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sexta-feira, 8 de março de 2019

Sei o que Mário Draghi quer no próximo verão...

Na ultima reunião do Banco Central Europeu (BCE), a 13 de dezembro, Mário Draghi confirmou o fim do programa de compras no final do ano, apesar de ter baixado as previsões para a taxa de inflação do próximo ano, em mais de um ponto percentual, de 1,7% para 1,6%. A estabilidade de preços - ou seja, uma inflação em torno dos 2% - é o objetivo primordial do BCE.

Aparentemente, esta revisão em baixa da inflação, que tem sido penalizada pela baixa do preço do petróleo, não veio alterar os planos. Aliás, mesmo que em 2019 se confirme um abrandamento económico na Europa, o BCE parece estar firme na intenção de inverter a política monetária expansionista para contracionista, já a partir do final do próximo verão, com uma subida de taxas de juro.

Mas Draghi deixa uma porta entreaberta: a subida de taxas e regularização do balanço do BCE podem ficar para mais tarde se as bolsas norte-americanas e, por arrasto, as bolsas mundiais continuarem a perder terreno, culminando numa estagnação da economia dos EUA.

O mandato do BCE tem um objetivo primordial: a estabilidade de preços. E o crescimento económico e o emprego? Na Europa, subentende-se que esses são assegurados pelo Estado social. Nos EUA, um país que não é conhecido por ser um Estado social, a Reserva Federal tem como principais objetivos também o emprego e o crescimento.

As políticas monetárias têm mais sucesso nos EUA devido à flexibilidade do mercado labora, e ao crescimento e rejuvenescimento populacional. O cenário na Europa é precisamente o oposto. A população está envelhecida, além de existir resistência à entrada no mercado de trabalho devido à rigidez do mercado. Há décadas que a taxa de desemprego é significativamente mais elevada na Europa que nos EUA.

O dinheiro não cria riqueza, apenas o trabalho é produtivo. O dinheiro poderá estimular o trabalho, mas se existe uma pirâmide demográfica invertida, o dinheiro de nada vai adiantar sem uma política de natalidade ou de imigração.

Um sinal muito importante para avalizarmos o comportamento futuro de uma economia é o declive da curva de rendimentos. A "Yield Curve" norte-americana tem diminuído nos últimos tempos e está quase horizontal, continuando o movimento de alisamento. A rentabilidade da obrigação do tesouro dos EUA a 2 anos é já superior à rentabilidade da obrigação do tesouro a 5 anos. Este facto é um indício de abrandamento ou mesmo estagnação ou contração económica. Temos taxas de juro de curto prazo altas que pressionam o crédito concedido e o honrar dos compromissos e observamos taxas de juro de longo prazo aos mesmos níveis, relativamente baixas, que indiciam baixa inflação no futuro, o que é um sinal de abrandamento económico, porque, como o rendimento disponível será menor, os agentes económicos irão comprar menos, não havendo pressão sobre os preços.

As bolsas têm mostrado algum nervosismo e muita volatilidade. Existe uma grande incerteza sobre uma correção nos mercados. Desde o início de 2018 que a Reserva Federal norte-americana começou a reduzir e estabilizai' o seu balanço, e o efeito na queda das bolsas e na diminuição da liquidez foi imediato, nomeadamente nos mercados emergentes. No último trimestre de 2018, as quedas chegaram às bolsas ocidentais e às praças norteamericanas. Por isso, muitos analistas adiantam que a Reserva Federal em 2019 deverá ser mais contida na subida de taxas de juro.

O abrandamento económico na Europa não dá tréguas. O setor automóvel na Europa, que, tal como o do imobiliário, é usado para aferir o crescimento económico, cai pelo terceiro mês consecutivo, penalizando as grandes construtoras francesas, alemãs e a italiana Fiat. O setor automóvel do índice Stoxx 600 perde cerca de 25% desde o início do ano. 

Paulo Rosa, Vida Económica, 21 dezembro 2018


 


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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.