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sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Tecnológicas mais penalizadas pelos juros

Nos últimos dias, as empresas tecnológicas têm sido das mais penalizadas em bolsa, castigadas pela subida das taxas de juro de longo prazo, nomeadamente do tesouro norte-americano. As crescentes expectativas de aumento das taxas de juro pela Reserva Federal dos EUA (Fed) para responder não só à elevada inflação, mas também para normalizar a política monetária, têm penalizado mais as empresas cujos ‘cash flows’, ou seja, o diferencial entre as receitas e os custos que dão origem aos fluxos de dinheiro que entram e saem da empresa, são gradualmente mais elevados nos anos mais longínquos e menores nos anos mais próximos. E, na realidade, os fluxos de dinheiro, os retornos e os lucros são mais elevados nos períodos mais afastados em muitas empresas tecnológicas, mas não só. Também as empresas criadas recentemente e que se iniciam em bolsa, como as ‘startups’, através de Ofertas Públicas de Venda (OPVs), apresentam receitas baixas e custos elevados nos primeiros anos, mas as previsões para os ’cash flows’ futuros vão aumentando gradualmente e de forma significativa.

Juros mais altos reduzem o valor presente do fluxo de caixa esperado, e isso significa que os investidores procuram pagar menos por uma ação. No primeiro trimestre do ano passado, em fevereiro e março, o rendimento do tesouro dos EUA a 10 anos quase duplicou e o Nasdaq caiu mais de 10%.

O método do desconto dos ‘cash flows’ (DCF), ou seja, o valor atualizado líquido (VAL) dos resultados que serão gerados no futuro por uma determinada empresa ou investimento, traz para o presente o valor de todos os retornos futuros. O termo ‘cash flow’ ou “fluxo de caixa” é usado nesta análise como sinónimo de lucro.

De 2022 a 2027, o somatório dos ‘
cash flows’ das empresas A e B em termos nominais é idêntico, mas quando aplicada uma taxa de juro para atualizar os valores futuros dos lucros para o dia de hoje, o valor da empresa B é menor do que o da empresa A. Se a taxa de juro for de 0,5%, o VAL da empresa A nos seis anos em questão é de 43,70 €, ou seja, 1,75% inferior ao seu valor nominal de 44,48 €, mas o VAL da empresa B é de 43,33 €, uma descida de 2,6% face ao seu valor nominal e mais baixo 0,8% que o VAL da empresa A. Perante uma subida da taxa de juro para 2%, o VAL de A é de 41,48 €, uma descida de 6,75%, mas a empresa B, cujos ‘cash flows’ crescem significativamente ao longo do tempo, o VAL é de 40,10 €, uma queda de 9,85% e mais baixo 3,4% que a empresa A. Em suma, a empresa A é tendencialmente uma empresa madura e de estilo ‘value’, enquanto a empresa B é muito provavelmente uma empresa em crescimento, uma ‘startup’ de uma tecnológica. À medida que a taxa de juro aumenta, os ‘cash flows’ futuros valem cada vez menos e quanto mais longínquos, menos valem.

A ‘
duration’ é um termo utilizado na negociação no mercado obrigacionista e descreve a sensibilidade da cotação de uma obrigação a uma alteração dos juros, e as empresas tecnológicas têm em média mais ‘duration’ do que as restantes empresas. As obrigações com datas de vencimento mais longas têm uma ‘duration’ mais elevada.

Todavia, as taxas de juros e os seus efeitos sobre os preços das ações são mais transitórios, e menos importantes, do que a sustentabilidade dos retornos futuros muitas vezes alicerçados em tecnologias inovadoras e disruptivas. 

Paulo Rosa, Vida Económica 20 janeiro 2022








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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.