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sexta-feira, 22 de abril de 2022

A Bitcoin e a pirâmide das necessidades de Maslow

As criptomoedas são uma realidade cada vez mais presente e transversal a todas as geografias. Mas a sua utilidade parece diferir de país para país, de região para região, muitas vezes de acordo com o nível de rendimento e das necessidades de cada população, dependendo muito do estágio de desenvolvimento de cada país. Se nos países desenvolvidos as criptomoedas, nomeadamente a mais respeitável e influente, a bitcoin (BTC), são tendencialmente mais usadas como instrumento de status social, de valorização, de conhecimento e de reconhecimento, de prestígio e de especulação, em alguns países em vias de desenvolvimento, ou subdesenvolvidos, a sua utilização tende a facilitar as trocas e o seu uso está muitas vezes reservado à salvaguarda de valor. Em suma, se nas economias avançadas as criptomoedas se assemelham mais a um ativo de risco, e são mais uma ferramenta de diversificação do investimento e maximização do retorno, nas economias emergentes ou de fronteira, cujas atividades económicas são mais desestruturadas e menos livres, elas identificam-se mais com uma reserva de valor ou moeda de troca para enfrentar as vicissitudes mais prementes do quotidiano nessas latitudes.    

 

Discute-se muito a importância das criptomoedas, nomeadamente da BTC, como cabais alternativas às tradicionais moedas fiduciárias suportadas pelos Estados, cujo modelo destas últimas assenta no sistema de reservas fracionárias. Será a BTC uma satisfatória reserva de valor, unidade de conta e facilitadora das trocas? As principais diferenças referenciadas pelos entusiastas das criptomoedas em relação às moedas estatais são a liberdade e a descentralização. Mas estas características também as podemos encontrar no ouro. O valor do metal amarelo não depende de nenhum banco central e a sua posse é livre. E apesar de o ouro não gerar nenhum rendimento, apenas ganhos de capital alicerçados na sua valorização, é um ativo que tem mantido o seu valor ao longo da História da humanidade e desde as primeiras civilizações. E se alguém argumentar que a valorização do ouro é uma bolha, então esta já tem mais de 5 mil anos. Além de reserva de valor, a ostentação do ouro representa prestígio, status social e notoriedade, transversal a todas as sociedades globais, passadas e atuais. Mas quanto às criptomoedas, a ostentação parece estar reservada apenas às economias avançadas.  

 

A pirâmide das necessidades de Maslow permite descrever as diferenças de utilidade e finalidade das criptomoedas e das ‘blockchains’ entre as economias avançadas e as economias emergentes ou de fronteira. A Pirâmide de Maslow, também conhecida como teoria das necessidades humanas, organiza as mesmas hierarquicamente. E é constituída por cinco estágios de necessidades: 1. Fisiológicas, desde comida, água, casa (abrigo), sexo e sono. 2. Segurança, da família, do corpo e da propriedade. 3. Social, desde amor, amizade, família e comunidade. 4. Estima, do reconhecimento e do status à autoestima e no topo o 5º, e último estágio, a realização pessoal, desde criatividade, talento, justiça e desenvolvimento pessoal.

Os primeiros estágios, na base da pirâmide, são destinados às necessidades mais urgentes, ou seja, às necessidades fisiológicas. À medida que subimos na pirâmide, as necessidades físicas mais básicas vão sendo satisfeitas e surgem necessidades cada vez mais elaboradas. Das necessidades físicas às metafísicas, das necessidades básicas às necessidades mais elevadas, mais abstratas e subjetivas. Já no topo, estão as realizações pessoais e a procura de um mundo melhor.

 

Portanto, as populações de alguns países menos desenvolvidos, cujas necessidades são mais básicas e fisiológicas (alimentação, casa, segurança da família e da propriedade), procuram a BTC como reserva de valor, e moeda de troca, de forma a lhes garantir a satisfação cabal dessas mesmas necessidades - que o digam os venezuelanos.

Nos países desenvolvidos, as necessidades são cada vez mais metafísicas e as criptomoedas parecem ajudar a satisfazê-las. As ‘blockchains’ de algumas cripotomedas, nomeadamente do Ethereum, suportam NFTs, certificam arte e complementam as crescentes necessidades de criatividade e certificação da mesma. Os ‘metaversos’ são realidades e necessidades crescentes dos mundos desenvolvidos e as criptomoedas tendem a alicerçar estes mundos mais intangíveis. Os mais idealistas procuram uma moeda global, livre e descentralizada, e a BTC parece preencher esses requisitos, pelo menos para os entusiastas da mesma.


PMR In VE 20 abril 2022




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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.