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sexta-feira, 22 de abril de 2022

Literacia financeira suporta mercados

Elevada inflação deteriora o dinheiro parado. Mercados acionistas, sobretudo os setores mais protegidos da inflação, podem ser uma alternativa à liquidez 

Uma inflação de 7,5% na Zona Euro e de 8,5% nos EUA deterioram a liquidez dos investidores. No entanto, um dilema persiste: manter liquidez suficiente para enfrentar qualquer agudização do conflito da Ucrânia, mas pagar um preço por essa estratégia em resultado da elevada inflação ou investir nos mercados acionistas, sobretudo em setores e empresas com suficiente pricing power para tentar colmatar parte das perdas infligidas pela elevada inflação, mas estar exposto a ativos de risco e a um agravamento da guerra no leste europeu.

A diminuição dos receios de uma intensificação do conflito tem reencaminhado os investidores para os mercados acionistas. A última semana não foi exceção e regista ganhos. Ao longo da semana, a cotação do ouro desceu cerca de 60 dólares a onça, um ativo de excelência diante da incerteza, espelhando algum otimismo. Também o preço do petróleo aliviou, refletindo menos incerteza e uma maior propensão dos investidores ao risco. E ao longo da semana, os investidores foram gradualmente aumentando a sua exposição aos ativos de risco, nomeadamente ao mercado acionista. 

Em média os principais índices bolsistas mundiais de ações têm no longo prazo um melhor desempenho do que a inflação. As ações além de facultarem ganhos de capital, também distribuem dividendos ou têm programas de recompra associados. No entanto, no curto prazo a volatilidade e a incerteza afastam os mais propensos ao risco, por isso, a diversificação de uma carteira é essencial e um horizonte temporal mais longo é indispensável. 

Em Portugal há um défice de literacia financeira, não há uma simpatia particular pelos mercados financeiros e as bolsas são vistas, por alguns, como locais de jogo. No entanto, os portugueses são uns proeminentes apreciadores dos jogos sociais. Sendo assim, em média os portugueses têm beneficiado menos dos ganhos acionistas. E num momento de dilapidação do dinheiro em termos nominais, proteção contra a elevada inflação é necessária. Todavia, uma robusta propensão ao investimento imobiliário tem garantido parte dos ganhos subtraídos pela menor propensão à compra de ações e de obrigações. A atração pelo imobiliário poderá advir da sua maior visibilidade, sendo bens físicos, mais tangíveis, cujo funcionamento de investimento e arrendamento coincide muito mais com o quotidiano de cada investidor. Mas o investimento imobiliário necessita de montantes elevados. Para somas mais pequenas os fundos imobiliários podem ser mais exequíveis.

Indiretamente os portugueses investem nos mercados acionistas através das suas contribuições para a segurança social. A gestão deste organismo público procura otimizar os seus fundos através da diversificação dos seus investimentos.            

Esta semana, os resultados empresariais referentes ao primeiro trimestre têm-se revelado em média superiores às estimativas e têm suportado o desempenho ligeiramente positivo dos mercados acionistas. Os pedidos de subsídio de desemprego nos EUA continuam em mínimos dos últimos 53 anos, a corroborar uma economia norte-americana resiliente e a mostrar um mercado de trabalho apertado e robusto. Sendo assim, há receios de maiores pressões salariais que possam criar uma espiral inflacionista indesejável.

PMR In Jornal Económico 21 de abril de 2022




A Bitcoin e a pirâmide das necessidades de Maslow

As criptomoedas são uma realidade cada vez mais presente e transversal a todas as geografias. Mas a sua utilidade parece diferir de país para país, de região para região, muitas vezes de acordo com o nível de rendimento e das necessidades de cada população, dependendo muito do estágio de desenvolvimento de cada país. Se nos países desenvolvidos as criptomoedas, nomeadamente a mais respeitável e influente, a bitcoin (BTC), são tendencialmente mais usadas como instrumento de status social, de valorização, de conhecimento e de reconhecimento, de prestígio e de especulação, em alguns países em vias de desenvolvimento, ou subdesenvolvidos, a sua utilização tende a facilitar as trocas e o seu uso está muitas vezes reservado à salvaguarda de valor. Em suma, se nas economias avançadas as criptomoedas se assemelham mais a um ativo de risco, e são mais uma ferramenta de diversificação do investimento e maximização do retorno, nas economias emergentes ou de fronteira, cujas atividades económicas são mais desestruturadas e menos livres, elas identificam-se mais com uma reserva de valor ou moeda de troca para enfrentar as vicissitudes mais prementes do quotidiano nessas latitudes.    

