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sexta-feira, 1 de abril de 2022

Fed prepara redução do balanço

À medida que a inflação se agrava, e após uma primeira subida de 25 pontos base, a Reserva Federal dos EUA (Fed) deverá, nas próximas semanas, apresentar um plano para a redução do seu balanço. O banco central dos EUA mais do que duplicou o seu balanço desde o início da pandemia, em março de 2020, uma subida de 4,8 biliões de dólares, de forma a enfrentar a recessão económica ditada pelo confinamento na primavera desse ano. Um plano final do quantitative tightening (QT) poderá ser apresentado em 4 de maio, data da próxima reunião do banco central dos EUA.


Diante da elevada inflação, o ritmo de contração do balanço poderá ser, agora, mais rápido do que o registado no QT do período de 2017 a 2019, a única experiência anterior do mercado com uma Fed em missão de redução de ativos. O aperto de liquidez foi encerrado em 1 de agosto de 2019, aquando da primeira descida de juros da Fed em 11 anos de 2,50% para 2,25%, numa altura em que a curva de rendimentos dos EUA tinha invertido nos 3 meses e nos dois anos relativamente aos 10 anos, indiciando recessão económica. Durante o ano de 2018, o balanço da Fed encolheu 8,4% e o S&P 500 desvalorizou 6,2%, a maior queda desde a grande recessão.

A 16 de setembro de 2019, o pagamento trimestral de impostos pelas empresas e a liquidação de uma emissão de dívida pública norte-americana retiraram cerca de 120 mil milhões de dólares do mercado monetário diretamente para a conta geral do tesouro dos EUA junto da Fed. A drenagem desta liquidez criou dificuldades no mercado monetário, nomeadamente no de recompra, conhecido por mercado de ‘repos’. Os bancos que compram títulos da dívida pública em leilões financiam-nos, grande parte das vezes, através do mercado de recompra. No dia 17 de setembro, a taxa de juro de financiamento Overnight com garantia (SOFR - Secured Overnight Financing Rate) mais do que duplicou e atingiu os 5,25%, muita acima do intervalo das Fed Funds Rate de [2% a 2,25%]. Ficou claro nessa altura que os bancos voltaram a estar renitentes em emprestarem dinheiro entre si. Nesse mesmo dia, a Fed regressou ao mercado de ‘repos’, substitui-se aos bancos comerciais que detinham fundos, forneceu a liquidez necessária e continuou a fazê-lo todas as manhã até junho de 2020, implementando um QE informal espelhado numa subida de quase 10% do seu balanço nos três meses seguintes até ao final do ano. No dia 19 de setembro de 2019, a Fed voltou a cortar as taxas de juro em 25 pontos, justificando a postura com receios de desaceleração económica.

Atualmente, a saída da Fed como o principal comprador de títulos do tesouro ameaça agravar as condições dos mercados de taxas de juro, já de si fragilizados pelos grandes bancos norte-americanos que limitam a sua formação de preços no mercado, comportamento que poderá ser responsável pela mais recente volatilidade. As obrigações do tesouro norte-americano registam o pior trimestre das últimas décadas. Quando a liquidez é baixa no mercado de dívida, as transações concentram-se mais nas emissões de referência (on-the-run) e o spread alarga-se relativamente às restantes emissões (off-the-run) dessa mesma maturidade, impulsionando ainda mais as ‘yields’. Ademais, o mercado espera uma subida de 50 pontos em cada uma das três próximas reuniões da Fed e uma subida de 25 pontos nas restantes três reuniões, finalizando o ano no intervalo [2,50% a 2,75%].  

Os ativos no balanço da Fed somam cerca de 9 biliões de dólares, incluindo 5,7 biliões em títulos do tesouro e 2,7 biliões em títulos garantidos por hipotecas. O Comité Consultivo de Empréstimos do Tesouro (Treasury Borrowing Advisory Committee), um painel dos principais investidores em obrigações que reúne trimestralmente com o Departamento do Tesouro, no início de fevereiro estimou uma contração de 320 mil milhões de dólares na carteira de títulos da Fed este ano. Mas isso foi antes de Powell salientar uma ação mais rápida para conter a mais grave inflação em quatro décadas. A previsão do Deutsche Bank, no lado mais ‘hawkish’ do espectro de projeções, estima 800 mil milhões de redução este ano e 1,1 biliões de dólares em 2023. No balanço da Fed existem quase 1,2 biliões de dólares em títulos do tesouro que expiram nos próximos 12 meses e a não renovação reduziria o balanço nesse montante, mas a Fed pode preferir controlar a curva de rendimentos. Salientar que hoje os bancos têm uma significativa liquidez de 5,6 biliões em reservas e a pressão é menor do que em setembro de 2019, altura em que as reservas tinham diminuído para 1,5 biliões de 2,5 biliões no início do QT. Todavia, os bancos não são obrigados a emprestar...

PMR, 1 de abril 2022 In VE



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.