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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Contrariar a tendência é como tentar parar o vento com as mãos

A ciência económica não é um saber histórico, é uma ciência social. O passado serve para delinear tendências e não para elaborar leis universais. O método dedutivo, a lógica, deverá estar na génese de qualquer teoria económica. Enquanto o método indutivo serve para prever, utilizando dados históricos para se traçarem tendências, porém a probabilidade de falhar é uma realidade. Imaginemos a famosa curva de Philips, baseada num estudo, com dados históricos entre 1861 e 1957, relativo à economia britânica e que conclui um "trade-off" entre inflação e desemprego. Será que podemos extrapolar, essa inferência, para toda a economia global como uma verdade intemporal? Obviamente que não. Uma correlação negativa entre desemprego e inflação não é, certamente, validada como uma lei universal, como é o caso da lei da oferta e da procura. Caso estivéssemos na presença de experiências com ratinhos britânicos durante esse período, poderíamos obter uma cura para determinada doença e usá-la em todos os humanos e válida para o futuro.

As virtudes ou os defeitos do fenómeno inflação não se podem generalizar e validar para todo o sempre, muito menos sem analisarmos a lógica subjacente. No entanto, estudos com ratinhos podem ser usados para criar tratamentos para todos os seres humanos.  

Porém, o passado é importante para se traçarem tendências que nos indicam caminhos a seguir com níveis de confiança bastante significativos. A estatística serve para identificar tendências e não para criar leis universais. Por exemplo, nos mercados financeiros devemos negociar atentos ao retrovisor do carro e, assim, construir tendências, mas sem nunca descurar os sinais de trânsito e a estrada à nossa frente, caso contrário os acidentes vão ser consecutivos e as perdas avultadas. Olhar para o retrovisor para nos lamentarmos que deveríamos comprar em vez de vender é meio caminho andado para não se fazer a primeira curva. O retrovisor serve para ajudar a condução e esboçar estratégias e nos sentarmos sobre os ganhos e nunca sobre as perdas. A tendência pode ajudar bastante um indivíduo ou um investidor que se encontra algures na linha do tempo, que separa o passado do futuro, a observar ao mesmo tempo o passado já traçado e de braços cruzados e pensativo perante os inúmeros caminhos que o futuro lhe apresenta. Muitos clientes perguntam-me: o mercado vai subir ou vai descer? A minha resposta é, há anos, sempre a mesma: A tendência é de baixa [ou de alta, depende do caso], agora se o mercado vai subir ou descer só Deus sabe. E alerto-os de que negociar contra a tendência é como nadar contra a corrente…

Ao atirar ao ar uma moeda, não viciada, a probabilidade de sair cara ou coroa é de 50%, é matemática. No entanto, a sondagem numa determinada eleição, tem um erro de amostra sempre superior a 0%. Um estudo tem um intervalo de confiança sempre inferior a 100%, porque existem inúmeras relações humanas, é a ciência social subjacente à ciência económica. No entanto, a tendência no que concerne ao crescimento económico, ou à evolução dos mercados acionistas é de alta desde os primórdios da humanidade, devido aos avanços tecnológicos e à acumulação exponencial de conhecimentos. Guerras, doenças, fome ou períodos de trevas [Idade Média], com o Estado e o Clero por detrás, podem travar as tendências milenares de alta e gerar tendências seculares de baixa…

Tendencialmente o ser humano tem cada vez menos comportamentos de egoísmo primário e mais de egoísmo salutar, sob a premissa de que não existem almoços grátis ou atitudes "pro bono". Hoje existem mais comportamentos de entre ajuda e solidariedade do que há 100 anos atrás. Apesar de algumas reminiscências da pré-história nas atitudes do ser humano, a teoria evolucionista de Darwin e a análise neurobiológica de alguns cientistas revelam que o Homem é cada vez mais propenso ao egoísmo salutar - ajudar alguém sem querer receber nada - apesar de existir, quiçá no subconsciente porque amanhã poderemos ser nós, uma recompensa futura ou uma sensação de satisfação. O índice de Gini espelha cada vez menos desigualdade. Até aqui a tendência é fundamental… 


In "Vida Económica", 12 de Dezembro de 2014.
http://www.docstoc.com/docs/173255310/Tend%C3%AAncia.pdf

Paulo Monteiro Rosa, economista, 12 de Dezembro 2014










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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.