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sexta-feira, 8 de março de 2019

Banco Central da China alimenta mercados financeiros


O Banco Central da China anunciou, no final da semana passada, que irá diminuir as suas taxas mínimas de reserva legal em 100 pontos base. As autoridades monetárias chinesas procuram com esta medida diminuir o risco de uma desaceleração mais acentuada da segunda maior economia do mundo. O Banco Popular da China utiliza com frequência este instrumento monetário, a par das mexidas na sua taxa de juro diretora, porque tem margem para isso, com taxas acima dos 10%, algo que não acontece nos EUA ou na Zona Euro. Esta é uma medida monetária expansionista, e surge em sentido contrário das medidas monetárias contradonistas da Reserva Federal norteamericana e do final do "quantitative easing" do Banco Central Europeu, que se prepara para subir taxas depois do verão deste ano, mas só saberemos se iiá realmente acontecer essa subida em função da evolução da economia e das bolsas nos próximos tempos.

Esta medida de diminuição da reserva mínima legal irá fornecer ao mercado mais 1,5 triliões de yuan. Se por cada depósito à ordem que recebam os bancos são obrigados a depositar junto do Banco Popular da China menos dinheiro, neste caso menos um ponto percentual do que anteriormente, então vão ficar com mais capital para emprestai" e ceder ao mercado. Alimenta os mercados financeiros...

O corte nos coeficientes de reservas compulsórias é o primeiro em 2019 e o quinto em um ano pelo Banco Central chinês, já que a economia enfrenta o seu crescimento mais fraco desde a crise financeira de 2008 e a crescente pressão das tarifas norte-americanas, fruto da guerra comercial entre os EUA e a China, que tem penalizado a sua economia. Mas este país asiático tem as suas armas e ainda na semana passada a gigante tecnológica dos "smartphones", a Apple, emitiu um "profit warning" onde reviu em baixa as suas estimativas para as vendas, nomeadamente no mercado chinês. A "BigTech" norte-americana, uma das empresas pertencentes às FAANG, perdeu 10% em apenas uma sessão depois de emitir este aviso de redução das vendas...

A redução da reserva mínima legal será realizada em duas fases, até 15 de janeiro e 25 de janeiro, com montantes iguais em cada etapa de 0.50% cada. Os rácios de exigência de reservas são atualmente de 14,5% para os grandes bancos, que passarão para 13-5% até 25 de janeiro, e 12,5% para os bancos de menores dimensões, que verão a taxa ser 11,5% daqui a algumas semanas.

Os cortes da reserva mínima legal foram amplamente esperados, o ano passado, especialmente após uma série de dados fracos nos últimos meses que mostraram que a economia chinesa continuava a perder força. A dimensão deste movimento ficou no limite superior das expectativas do mercado, o que mostra que a medida das autoridades monetárias chinesas foi bastante arrojada. Caso a economia continue a deteriorar-se nos próximos tempos, é de esperar novos cortes desta taxa, com o intuito de fornecer mais liquidez ao mercado e continuar com a política monetária expansionista...

Segundo o atual sistema monetário baseado em reservas fracionárias, grosso modo, podemos falar na existência de dois tipos de moeda: a crédito e a central. Quando os bancos centrais produzem notas e moedas e as colocam junto dos bancos comerciais e recebem em troca títulos de dívida, nomeadamente do tesouro, estão a criar moeda central. Os bancos centrais não podem colocar dinheiro diretamente junto do público e utilizam os bancos comerciais para essa função, pois só estes podem ceder dinheiro ao público por uma questão de independência dos Estados, para não se criar moeda em excesso para financiar projetos do Estado menos rentáveis, gerando inflação e desvalorização da sua moeda.

Na Zona Euro existe cerca de 1 trilião de euros em notas e moedas.

A moeda crédito surge quando um depósito à ordem é emprestado. Na Zona Euro os depósitos à ordem andam à volta dos 4 triliões de euros, quatro vezes mais que as notas e moedas.

Em teoria a moeda tem o seu valor assegurado pelo Estado. Mas, em boa verdade, o seu valor é assegurado pela fidúcia na sua aceitação. Mas a "moeda crédito" põe em causa este débil equilíbrio, e por isso existem "bank runs" e garantias de depósitos de 100.000 euros, porque, quando se empresta dinheiro que está à ordem, quebra-se a principal regra de ouro da banca, que deve ser uma certa paridade entre os prazos e os montantes dos créditos e débitos de um banco. 

PAULO ROSA

Economista/sénior do
Banco Carregosa, 11 de janeiro de 2019


    


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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.