 

Discute-se muito a importância das criptomoedas, nomeadamente da BTC, como cabais alternativas às tradicionais moedas fiduciárias suportadas pelos Estados, cujo modelo destas últimas assenta no sistema de reservas fracionárias. Será a BTC uma satisfatória reserva de valor, unidade de conta e facilitadora das trocas? As principais diferenças referenciadas pelos entusiastas das criptomoedas em relação às moedas estatais são a liberdade e a descentralização. Mas estas características também as podemos encontrar no ouro. O valor do metal amarelo não depende de nenhum banco central e a sua posse é livre. E apesar de o ouro não gerar nenhum rendimento, apenas ganhos de capital alicerçados na sua valorização, é um ativo que tem mantido o seu valor ao longo da História da humanidade e desde as primeiras civilizações. E se alguém argumentar que a valorização do ouro é uma bolha, então esta já tem mais de 5 mil anos. Além de reserva de valor, a ostentação do ouro representa prestígio, status social e notoriedade, transversal a todas as sociedades globais, passadas e atuais. Mas quanto às criptomoedas, a ostentação parece estar reservada apenas às economias avançadas.  

 

A pirâmide das necessidades de Maslow permite descrever as diferenças de utilidade e finalidade das criptomoedas e das ‘blockchains’ entre as economias avançadas e as economias emergentes ou de fronteira. A Pirâmide de Maslow, também conhecida como teoria das necessidades humanas, organiza as mesmas hierarquicamente. E é constituída por cinco estágios de necessidades: 1. Fisiológicas, desde comida, água, casa (abrigo), sexo e sono. 2. Segurança, da família, do corpo e da propriedade. 3. Social, desde amor, amizade, família e comunidade. 4. Estima, do reconhecimento e do status à autoestima e no topo o 5º, e último estágio, a realização pessoal, desde criatividade, talento, justiça e desenvolvimento pessoal.

Os primeiros estágios, na base da pirâmide, são destinados às necessidades mais urgentes, ou seja, às necessidades fisiológicas. À medida que subimos na pirâmide, as necessidades físicas mais básicas vão sendo satisfeitas e surgem necessidades cada vez mais elaboradas. Das necessidades físicas às metafísicas, das necessidades básicas às necessidades mais elevadas, mais abstratas e subjetivas. Já no topo, estão as realizações pessoais e a procura de um mundo melhor.

 

Portanto, as populações de alguns países menos desenvolvidos, cujas necessidades são mais básicas e fisiológicas (alimentação, casa, segurança da família e da propriedade), procuram a BTC como reserva de valor, e moeda de troca, de forma a lhes garantir a satisfação cabal dessas mesmas necessidades - que o digam os venezuelanos.

Nos países desenvolvidos, as necessidades são cada vez mais metafísicas e as criptomoedas parecem ajudar a satisfazê-las. As ‘blockchains’ de algumas cripotomedas, nomeadamente do Ethereum, suportam NFTs, certificam arte e complementam as crescentes necessidades de criatividade e certificação da mesma. Os ‘metaversos’ são realidades e necessidades crescentes dos mundos desenvolvidos e as criptomoedas tendem a alicerçar estes mundos mais intangíveis. Os mais idealistas procuram uma moeda global, livre e descentralizada, e a BTC parece preencher esses requisitos, pelo menos para os entusiastas da mesma.


PMR In VE 20 abril 2022




terça-feira, 19 de abril de 2022

Guerra na Ucrânia invalida Bitcoin como reserva global de valor

A invasão da Ucrânia pela Rússia aumentou consideravelmente a incerteza e a volatilidade nos mercados. Nos momentos seguintes ao início da guerra, a procura por ativos de refúgio foi uma realidade. A cotação do ouro acelerou a valorização das semanas anteriores ao conflito, refletindo o seu cunho de reserva de valor, e as obrigações do tesouro das economias mais robustas apresentaram um bom desempenho, percecionadas pelos investidores como importantes portos seguros. A principal moeda global, o dólar, também valorizou como é habitual em alturas de menor liquidez. No entanto, a bitcoin (BTC) perdeu valor nas horas que se seguiram à invasão e acompanhou de perto a evolução do mercado acionista, fazendo jus à sua característica de ativo de risco. 

