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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Bolsas dos EUA à espera de uma correção pontual



Há um ano que o S&P500 não tem uma correção de 5%, facto que não acontece desde 1995, e desde 1950 só se verificou seis vezes. As expectativas dos analistas de Wall Street continuam otimistas e esperam um crescimento dos ganhos das empresas entre 6 e 7% no trimestre. A volatilidade do S&P500, medida pelo VIX, cota atualmente nos 9.50 pontos é dos valores mais baixos de sempre. Porém, é plausível que este comportamento não se prolongue por muito mais tempo sem uma correção…

O emagrecimento gradual do balanço da Reserva Federal norte-americana e a subida das taxas de juro, que vêm sendo anunciados pela presidente do Banco Central dos EUA Yellen Janet, hão-de pressionar o crédito concedido e a conceder, retraindo a tomada de empréstimos para novos investimentos e forçando o aumento dos encargos financeiros das empresas, via subida das taxas de juro, que já têm bastante crédito em carteira. O malparado poderá aumentar. Também é verdade que passam a existir mais alternativas à poupança, com taxas de juro mais atrativas, o que pode condicionar e diminuir o investimento por esta via. A política monetária “loosening” ou expansionista da FED já terminou há 4 anos e o seu discurso “dovish” de 2008 a 2013 há muito que foi substituído por um “hawkish”.   

O Banco Central Europeu, através do seu presidente Mário Draghi avisou na semana passada, que está preparado para começar a assumir uma postura menos expansionista, e quiçá mais tarde mesmo um discurso mais “hawkish” e uma política monetária “tightening”, (contracionista) através do aumento da taxa de juro e diminuição do seu balanço. Tal não deverá acontecer no curto prazo devido à “japonização” da economia da Zona Euro, nomeadamente no que concerne à inversão da pirâmide demográfica.

No entanto, a volatilidade das bolsas tecnológicas, já há mais de um mês, tem aumentado e os índices têm cedido terreno. O Nasdaq100 no início de julho perdia mais de 5% em relação ao máximo verificado a 9 de junho. Na sessão de segunda-feira, um dos principais índices tecnológicos mundiais e o mais importante na China, o Shenzhen Compósito perdeu 4.3%. Este índice acumula uma perda de 9% desde o início do ano e de 11% nos últimos 12 meses.

É normal que a volatilidade desça em momentos de subida paulatina das bolsas, caracterizados por ganhos ligeiros – entre 0.1% e 0.5% - e durante várias sessões consecutivas, que podem muitas vezes chegar a ultrapassar uma dezena de dias de negociação. Uma regra de ouro dos mercados está aqui bem patente: “não se deve cortar ganhos”.
Os detentores de títulos vão segurando as suas ações em carteira, enquanto os compradores vão seguindo a velha máxima de acompanhar a tendência de subida e vão comprando, ainda que cada vez mais renitentes e receosos de uma correção. Por isso as subidas são ligeiras.
  
A volatilidade tende a subir durante períodos de queda das cotações, espelhando o comportamento dos investidores que pressionam a venda de títulos com receio de que continuem em queda perante a ausência de compradores que esperam uma entrada a preços mais baixos, e refletindo uma das regras da bolsa: quando o mercado está a cair, no caso do vendedor, “cortar perdas” e assumir uma posição de venda, e quanto ao comprador “não ir contra a tendência” e deixar descer.
A volatilidade aumenta porque esta movimentação dos compradores e vendedores amplifica bastante as quedas, porque existem muitos vendedores e poucos compradores. Maior propensão à venda e menor apetência para realizar compras.



Paulo Monteiro Rosa, In "Vida Económica" 21 de julho 2017







sexta-feira, 4 de agosto de 2017

A ECONOMIA CRESCE MAS NEM TUDO ESTÁ BEM...

A curva de rendimentos das obrigações é um dos principais sinais para avaliarmos as perspetivas dos agentes económicos – empresas e Estado – sobre a da economia, sobretudo em termos de consumo, poupança e investimento. Uma curva positiva das taxas de juro de longo prazo, com as taxas de prazos mais curtos (a 2 e 3 anos) inferiores às taxas de prazos mais longos (a 10 e 30 anos), indicia expansão económica porque existe uma expetativa de maior inflação ao longo da curva. As taxas de juro de longo prazo podem ser expressadas como taxas de juro de curto prazo, encontradas no mercado monetário através das LIBOR, acrescidas das expetativas para a inflação (taxa de juro longo prazo = Taxa de curto prazo + inflação esperada). Se a inflação esperada for aumentando ao longo do tempo (da curva) significa que há maior pressão sobre os preços devido à maior atividade económica e, logo, mais consumo.

Em meados de 2006 a curva de rendimentos das obrigações do tesouro norte-americano ("treasuries") era negativa – a inflação nos prazos mais longos era inferior à dos prazos mais curtos, indiciando uma recessão económica. Era preciso apenas um rastilho para fazer eclodir a contração económica. O "subprime" foi o pavio que se encarregou de dar origem à crise. Atualmente a curva de rendimentos das "treasuries" é positiva, com as taxas de prazos mais curtos na casa dos 1.6%, 1.8% e 2.1% a 2, 3 e 4 anos respetivamente e os prazos mais longos a 3%, 3.4% e 3.9% a 10, 15 e 30 anos respetivamente, indiciando a continuação de expansão económica.

Porém, quando o banco central mantém artificialmente as taxas de curto prazo baixas, é muito difícil, se não quase impossível, ter uma curva de rendimentos invertida. Vários cenários podem vir a ser "cisnes negros" fatídicos e pode ser tudo o que é preciso para desencadear um pânico de venda nas bolsas e posterior recessão económica.

A economia dos EUA não está a crescer como esperado desde as eleições. Donald Trump e os Republicanos não conseguiram passar nenhuma das medidas de estímulo fiscal. Apesar de algum alívio regulatório para os bancos e empresas de energia, as prometidas reformas da saúde, cortes de impostos e despesas em infraestruturas estão cada vez mais longe da realidade. Os gastos do consumidor são fracos, as pessoas podem estar menos confiantes do que sugerem os estudos sobre o sentimento do mercado e a inflação é baixa. A Reserva Federal dos EUA está religiosamente dedicada à curva de Phillips. O risco de cisne negro pode ser a decisão em contrair demais a política monetária para colmatar a falta de estímulo fiscal e a política orçamental expansionista que parece que não vai acontecer. A política do BCE foi muito mais agressiva, com taxas de juros negativas e incluiu a compra de dívida de empresas.

A economia da Europa está a recuperar, à medida que os vários movimentos populistas e crises bancárias desvaneceram (temporariamente?) mas não podemos esquecer a pirâmide demográfica invertida da Europa e do Japão. As taxas de juro de quase zero na Europa e no Japão vão-se manter por um longo período. O início da política monetária contracionista dos EUA (o "tapering") e o aumento de taxas de juro coincidiu com uma mais enérgica política monetária expansionista por parte do BCE e o BOJ. Há uma elevada dessincronização da liquidez mundial e normalizá-la vai ter custos. Por fim, o crescimento económico da China abrandou para um ritmo de 6.9%, e está alicerçado basicamente em crédito, uma bomba relógio prestes a explodir a qualquer momento. Curiosamente os chineses tornaram público, em meados de julho, através de um relatório do Banco Central da China, que há empréstimos fora do balanço muito mais elevados do que se pensava...

Paulo Rosa, Semanário "Vida Económica", 4 de agosto 2017




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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.