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sexta-feira, 28 de abril de 2017

DEFENDER A CARTEIRA DA VOLATILIDADE ELEITORAL

No dia seguinte à primeira volta das eleições presidenciais francesas, as bolsas europeias abriram em forte alta com subidas à volta dos 3% e o índice CAC 40, da bolsa de Paris, registou uma valorização de quase 4.5%. O euro subiu 1.5%, contra o dólar, para muito perto dos 1.09. Os 24% conseguidos pelo liberal pró-europeu Emmanuel Macron e os 21% da líder da Frente Nacional Marine Le Pen, que passam à segunda volta 7 de maio, foram um suspiro de alívio: Emmanuel Macron recebeu o apoio imediato da maior parte dos candidatos vencidos e da maioria dos partidos gauleses, apresentando-se como o favorito. Os investidores, a avaliar pela reação dos mercados, parecem preferir um presidente da República Francesa que seja apologista da União Europeia e do comércio internacional, lembrando o maior teórico de sempre nesta matéria, o economista inglês David Ricardo que, no início do século XIX, citando das vantagens comparadas, defendeu que muitos países mesmo que não sejam competitivos na produção de nenhum bem possam especializar-se a produzir aquilo que fazem de melhor.

Para a campanha da segunda volta teremos, por um lado Macron, um defensor da globalização, da União Europeia, da economia de mercado, da reforma do Estado social. Por outro, Le Pen a defender a saída do euro, o protecionismo, um Estado altamente intervencionista e preferências nacionais.
A França debate-se hoje em dia com uma considerável taxa de desemprego, nomeadamente em relação à sua vizinha Alemanha, e uma dívida pública de 100% do PIB, este último fenómeno é transversal à maioria das economias ocidentais.

De acordo com a candidata da Frente Nacional, os franceses devem agora escolher entre "a total desregulamentação, sem fronteiras e sem proteção" e "a França, as fronteiras que protegem os empregos, o poder de compra, a segurança, a identidade nacional". Emmanuel Macron e sua equipa defendem o exemplo de modelos estrangeiros, como a flexigurança escandinava como forma de resolver os 10% de taxa de desemprego na França.

As atuais sondagens apontam para uma vitória de Macron com cerca de 60%, quedando-se Marine Le Pen pelos 40%. As atenções vão estar centradas agora no principal debate entre Macron e Le Pen, a 3 de maio, nas eleições a 7 de maio e num hipotético atentado terrorista.
É de esperar, na próxima semana, volatilidade nos mercados à medida que se aproxime o dia das eleições. Atentados terroristas, que não são de descartar, podem mudar o sentido de voto de alguns franceses e espoletar maior volatilidade aos mercados de ações, obrigações e cambial, devido à incerteza e risco que esse fenómeno provoca.

As casas financeiras, desde bancos a corretoras, estão a pôr em prática medidas de contingência, designadamente nos instrumentos derivados que, devido à sua alavancagem, são mais suscetíveis de causar perdas consideráveis à medida que a volatilidade cresce. É normal que as margens requeridas sejam mais elevadas nestas alturas de incerteza, que o crédito para investimentos financeiros diminua, tal como a alavancagem.

A história recente, com a vitória do Brexit e de Donald Trump nos EUA, demonstrou que os índices europeus podem abrir com um diferencial ainda maior no início da negociação, face ao fecho imediatamente anterior, sobretudo quando os resultados são inesperados.

Alguns intermediários financeiros recomendam aos seus Clientes um acompanhamento particularmente atento deste evento, à medida que a segunda ronda da eleição presidencial francesa se aproxima. Aconselha-se particular atenção a possíveis alterações das condições de mercado, em especial para um possível aumento das margens requeridas tanto na moeda do euro, como nos índices europeus de ações. É sugerido aos Clientes a negociação com responsabilidade e conservadorismo na percentagem de alavancagem face a um nível adequado de garantias ou colaterais. Tudo isto é realizado na tentativa de mitigar o impacto indesejável de movimentos potencialmente voláteis. O investidor é incentivado a exercer uma maior disciplina na negociação procurando monitorizar a suas posições e a manter liquidez, para fazer face a qualquer aumento nos requisitos de margem.

Paulo Rosa, Jornal Semanário "Vida Económica", 30 abril 2017


sexta-feira, 21 de abril de 2017

O QUE É PRECISO PARA SUBIR O RATING DA REPÚBLICA?