Uma guerra na Europa, em que um dos intervenientes, a par dos EUA, detém atualmente o maior arsenal nuclear do mundo, seria, talvez, um dos melhores testes para aferir a cabal reserva de valor de um determinado ativo. A invasão teve início por volta das 4 horas da manhã do dia 24 de fevereiro, 2h em Lisboa, e nas horas seguintes, a cotação dos futuros do S&P 500 desvalorizou 2,5% e a BTC caiu 8%, dos 37 mil dólares até aos 34300. Enquanto isso, o preço do ouro valorizou mais de 3%, dos 1913 até aos 1973 dólares por onça, o índice do dólar subiu quase 1,5%, de 96,40 até 97,70, o rendimento do tesouro norte-americano a 10 anos desceu de 1,97% para 1,85%, refletindo uma valorização dos títulos do governo dos EUA, e a ‘yield’ do bund alemão caiu de 0,23% para 0,12%. Como habitualmente, a dívida pública, o ouro e o dólar foram os verdadeiros ativos de refúgio perante a crescente incerteza de uma escalada da guerra. Também como habitualmente, a BTC comportou-se como um ativo de risco, evoluindo de forma semelhante ao mercado acionista, penalizada pelo movimento de ‘risk-off’. A exemplo, ao longo de 2018, a BTC desvalorizou 70%, aquando do primeiro, e único, ‘Quantitative Tightening’ da Reserva Federal dos EUA, ano em que o S&P 500 perdeu 8%, o pior desempenho desde 2008. A BTC retomou a tendência de alta na primavera de 2020, impulsionada pelas políticas monetárias expansionistas, como resposta à crise económica imposta pela covid-19, e intensificou a subida a partir de novembro, tal como o S&P 500, a espelhar a descoberta de vacinas eficazes contra a covid-19 e diante das boas perspetivas para a recuperação económica da crise ditada pela pandemia.

A agudização das sanções à Rússia no início de março, mais visíveis no fim de semana de 5 e 6 de março, nomeadamente ao petróleo e ao gás natural russos, culminando em 8 de março com a proibição de importações norte-americanas de combustíveis fósseis russos, impulsionou a cotação do ouro até ao máximo de 18 meses, nos 2070 dólares. Mas nesse mesmo período a BTC desceu 14% e o S&P 500 perdeu 230 pontos, ou seja, à volta de 5%. Durante a guerra na Ucrânia, o ouro tem-se mostrado uma plena reserva de valor, ao contrário da BTC.

Mas se a atual guerra na Ucrânia invalida a BTC como cabal reserva de valor global, ao nível regional e quando as alternativas financeiras diminuem, a BTC tende a mitigar as dificuldades monetárias que aparecem pelo caminho. O controlo de capitais na Ucrânia, com intuito de preservar alguma confiança e valor à economia de Kiev para financiar a guerra, e o aumento significativo das sanções ocidentais à Rússia, criaram dificuldades acrescidas aos povos e aos estados destes países, e as criptomoedas, tais como a BTC, terão acelerado a sua importância como reserva de valor e moeda de troca nestas geografias. Quanto maior forem as fragilidades dos sistemas financeiros em determinadas regiões, maior será a propensão para a adoção de criptomoedas nessas geografias, talvez mais a BTC que é deflacionista, em detrimento do Ethereum que permanece inflacionista, apesar da intensão dos desenvolvedores de quererem alterar o protocolo.

No Vietname, os entraves às remessas dos emigrantes, devido ao controlo de capitais, e a maior propensão ao risco dos vietnamitas, intensifica o uso da BTC. Os venezuelanos procuram a BTC para contornarem a inflação e a forte desvalorização da sua moeda. Excesso de burocracias, corrupção, défice crónico de liberdade, nomeadamente económica, carências de saúde e deficientes sistemas de educação, contribuem para economias alicerçadas em aparelhos produtivos desestruturados e hiperinflação, e, consequentemente, frágeis sistemas financeiros, deficientes sistemas bancários e moedas locais fracas que aumentam a propensão ao uso da BTC. Todavia, são a economia e o trabalho produtivo que criam uma moeda forte e a suportam no futuro…

PMR In VE 14 abril 2022





sexta-feira, 8 de abril de 2022

Juros penalizam bolsas - A curva de rendimentos norte-americana

Na curva de rendimentos dos EUA, o diferencial entre os 10 e os 2 anos entrou em terreno negativo, indiciando recessão a prazo. Mas o spread entre os 10 anos e os 3 meses mostra um movimento díspar, tem aumentado, sinalizando crescimento económico


Nos últimos meses, o spread entre os rendimentos do tesouro norte-americano a 10 e 2 anos tem diminuído substancialmente e recentemente entrou em terreno negativo, antecipando uma recessão económica nos EUA nos próximos 12 a 24 meses. As atas da Fed referem uma redução do balanço de 60 mil milhões de dólares mensais em títulos de dívida pública e a governadora da Fed, Brainard, corroborou também essa postura mais agressiva.


A inversão da curva de rendimentos anula a eficácia da estratégia do carry trade, ou seja, a obtenção de crédito no curto prazo para financiar investimentos no longo prazo deixa de ser interessante. Numa economia em crescimento, a inversão da curva de rendimentos indicia desaceleração da inflação no longo prazo e, consequentemente, abrandamento da atividade económica. Ademais, a curva de rendimentos é um barómetro fiável para aferir a diferença entre o custo do crédito e o ganho gerado quando esse mesmo dinheiro é emprestado ou investido por um longo período de tempo. Se o retorno é negativo, como evidenciado atualmente pelo spread entre os 10 e 2 anos, os empréstimos diminuem e aquela atividade económica impulsionada pelo crédito também. 


