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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

BITCOIN: MODA OU MOEDA?

A bitcoin é uma moeda? Não. As três funções e requisitos de uma moeda, (i) reserva de valor, (ii) unidade de conta e (iii) moeda comumente aceite, não se verificam no caso das bitcoins. Muitos asseguram que pagam o dentista com bitcoins e que muitas empresas já aceitam pagamentos nessa moeda, mas provavelmente estamos perante estratégias de marketing. Quando esta moeda for comumente aceite - e isso talvez só acontecerá com regulação e supervisão de uma entidade (monetária ou governamental) cuja autoridade seja reconhecida por todos - então estaremos perante uma verdadeira moeda em termos económicos.

Uma visão mais disruptiva pode argumentar, e com razão, que foram as políticas monetárias expansionistas e intervencionistas dos Bancos Centrais que provocaram as crises financeiras. Todavia, é preferível ter moeda fiduciária a uma moeda não regulada e não supervisionada. Por maior que seja o avanço tecnológico, os governos não vão deixar de cobrar impostos! Como se pagariam exércitos, tribunais e outros bens e serviços públicos essenciais?

Quem acha que a bitcoin pode ser uma moeda comumente aceite vive numa fantasia, tal como a corrente ideológica que ficou conhecida como o “socialismo utópico”. O dinheiro fácil, com baixas taxas de juro, impulsionou a valorização desta moeda virtual, mas não podemos dizer que se trata de uma verdadeira moeda.

Existem 1364 criptomoedas, contra as cerca de 100 moedas tradicionais, associadas aos respetivos países e bancos centrais, mas as ofertas públicas - as denominadas ICO (Initial Coin Offering) - vão-se sucedendo.

Mesmo o ouro é fiduciário, baseado na confiança de que as pessoas o aceitam, pela sua raridade e impossibilidade de contrafação. Mas um litro de água no deserto pode valer muito mais do que um Kg de ouro. As obras de arte também são fiduciárias, embora exista aqui muita subjetividade.
Quando a economia se baseava no sistema de escambo, com a troca direta entre bens e serviços, a divisão do trabalho era quase impossível. Com a invenção da moeda deu-se um enorme salto económico. A moeda serve para facilitar a transação de “trabalho com utilidade” e, para isso, é preciso que seja comumente aceite. A bitcoin não é.

Gastam-se milhões, em energia e processadores cada vez mais avançados, para minerar a bitcoin, como há 150 anos picaretas para minerar ouro, que tem que continuar a valorizar para compensar os custos crescentes, caso contrário sobrarão apenas tostões…

Várias casas de câmbio de criptomoedas têm falido. A Youbit, depois de ter sido vítima de roubo de 4 mil bitcoins em abril, não resistiu há três dias a mais um assalto e encerrou.

A tecnologia blockchain, usada pela bitcoin, permite registos de transações assinadas digitalmente de forma a garantir a sua autenticidade. A bitcoin funciona na base de um ledger público, com todas as transações registadas (logs) como se de um caderno de um “Guarda-Livros” se tratasse, sem rasuras, nem aditamentos. É esta base pública, que todos podem conhecer, tal como um número de uma conta bancária que o cliente pode facultar a terceiros para fazerem uma transferência. As transações propriamente ditas são anónimas, encriptadas, e ninguém consegue aceder à nossa criptoconta sem uma password, tal como não conseguimos levantar dinheiro ou efetuar pagamentos com a nossa conta tradicional num banco sem mostrarmos um documento junto do balcão, sem um código de multibanco, ou uma password de acesso ao homebanking. Ou seja, parece uma moeda. Mas não é. Para já é uma moda que não sabemos como vai terminar.

Paulo Rosa, In "Vida Económica", 22 de dezembro de 2017

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A DIFERENÇA ENTRE INVESTIR NO PREÇO OU NO VALOR

Há duas grandes filosofias de investimento tendo em conta os fundamentais das empresas: o investimento em valor e o investimento em crescimento.

Quando olhamos para os fundamentais de uma empresa, desde os básicos PER (“Price Earning Ratio”, relação entre a capitalização e os resultados) e PBV (“Price Book Value”, relação entre a capitalização e os capitais próprios) até ao valor da empresa (“Enterprise Value”, que tem em conta o valor de mercado das ações e das obrigações, os interesses minoritários, empresas subsidiárias, ações preferenciais, caixa e equivalentes, provisões e amortizações), e observamos que a empresa está mais barata do que a sua cotação de mercado, estamos a analisar o valor dessa empresa. Se decidirmos comprar ações dessa empresa estaremos a seguir uma estratégia de investimento em valor. Tipicamente este é o caso de empresas de setores mais defensivos e cíclicos, como as “utilities”, financeiras e energéticas.

A estratégia do investimento em crescimento é mais frequente com empresas tecnológicas, que reinvestem os lucros, não costumam pagar dividendos e têm mais risco do que as empresas da estratégia de investimento em valor.

Quem investe em valor procura os dividendos de empresas como Navigator, REN ou EDP. O investimento em crescimento procura ganhos de capital, com a valorização da cotação, como é o caso da Apple.

Cada filosofia de investimento tem as suas vantagens e desvantagens. Podemos referir que o binómio retorno/risco é mais elevado nas empresas ligadas à estratégia de investimento em crescimento, ao gosto dos investidores mais propensos ao risco. Os investidores mais avessos ao risco preferem empresas com perfil de investimento em valor.

Sendo assim, o investimento em valor pode proporcionar rentabilidades menores, mas mais seguras, enquanto que o investimento em crescimento se traduz em arrojadas rentabilidades, mas que estão também suscetíveis a um risco muito maior, colocando em causa o montante investido na estratégia agressiva (investimento em crescimento) mais que a estratégia mais conservadora (investimento em valor).

O investimento em valor prevê uma margem de segurança, que consiste na diferença entre o preço e o valor intrínseco de uma ação. Quanto mais alta, menor é o risco. Se determinado ativo financeiro em termos fundamentais valer 18 euros/ação, e se o compramos no mercado a 15 euros, então temos uma margem de segurança de 16%. Quanto mais baixo o preço da compra maior é a margem que permite reduzir o risco. É por isso que a filosofia de investimento em valor tem menos risco. Quando se opta por investir em valor, procura-se assegurar uma margem de segurança entre os 30% e os 40%, pelo menos. Estaríamos a falar de comprar a tal empresa entre os 10.8 e os 12.6 euros.

No entanto, o investimento em valor é pouco popular entre os investidores. É por ser uma abordagem de longo prazo? Existe provavelmente uma maior publicidade e divulgação de empresas centradas na estratégia de investimento em crescimento, que depois se reflete num maior número de investidores, o denominado “efeito manada” (“hurdle effect”), com uma acrescida propensão em assumirem posições em empresas de crescimento? A WebSummit, que decorreu em Lisboa há um mês, é uma enorme publicidade a empresas que espelham investimento em crescimento. Os investidores procuram retornos rápidos e não pensam muito no longo prazo, porque, tal como referia Jonh Maynard Keynes, no longo prazo estaremos todos mortos. Porém, no longo prazo, em termos estatísticos, o investimento em valor tem um retorno superior ao investimento em crescimento.

Paulo Rosa, Jornal Semanário "Vida Económica", 15 dezembro 2017





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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.