Esta sexta, a DBRS, a única agência de “rating” que permite a Portugal aceder ao programa de compra de títulos e injeção monetária do Banco Central Europeu, vai pronunciar-se sobre a sustentabilidade da dívida pública portuguesa e sobre o seu “rating” (notação ou classificação). Apesar de não se esperar que desça para um nível de “Junk Bond” (a que se chama “lixo”, “high yield”, não investimento, investimento especulativo), também não se espera que haja qualquer revisão em alta.

Para que a notação de rating tenha uma expectativa mais otimista e seja revista positivamente pela empresa canadiana DBRS, o rácio dívida/ PIB nominal terá que baixar e mostrar que consegue manter esse curso. É de esperar que essa decisão não tenha qualquer impacto no custo de financiamento do país, visto que as taxas a que negoceiam as obrigações soberanas não são reflexo da notação de crédito da República. Os investidores acreditam que o BCE manterá as taxas de juro mais baixas do que seria de esperar.

Apesar do governo ter apresentado na semana passada o Programa de Estabilidade e do Plano Nacional de Reformas, que a médio prazo podem ter um impacto positivo, mas não devem alterar a classificação da qualidade da nossa dívida pública.

A dívida pública portuguesa continua acima dos 130% do PIB nominal e permanecem os défices públicos, apesar de em 2016 ter sido de apenas de 2%. O serviço da dívida, ou seja, o pagamento dos juros, contribui para esse desequilíbrio. Atualmente o saldo primário das contas públicas, que exclui o pagamento dos juros, é positivo. Porém, enquanto tivermos défices orçamentais superiores ao crescimento económico, designadamente à riqueza nominal, o rácio da dívida pública em relação ao PIB nominal vai sempre crescer, e a aversão ao risco de os investidores estrangeiros aumentar.
A variação da dívida pública é idêntica ao valor do saldo orçamental nominal.

A probabilidade das casas de classificação de crédito (agências de rating de crédito como a S&P, a Moody’s, a Fitch e a DBRS) melhorarem a perspetiva é cada vez menor e, num futuro próximo, e caso a dívida pública continue a aumentar, pode mesmo dar-se o caso de uma revisão em baixa do “rating” da dívida portuguesa.

Apesar de ter melhorado um pouco, o crescimento da economia portuguesa continua anémico, aquém dos 2%. Imaginemos que o crescimento da economia nacional era de 4% e o défice orçamental de 2%, então teríamos, grosso modo, uma descida de dois pontos percentuais da dívida pública de 131% para 129%, apenas pelo efeito do crescimento económico.

Quando teremos crescimentos de 4% ou 5%? Provavelmente, mais depressa o défice orçamental volta para a casa dos 3% ou 4%, do que a economia nacional apresenta um crescimento sustentável e duradouro. A economia portuguesa é competitiva via preço, com mão-de-obra intensiva, e enquanto este não evoluir para uma economia assente no aumento da produtividade e na competitividade extra-preço e de capital intensivo, os crescimentos continuarão anémicos, penalizados também pelo fator demográfico de envelhecimento da população.

A DBRS poderá também ter em conta dois fatores externos: a política de estímulo monetário em curso na Zona Euro e o calendário e ritmo de uma futura subida de taxas, o posicionamento do BCE em relação à dívida portuguesa e o compromisso de manter Portugal na Zona Euro, através de uma vigilância apertada das contas públicas e uma supervisão eficiente aos principais agentes económicos.

E a S&P, a Fitch e a Moody’s só alterarão positivamente o seu “rating” sobre a dívida pública portuguesa quando existir evidência suficiente de que as fragilidades atuais estão a ser debeladas e quando a probabilidade de Portugal honrar os seus compromissos e pagar a dívida for elevada. Ou seja, o rácio de dívida pública/PIB nominal precisa de baixar antes de se iniciar um novo ciclo de subida de juros que inflacione as taxas da nossa dívida pública.