Mas a curva precisa ficar invertida por um período substancial de tempo antes de dar um sinal válido. A curva de juros dos 10/2 anos inverteu cerca de 14 meses antes da recessão de 2001, à volta de 19 meses antes da grande recessão de 2008/2009 e pouco mais de cinco meses antes da recessão de 2020. No entanto, após o sinal de alerta os mercados acionistas ainda valorizaram durante um período razoável de tempo. Além disso, a inversão da curva de juros talvez não seja tão confiável na previsão de uma recessão como era antes, porque Reserva Federal dos EUA (Fed) enviesou as taxas de juro com a sua postura de principal player do mercado, espelhada no atual balanço de 9 biliões de dólares. Ou seja, o rendimento a 10 anos seria substancialmente mais elevado sem a atuação da Fed, enquanto o de 2 anos representa a parte da curva que habitualmente reflete as expetativas para o aumento de taxas da Fed, logo seria talvez semelhante ao atual nível. E a curva entre os 10 e os 2 anos pode reverter a inversão, caso haja uma resolução para a guerra na Ucrânia, a inflação desacelere ou a Fed faça uma pausa no seu atual ciclo de alta de juros.  

 

Entretanto, o spread entre os 10 anos e os 3 meses, métrica preferida pela Fed para antecipar possíveis recessões económicas a um prazo de um ano, evidencia um movimento contrário e o diferencial tem aumentado, um sinal de crescimento económico e de diminuição da probabilidade de recessão económica. Além disso, a economia norte-americana permanece resiliente, alicerçada num robusto mercado de trabalho. Os pedidos de subsídio de desemprego semanais nos EUA foram de apenas 166 mil na semana encerrada a 2 de abril, o número mais baixo desde 30 de novembro de 1968.


Em suma, o spread 10 anos/ 3 meses é uma previsão de recessão mais precisa, mas mais ‘lag’. Enquanto, o spread 10 anos/ 2 anos é mais leading indicator, mas para um prazo mais longo e talvez não tão fiável, e a sua validade será tanto maior quanto mais tempo permanecer negativa.



PMR In JE 7 de abril de 2022




24 de fevereiro: o antes e o depois

O primeiro trimestre do ano fica marcado pelo antes e pelo depois do dia 24 fevereiro. A invasão da Ucrânia pela Rússia e as, consequentes, repercussões económicas globais aceleraram a inflação e abrandaram o crescimento económico, aumentando os receios de uma estagflação. E se no início do ano havia um consenso, mais ou menos generalizado, de um melhor desempenho em 2022 da economia europeia face à norte-americana, nomeadamente no que concerne ao impacto da inflação, a guerra na Ucrânia reverteu esse sentimento inicial. As economias europeias, mais próximas do conflito e mais dependentes das matérias-primas russas, principalmente do gás natural, são das mais penalizadas a nível global.

A economia europeia havia abrandado significativamente no final do ano passado, penalizada pelas restrições impostas pelo ressurgimento da covid-19 e pelos gastos acrescidos em energia com a aproximação da estação mais fria do ano. Mas a esperada recuperação nos meses seguintes ao inverno foi gorada pelas implicações resultantes do conflito no leste europeu. Nas últimas semanas, as perspetivas económicas alemãs medidas pelo Ifo, a confiança do consumidor germânico evidenciada pelo GfK e o sentimento apresentado pelo ‘sentix’ da Zona Euro baixaram acentuadamente e regressaram a níveis de há dois anos, aquando do confinamento global ditado pela pandemia na primavera de 2020. 

Entretanto, o Banco Central Europeu reviu em alta a inflação na Zona Euro para 2022 de 3,2% para 5,1% e em baixa o crescimento económico de 4,2% para 3,7%, e procura, agora, enfrentar decididamente a elevada inflação, finalizando o programa de estímulos e aumentando as taxas de juro. Mas um dilema emerge: o de um forte abrandamento da economia, e a tentativa de um soft landing poderá redundar numa recessão. A inflação na Europa tem sido, em grande medida, impulsionada pela alta dos preços dos combustíveis fósseis, uma variável maioritariamente exógena e que subtrai riqueza ao PIB da Zona Euro, facto que retira eficácia às políticas monetárias contracionistas.

Também a Reserva Federal norte-americana reduziu de 4% para 2,8% o crescimento económico dos EUA para 2022, e aumentou as expetativas para inflação, medida pelo PCE, de 2,6% para 4,3%. Talvez os EUA estejam mais bem preparados do que há 50 anos, aquando do choque petrolífero da década de 70, para mitigar, ou mesmo evitar, uma estagflação porque a sua economia é, atualmente, autossuficiente em petróleo e gás natural. Um robusto mercado de trabalho norte-americano mostra uma economia resiliente, mas pressiona os salários. Em março, a taxa de desemprego desceu para 3,6%, o salário-hora aumentou 5,6% e as ofertas de emprego excedem, atualmente, em 1,8 vezes a procura, realidades que pressionam a inflação norte-americana. Nos EUA, além dos valores elevados da energia, os índices de preços são também impulsionados pelas rendas de casas, pelos salários e ainda por alguns, ainda resistentes, desfasamentos nas cadeias de abastecimentos, que podem regressar ou agudizar-se com as repercussões em cascata causadas pela guerra na Ucrânia.   

