005, em 2009 e 2010 (após a grande recessão) e em 2014, 2015 e 2016. Uma desaceleração da inflação nos EUA em 2022 e consequente abrandamento da política monetária contracionista da Fed, poderia mitigar as recentes perdas em bolsa no mês de janeiro, e 2022 seria mais um ano em que não se materializaria nem ‘efeito janeiro’, nem ‘barómetro janeiro’, tal como em 40% dos anos desde 2009.

PMR 27 janeiro 2022 VE



    




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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.