Paulo Rosa, Jornal semanário "Vida Económica" 21 abril 2017




terça-feira, 18 de abril de 2017

A ILUSÃO DO CRESCIMENTO PELO AUMENTO DO CONSUMO

Desde 2009, a economia norte-americana cresce anualmente a um ritmo entre 1.5% e os 3%, bastante mais que a Zona Euro. Nas épocas festivas é esperado que o PIB cresça mais. Na Páscoa esse desempenho será mais percetível na Europa, enquanto que no dia de “Ação de Graças” (Thanksgiving), na última quinta-feira de novembro, o PIB dos EUA sai mais beneficiado. O Natal é transversal, grosso modo, a todas economias mundiais. Depois existem as festas localizadas: o novo ano lunar chinês, o carnaval brasileiro, visita do Papa a Portugal em maio…

Por que é que as economias tendem a crescer mais nas épocas festivas, como é o caso da Páscoa? Obviamente, devido ao aumento do consumo que é uma das variáveis utilizadas para medir o Produto Interno Bruto (PIB = Consumo + Investimento + Gastos Públicos + Exportações – Importações traduzido na equação PIB=C+I+G+(X-M)).

Porém, não é correto inferir aqui qualquer causalidade. PIB=C+I+G+(X-M) é uma identidade, não é nenhuma função. Uma função pressupõe uma relação, mas não existe relação causal entre criação de riqueza e consumo. Cria-se riqueza com base em investimento espelhado na interação do trabalho com bens de capital. Podemos criar riqueza só com trabalho, mas será residual comparada com a riqueza que pode ser gerada com a conjunção de trabalho e capital. A riqueza é função do investimento e da poupança que suporta o investimento (PIB=f(Investimento)).
Em suma, a medida do PIB é apenas contábil, e o consumo é o resultado final de qualquer sociedade, e não a causalidade da riqueza. Um incêndio ou uma guerra geram mais consumo na reconstrução de casas, por exemplo. Aumenta o PIB, mas no final o património da nação permanece o mesmo, ou seja, não houve criação de riqueza.

O multiplicador keynesiano parte do princípio que um euro gasto terá sempre como retorno um valor igual ou superior a 1 euro. O multiplicador, neste caso do consumo, é traduzido pela fração [1/(1-c)], indica que a riqueza produzida seria infinita se o consumo também o fosse, o que não teria lógica económica.

Na pré-história só existia consumo através de atividades recolectora e de caça. Com o aparecimento de utensílios e a descoberta da roda temos o primeiro desemprego em massa, e são libertados recursos humanos para criação de mais riqueza, bem-estar, progresso civilizacional. Só o investimento cria riqueza. E de modo análogo, podemos inferir que no futuro longínquo, quando forem construídos bens que, por absurdo, não tenham desgaste e sejam eternos, não haveria mais consumo... E, obviamente, seria o investimento que estaria na origem desse hipotético estágio avançado, e final, da economia.

Então o consumo nesta época festiva da Páscoa não é benéfico para as economias e para as empresas? Claro que é bastante positivo para algumas empresas, nomeadamente as retalhistas, restauração, turismo… Os lucros serão maiores e poder-se-ão repercutir em subidas nas cotações. Mas estamos a falar de uma fase final do consumo. O investimento que é feito “ex-ante” tem como objetivo uma vida melhor refletida em mais bens e de melhor qualidade. O investimento cria riqueza para vivermos melhor. O investimento é a causa do consumo. O consumo é a consequência, e o objetivo, do investimento.

Segundo o Paradoxo da Poupança, princípio proposto pela primeira vez por John Maynard Keynes, a tentativa de uma determinada sociedade para aumentar a poupança pode resultar na redução do montante que é poupado. Por exemplo, numa situação de recessão ou de estagnação económica, se a população aumentar a sua taxa de poupança, isso irá contribuir para o agravamento da retração do consumo, da produção e do emprego e, consequentemente da poupança.

Por que há então crises económicas com aumento da poupança monetária e a liquidação de processos de produção? Porque tal é uma consequência e não uma causa. Uma consequência das políticas expansionistas dos bancos centrais que enviesam o investimento, a poupança e o consumo, como Friedrich Hayek demonstra nos seus triângulos que medem a riqueza produzida, através dos vários estágios de produção. Esta, na realidade, uma boa forma de calcular o PIB. A poupança real diminui devido à política do Banco Central através da redução das taxas de juro… o que não aconteceria caso as taxas de juro fossem encontradas no mercado entre quem poupa e adia o consumo e quem antecipa o seu consumo e não tem dinheiro suficiente para o fazer. Em síntese final, a minha poupança não é a tua perda por não venderes mais produtos. A minha poupança é o teu aumento de rendimento por teres dinheiro para investir devido ao aforro.

O investimento em Portugal é baixo em relação ao consumo, e essa é uma das causas para os crescimentos anémicos que temos tido.

Paulo Rosa, jornal semanário "Vida Económica" 13 de abril 2017




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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.