 Atualmente, a economia chinesa apresenta também debilidades visíveis. A atividade da indústria e dos serviços da segunda maior economia do mundo contraiu simultaneamente em março pela primeira vez desde o auge do surto de Covid-19 no país no início de 2020, aumentando a necessidade de mais intervenções políticas para estabilizar a economia. O Banco Popular da China (PBoC) procura estimular a sua economia através de uma política monetária expansionista, refletindo um desfasamento entre a economia chinesa e os outros três principais blocos económicos globais: o Japão, os EUA e a União Europeia. No início do ano, o PBoC desceu as suas taxas de juro diretoras, e fê-lo pela primeira vez desde abril de 2020, diminuindo também a taxa de reserva mínima legal ao longo do ano passado, no intuito de estimular a sua economia. A inflação chinesa permite essa postura e a variação homóloga do IPC foi de apenas 0,9% em março. O carvão representa 57% do seu mix energético primário e a China é quase autossuficiente neste hidrocarboneto. Entretanto, os EUA e a Europa debatem-se com uma elevada inflação e os seus bancos centrais procuram debelá-la com subidas de taxas de juro e uma redução do balanço. 

PMR In VE 6 de abril 2022



sexta-feira, 1 de abril de 2022

Quo vadis, BCE?

A invasão da Ucrânia pela Rússia travou qualquer postura mais restritiva da política monetária do Banco Central Europeu (BCE) para refrear a inflação. A atual inflação na Zona Euro é resultado de um choque da oferta e os preços das energias respondem por mais de metade da subida da inflação na Zona Euro. Muito provavelmente, um aumento das taxas de juro não iria travar a procura rígida dos combustíveis fósseis e da eletricidade, e penalizaria o crescimento económico.

Numa altura de crescente receio de estagflação, ou seja, de estagnação económica associada a inflação elevada, o BCE deverá adiar a subida das taxas de juro, proteger a economia e permitir inflação acima do objetivo dos 2% por algum tempo. Mas as divergências no seio do banco central da Zona Euro podem aumentar entre aqueles que defendem uma política monetária mais restritiva no combate à inflação e os que advogam uma postura mais comprometida com o crescimento económico. A próxima reunião do BCE, no dia 10 de março, deverá evidenciar e aprofundar diferenças entre membros cuja postura é mais ‘hawkish’, mais firmes na redução da inflação, na subida das taxas de juro e normalização monetária, e aqueles que se mantêm ainda ‘dovish’, agora que a economia europeia pode desacelerar significativamente, em consequência da guerra na Ucrânia. A economia alemã contraiu 0,3% no último trimestre do ano passado, mas os números robustos da produção industrial em janeiro, divulgados na passada terça-feira, mostram como poderia ter sido a recuperação germânica ao longo deste ano. Todavia, a guerra na Ucrânia veio alterar tudo e se a economia alemã contrair novamente no presente trimestre, então entrará em recessão técnica. Perante este cenário, terá o BCE espaço para subir taxas de juro e normalizar gradualmente a sua política monetária? O BCE deverá preocupar-se mais com a economia e a estabilização dos mercados financeiros, abandonando temporariamente uma política monetária mais restritiva de combate à inflação.

Há apenas cinco semanas, a presidente do BCE, Christine Largarde, sinalizou que a prioridade do Banco Central seria mitigar qualquer efeito negativo da elevada inflação sobre a estabilidade financeira, ou seja, uma política monetária restritiva, um final antecipado das compras de ativos, seguido de aumentos das taxas de juros. Entretanto muita coisa mudou. A subida do preço do Brent de 30% e do gás natural em mais de 200%, nas últimas duas semanas, impulsionarão ainda mais a inflação no consumidor no curto prazo. O BCE deve considerar os riscos decorrentes de tensões crescentes nos mercados financeiros. Os spreads soberanos e os spreads de crédito aumentaram substancialmente. Ainda não recompostos da pandemia, os países mais endividados da Zona Euro estão mal posicionados para financiar medidas de alívio dos preços da energia. O BCE deverá, se necessário, limitar o alargamento dos spreads e suportar a coesão europeia. Os mercados acionistas na Europa desceram consideravelmente desde a invasão, nomeadamente as ações dos bancos com exposição à Rússia. O BCE poderá estender o prazo das operações de liquidez de longo prazo, os TLTRO, que expiram em junho, para suportar o sistema bancário.

