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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Itália, o “dolce far niente”? Problema da construção europeia? Decadência económica Ocidental?

Itália, a 8ª maior economia do mundo, 3,3% do PIB global, pertencente ao grupo restrito dos países mais ricos. Como é possível chegar à situação de quase falência?
A Itália é o único país da Zona Euro a par da Alemanha com um excedente do saldo primário das contas públicas. Porém, devido ao peso da dívida pública de 120% do PIB os juros são significativos e reflectem-se em défices orçamentais. A Itália com um superavit do saldo primário, provavelmente, conseguiria aguentar cerca de 2 anos a financiar-se nos mercados financeiros a taxas de 7%, mesmo apesar do peso da dívida que tem que ser renovada. O que não foi possível com a Grécia, Portugal e Irlanda.
A Itália tem uma dívida pública acima dos 100% há mais de 15 anos. Porque só agora os mercados repararam nesse facto? Um dos factores é a falta de competitividade da economia italiana na última década. A balança comercial italiana passou de um excedente na década de 90, para um défice comercial hoje em dia. A Itália precisa de um mercado laboral mais flexível e transparência das contas públicas. O segundo factor passa pelo erro de reagir em vez de agir perante as circunstâncias. Portugal, Grécia e Irlanda actuaram de forma idêntica. As medidas de austeridade se fossem tomadas há mais tempo, e não à medida que os mercados financeiros vão forçando, a Itália não estaria nesta situação, muito provavelmente. Em Agosto, quando a situação se agravou e sentiu-se que os mercados não dariam tréguas a Itália, o BCE alertou o governo transalpino para tomar medidas para acalmar os mercados, mas a Itália nada fez. Terceiro factor refere-se à limitação de actuação das autoridades monetárias italianas. Sem política monetária, não se consegue estancar uma sangria através de uma desvalorização cambial. A Itália possui a política orçamental e tem que fazer uso dela no momento certo e não extemporaneamente.

A Itália padece, como todos os membros da Zona Euro, quer da ausência de uma união política da Zona Euro, que traria um orçamento único e “eurobonds”, quer da presença de uma pseudo-união que limita a actuação. Ou a Zona Euro tem uma única política monetária e orçamental, ou não tem nenhuma. Não pode ficar com a construção a meio.
O mercado de dívida italiano é o 3º mais líquido do mundo, depois dos EUA e do Japão. Mais de metade da dívida soberana transalpina é detida por instituições nacionais e o maior detentor estrangeiro de dívida italiana [pública e privada] são bancos franceses com um total de 416 mil milhões. O país terá que refinanciar, nos próximos 5 anos, 900 mil milhões de euros de dívida pública que irá atingir a maturidade.
Como sairá a Itália desta situação? No curto prazo através de medidas com efeitos imediatos, como seja o aumento de impostos. No longo prazo medidas para obter novamente competitividade.
O BCE deverá actuar no mercado secundário, como medida conjuntural, comprando ilimitadamente dívida pública italiana, para suportar a cotação das obrigações do tesouro italianas e baixar as yields, permitindo emissões de dívida pública a taxas de juro aceitáveis.
O BCE optou por "esterilizar" a sua injecção de liquidez nas compras em mercado secundário, retirando do mercado valor idêntico ao que injecta com a compra de dívida. São efectuadas compras tendo como contrapartida a venda de outros activos que o BCE tenha em carteira. O BCE não imprime moeda [Não há lugar a um Quantitative Easing - afrouxamento quantitativo, um eufemismo para impressão de moeda, geralmente electronicamente] nestas operações, para não alterar a massa monetária e pressionar em alta a inflação, como faz o Banco de Inglaterra e a Reserva Federal dos EUA.
Mas, porque é que o BCE não compra dívida pública directamente no mercado primário, aquando da realização dos leilões? Não é possível que o BCE financie directamente um Estado, a taxas de juro baixas. Porque um Estado permaneceria sem tomar medidas de austeridade [e os problemas das contas públicas e os desequilíbrios continuariam], por isso é vedado ao BCE pelo próprio tratado da União Europeia, essa prática. Isso não invalida que, provavelmente, o BCE não actue nos mercados primários através de terceiros, para manter os preços baixos nos leilões.  
Porque é que os mercados financeiros, nomeadamente os mercados accionistas não reagiram com quedas abruptas? Mantiveram uma aparente e relativa acalmia. Perante a situação do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) não ter dinheiro suficiente para resgatar a Itália e face às limitações do FMI, alguns analistas e investidores, provavelmente, estariam à espera de uma reacção mais negativa e mesmo de pânico generalizado.
As bolsas americanas acabaram por fechar a semana passada em alta, nomeadamente o SP500 que registou uma subida de 1%. Há um ano atrás, aquando dos resgates da Grécia, Portugal e Irlanda, o índice accionista alemão Dax30 de Frankfurt descia por sessão cerca de 8%.
Na passada quarta-feira, dia 9 de Novembro, quando as yields das OT italianas, a 10 anos, atingiram os 7,5%, o índice Dax30 de Frankfurt perdeu cerca de 2,5%. As bolsas já tinham caído bastante nos últimos meses. A bolsa alemã e francesa desceram quase 20% nos últimos 3 meses. Muitos investidores avessos ao risco estão fora do mercado há muitos meses. Investidores alavancados com posições longas (compradas) são em muito menor número neste momento. Por último os factores e argumentos supramencionados, sobre a economia e contas públicas italianas fazem toda a diferença. 



Paulo Monteiro Rosa, economista, 14 de Novembro de 2011.

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.