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sexta-feira, 8 de março de 2019

Retalhos da vida de um mercado financeiro e de uma economia

As últimas semanas têm sido profícuas em dados macroeconómicos bastante interessantes: A) Itália entra em recessão, enquanto os mercados recuperam. B) Há 100 meses consecutivos que existe criação de emprego mensal nos EUA, desde 2010. C) O Chicago PMI, um dos principais indicadores de atividade norte-americano, encontra-se no valor mais baixo dos últimos 2 anos. D) A venda de casas novas nos EUA aumentou 16,9% em novembro, a subida mais elevada desde janeiro de 1992. E) Devido ao "shutdown" norte-americano, os pedidos de emprego semanais foram os mais elevados desde setembro de 2017.

A época de resultados, relativa ao quarto trimestre do ano passado, está a sair de acordo com as expectativas. Essa é a boa notícia.

A má notícia é que, embora as empresas ainda apresentem lucros geralmente fortes, redundaram numa abundância de "profit warnings" (alertas de lucros e previsões negativas) nas últimas semanas. A Apple emitiu há um mês o seu primeiro "profit warning" desde 2001. A festa do lucro terminou? Os analistas, nas suas previsões, apresentam a maior queda em 3 anos no crescimento do lucro do primeiro trimestre.

Como resultado, durante janeiro, os analistas reduziram as estimativas de lucro para as empresas do índice acionista norte-americano S&P 500 no primeiro trimestre, e a estimativa de lucro por ação de primeiro trimestre caiu 4,1%.

A 30 de setembro, a taxa de crescimento dos lucros estimados pelos analistas para o primeiro trimestre de 2019 era de 6,7%. Em 31 de dezembro, a taxa estimada de crescimento dos lucros para esse mesmo primeiro trimestre de 2019 era de apenas 3,3%. Prevêem que seis dos onze setores do S&P500 tenham uma queda nos lucros no primeiro trimestre, curiosamente liderados pelo setor tecnológico (-8,9%), que até recentemente era o setor que mais crescia há anos.

E, como mencionado acima, se o índice reportar uma queda real nos lucros do primeiro trimestre, ele marcará o primeiro declínio nos rendimentos ano após ano, desde o segundo trimestre de 2016 (-3,1%).

Para além da queda no crescimento dos lucros no primeiro trimestre de 2019, os analistas esperam, na melhor das hipóteses, um crescimento de apenas um dígito nos lucros no segundo trimestre de 2019 e no terceiro trimestre de 2019.

Segundo a empresa de dados financeiros, FacSet, para o primeiro trimestre de 2019, os analistas projetam queda nos lucros (-0,8%) e crescimento de receita 5,7%.

Para o segundo trimestre de 2019, os analistas projetam crescimento de lucro de 1,6% e crescimento de receita de 5,1%.

Para o terceiro trimestre de 2019, os analistas estão a projetar um crescimento de 2,7% nos lucros e um aumento de receita de 4,9%. Para o quatro trimestre de 2019, os analistas projetam um crescimento de 9,9% nos lucros e crescimento de receita de 6,0%.

A propósito, o crescimento de 5,6% do lucro por ação ("earning per share" - EPS) para o ano de 2019 já representa um corte 30% para o crescimento de 7,8% do EPS que era esperado em 31 de dezembro, há apenas um mês...

Mas as autoridades monetárias preparam-se para socorrer os mercados de capitais, acionista e obrigacionista. Os bancos centrais preparam-se para voltar a suportaios mercados financeiros através de políticas monetárias acomodatícias, expansionistas, flexíveis que estão espelhadas nos últimos discursos pacificadores ("Dovish") dos banqueiros centrais da Reserva Federal norte-americana e do Banco Central Europeu. 
PAULO ROSA

Economista/sénior trader do
Banco Carregosa, 8 fevereiro 2019


   


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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.