As taxas de juro de longo prazo aliviaram desde o início da invasão da Ucrânia, no passado dia 24 de fevereiro. O rendimento do tesouro alemão a 2 anos caiu de (-0,33%) até (-0,75%), refletindo as expetativas dos investidores de manutenção das taxas de juro pelo BCE nos atuais níveis. Mas esta descida das ‘yields’ foi também resultado de uma postura defensiva dos investidores, procurando ativos de refúgio como os títulos do tesouro alemão. Nas últimas semanas, as taxas de juro de curto prazo, no mercado monetário, pararam as subidas. Perante a agudização do conflito no leste europeu, a normalização da política do BCE deverá ser adiada e dificilmente haverá subida dos juros pelo Banco Central da Zona Euro.

As atuais taxas de juro do BCE de referência e cedência de liquidez são 0% e 0,25%, respetivamente, desde 16 de março de 2016. A taxa juro referente à facilidade de depósitos é negativa de -0,50% desde 18 de setembro de 2019, remunerando negativamente os depósitos parqueados junto do BCE. É sobre esta taxa que existem probabilidades de subida de juros desde novembro do ano passado. Nos dias que antecederam a invasão da Ucrânia pela Rússia, eram esperadas cinco subidas de 10 pontos base no segundo semestre do ano, de -0,50% para 0%. Atualmente, são apenas duas, a primeira em setembro e a segunda em dezembro, de 10 pontos base cada de -0,50% para -0,30%.


Nota: Texto escrito a 9 de março




Rendas de casa impulsionam inflação

Nos EUA, o preço médio de venda de uma casa foi de 346.900 dólares em 2021, um aumento de 16,9% em relação a 2020, e o mais elevado desde 1999, de acordo com a Associação Nacional de Corretores Imobiliários (National Association of Realtors, NAR). As vendas de casas tiveram o ano mais forte desde 2006, com 6,12 milhões de casas vendidas, um aumento de 8,5% em relação ao ano anterior. Umbilicalmente correlacionados, os custos dos arrendamentos de casas unifamiliares cresceram 12% em 2021, um recorde histórico, de acordo com a CoreLogic. Arrendar uma casa é cada vez mais difícil.

 

A inflação das rendas foi particularmente mais elevada nos alugueres de residências unifamiliares, justificada pela pandemia de Covid-19 que impulsionou a procura de moradias. Os alugueres unifamiliares oferecem espaço ao ar livre (uma segurança acrescida para evitar a covid-19), mais espaço para trabalhar em casa e melhores acomodações para animais de estimação.

 

A forte procura de casas foi encorajada pela descida das taxas de juro e pelos cheques do governo, que elevaram o rendimento disponível dos norte-americanos, permitindo maior capacidade aquisitiva. O balanço da Reserva Federal dos EUA (Fed) aumentou cerca de 115% desde a primavera de 2020 e as taxas de juro desceram para perto de zero e aí se mantiveram durante quase dois anos. A enérgica expansão do balanço da Fed, alicerçada na compra de títulos da dívida pública norte-americana e títulos garantidos por hipotecas (MBS), impulsionou os valores desses títulos e, consequentemente, baixou significativamente os rendimentos das obrigações, das taxas de juro e das taxas de hipoteca. A considerável redução dos custos de financiamento alavancou a compra de casa, num contexto acelerado também pela pandemia.

 

Apesar de boa parte do novo dinheiro criado pela Fed ter permanecido em reservas bancárias e dificilmente ter alcançado diretamente famílias e empresas, a nova moeda não foi neutra quando entrou na economia e os grandes bancos, denominados de ‘primary dealers’, foram os primeiros a recebê-la. A não neutralidade da moeda já havia sido referida há três séculos pelo economista francês Richard Cantillon. Se a moeda criada pelos bancos centrais tivesse sido neutra, todos os agentes económicos receberiam proporcionalmente a mesma quantidade de moeda e haveria uma correspondência muito maior entre moeda criada e aumento da inflação de preços. A teoria quantitativa da moeda (denominada pela identidade MV=PT, que iguala o produto da massa monetária e da sua velocidade de circulação com produto dos preços e o volume produzido) dar-nos-ia uma visão mais linear deste processo de criação de moeda e correspondente aumento da inflação, se existisse neutralidade da moeda. Assim sendo, a nova moeda criada, em grande parte retida como reservas bancárias, impulsionou os mercados obrigacionistas, baixou as taxas de juro, reduziu as alternativas de investimento, sustentou a robusta subida dos mercados acionistas, suportou os mercados imobiliários, a subida dos preços das casas e, consequentemente, dos preços dos alugueres.

 

Em fevereiro, a inflação nos EUA subiu 7,9% em termos homólogos e o ‘shelter’ (rendas de casa e equivalente dos proprietários de imóvel) representou 20% dessa subida. O ‘shelter’ pesa um terço na formação do índice de preços no consumidor (IPC) norte-americano e é constituído pelos custos das rendas de casas de quem aluga, este item pesa 25%, e pelo montante a que os proprietários de casa própria estariam dispostos a alugar o seu imóvel, um peso de 75%. Relativamente a janeiro, a categoria ‘shelter’ subiu em fevereiro 0,56%, o ritmo mais elevado desde o início de 1980, em termos anualizados uma alta de 6,7%. E em termos mensais, o ‘shelter’ foi responsável por 25% da subida de preços.

 

Embora a decisão da Fed, na semana passada, de começar a aumentar as taxas de juros possa diminuir a procura, o banco central não pode fazer muito quanto à falta de oferta. O stock de casas à venda em todo o país caiu para um valor historicamente baixo de 860.000 casas em dezembro, de acordo com a NAR. O aumento das rendas e dos preços das moradias leva tempo até estar totalmente incorporado no IPC. O aumento das rendas de casa tem, nos últimos anos, um desfasamento de cerca de 16 meses no indicador de inflação, de acordo com uma análise do Conselho de Assessores Económicos da Casa Branca. Tal como os receios de uma espiral salários-inflação, existe também preocupação quanto a uma espiral rendas-inflação.

 

PMR, 25 de março VE


Inflação suporta mercados

A atual elevada inflação poderá estar a ser incorporada, pelo menos em parte, nas cotações das ações, cujos preços são nominais. Ceteris paribus, esta postura suporta o mercado acionista

Os números da inflação agudizam-se e os bancos centrais respondem com uma política monetária contracionista cada vez mais enérgica. Atualmente, o mercado espera que a Reserva Federal dos EUA (Fed) suba a taxa de juro em 50 pontos base em cada uma das duas próximas reuniões de política monetária, a 4 de maio e 15 de junho. Aumentos que colocarão os juros da Fed no intervalo [1,25% a 1,50%] antes do início do verão, face ao presente intervalo [0,25% a 0,50%]. E uma subida de 25 pontos nas restantes quatro reuniões de 2022, encerrando o ano no intervalo [2,25% a 2,50%].

Os mercados acionistas recuperaram dos mínimos e procuram equilibrar-se entre um erro de política monetária que cause uma recessão e uma economia resiliente com um robusto setor consumidor e empresarial. Os indicadores de atividade económica, PMI, espelham uma tendência de alta da confiança dos empresários na Europa e nos EUA, e os pedidos de subsídio de desemprego norte-americanos de apenas 187 mil, o nível mais baixo desde 6 de setembro de 1969, mostram bem a força do mercado de trabalho nos EUA e a robustez da economia norte-americana.

 Apesar do aumento dos receios de uma estagflação, as ações mantiveram-se firmes. Como os índices acionistas e a cotação das ações são nominais, um determinado índice que encerre o ano a perder 5%, significa que na realidade perdeu 10% em termos reais se a inflação for de 5% no final de dezembro de 2022. Por isso, e ceteris paribus, há margem para alguma subida dos índices pela simples incorporação da inflação. Há empresas que conseguem repassar aos seus clientes os custos mais elevados das matérias-primas, desde energia e produtos agrícolas aos metais industriais, bem como da mão de obra, dos bottlenecks que elevam os preços, dos alugueres e dos empréstimos mais caros. As empresas aumentam preços para protegerem as suas margens de lucro. E no final, apresentarão lucros mais elevados, pelo menos em termos nominais, que deverão ser espelhados na cotação e nos índices, agora também mais inflacionados, mas não necessariamente com ganhos reais. Se entrarmos em recessão, algum ganho nominal que poderia existir reverterá para uma perda, com certeza. Mas a inflação deverá ser incorporada, pelo menos em parte, nas cotações. Se nas últimas décadas a inflação raramente interferiu com o apuramento dos ganhos acionistas no final do ano, atualmente fazê-lo é fundamental. 

Os bancos têm recuperado diante das posturas do Banco Central Europeu (BCE) e da Fed que se mantêm resilientes no combate à inflação. Todavia, o Banco de Inglaterra (BoE) tem recuado no tom mais hawkish, preocupado com a queda dos rendimentos das famílias espoletada pela guerra na Ucrânia, descida essa que poderá ser agravada com juros mais elevados. O BoE espera que a inflação atinja um pico de 8% no segundo trimestre.

 A rotação no mercado é visível. As petrolíferas registam ganhos. Setores cíclicos, como seguradoras e automóveis, são apostas preferenciais num cenário de taxas de juro mais elevadas. Diante de inflação mais alta, há setores que registam melhores desempenhos. Em apenas alguns dias, a Tesla aumentou duas vezes os preços dos seus veículos elétricos. 


PMR, 25 de março JEconómico 



Fed prepara redução do balanço

À medida que a inflação se agrava, e após uma primeira subida de 25 pontos base, a Reserva Federal dos EUA (Fed) deverá, nas próximas semanas, apresentar um plano para a redução do seu balanço. O banco central dos EUA mais do que duplicou o seu balanço desde o início da pandemia, em março de 2020, uma subida de 4,8 biliões de dólares, de forma a enfrentar a recessão económica ditada pelo confinamento na primavera desse ano. Um plano final do quantitative tightening (QT) poderá ser apresentado em 4 de maio, data da próxima reunião do banco central dos EUA.


Diante da elevada inflação, o ritmo de contração do balanço poderá ser, agora, mais rápido do que o registado no QT do período de 2017 a 2019, a única experiência anterior do mercado com uma Fed em missão de redução de ativos. O aperto de liquidez foi encerrado em 1 de agosto de 2019, aquando da primeira descida de juros da Fed em 11 anos de 2,50% para 2,25%, numa altura em que a curva de rendimentos dos EUA tinha invertido nos 3 meses e nos dois anos relativamente aos 10 anos, indiciando recessão económica. Durante o ano de 2018, o balanço da Fed encolheu 8,4% e o S&P 500 desvalorizou 6,2%, a maior queda desde a grande recessão.

A 16 de setembro de 2019, o pagamento trimestral de impostos pelas empresas e a liquidação de uma emissão de dívida pública norte-americana retiraram cerca de 120 mil milhões de dólares do mercado monetário diretamente para a conta geral do tesouro dos EUA junto da Fed. A drenagem desta liquidez criou dificuldades no mercado monetário, nomeadamente no de recompra, conhecido por mercado de ‘repos’. Os bancos que compram títulos da dívida pública em leilões financiam-nos, grande parte das vezes, através do mercado de recompra. No dia 17 de setembro, a taxa de juro de financiamento Overnight com garantia (SOFR - Secured Overnight Financing Rate) mais do que duplicou e atingiu os 5,25%, muita acima do intervalo das Fed Funds Rate de [2% a 2,25%]. Ficou claro nessa altura que os bancos voltaram a estar renitentes em emprestarem dinheiro entre si. Nesse mesmo dia, a Fed regressou ao mercado de ‘repos’, substitui-se aos bancos comerciais que detinham fundos, forneceu a liquidez necessária e continuou a fazê-lo todas as manhã até junho de 2020, implementando um QE informal espelhado numa subida de quase 10% do seu balanço nos três meses seguintes até ao final do ano. No dia 19 de setembro de 2019, a Fed voltou a cortar as taxas de juro em 25 pontos, justificando a postura com receios de desaceleração económica.

Atualmente, a saída da Fed como o principal comprador de títulos do tesouro ameaça agravar as condições dos mercados de taxas de juro, já de si fragilizados pelos grandes bancos norte-americanos que limitam a sua formação de preços no mercado, comportamento que poderá ser responsável pela mais recente volatilidade. As obrigações do tesouro norte-americano registam o pior trimestre das últimas décadas. Quando a liquidez é baixa no mercado de dívida, as transações concentram-se mais nas emissões de referência (on-the-run) e o spread alarga-se relativamente às restantes emissões (off-the-run) dessa mesma maturidade, impulsionando ainda mais as ‘yields’. Ademais, o mercado espera uma subida de 50 pontos em cada uma das três próximas reuniões da Fed e uma subida de 25 pontos nas restantes três reuniões, finalizando o ano no intervalo [2,50% a 2,75%].  

Os ativos no balanço da Fed somam cerca de 9 biliões de dólares, incluindo 5,7 biliões em títulos do tesouro e 2,7 biliões em títulos garantidos por hipotecas. O Comité Consultivo de Empréstimos do Tesouro (Treasury Borrowing Advisory Committee), um painel dos principais investidores em obrigações que reúne trimestralmente com o Departamento do Tesouro, no início de fevereiro estimou uma contração de 320 mil milhões de dólares na carteira de títulos da Fed este ano. Mas isso foi antes de Powell salientar uma ação mais rápida para conter a mais grave inflação em quatro décadas. A previsão do Deutsche Bank, no lado mais ‘hawkish’ do espectro de projeções, estima 800 mil milhões de redução este ano e 1,1 biliões de dólares em 2023. No balanço da Fed existem quase 1,2 biliões de dólares em títulos do tesouro que expiram nos próximos 12 meses e a não renovação reduziria o balanço nesse montante, mas a Fed pode preferir controlar a curva de rendimentos. Salientar que hoje os bancos têm uma significativa liquidez de 5,6 biliões em reservas e a pressão é menor do que em setembro de 2019, altura em que as reservas tinham diminuído para 1,5 biliões de 2,5 biliões no início do QT. Todavia, os bancos não são obrigados a emprestar...

PMR, 1 de abril 2022 In VE



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.