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sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O custo de produção do "shale Oil": o preço do petróleo passa agora por aqui

Quando Donald Trump foi eleito para a presidência dos EUA, a 8 de novembro, as cotações das empresas de energias renováveis (EDP, EDPR, as alemãs RWE e E.ON, as espanholas Iberdrola e Endesa e elétricas americanas, entre outras) caíram imediatamente, em reação à pouca simpatia de Trump por energias verdes. Isto numa altura em que o mercado vive um "rally Trump" impressionante de final de ano, algo que não se verificava nos últimos anos. O mercado acionista está entusiasmado com o impulso que Donald Trump promete dar à economia norte-americana, e por arrasto à economia mundial, através do aumento da despesa pública e da descida de impostos, prolongando o ciclo de crescimento da economia dos EUA, que dura há oito anos. Porém, e Inevitavelmente, veremos a dívida pública norte-americana aumentar, quando já se encontra em níveis substancialmente elevados, e muito dificilmente se manterá o crescimento por muito mais tempo.

As expectativas em torno da subida das taxas de juro nos EUA e da evolução da sua política monetária também animaram o mercado, num mês que costuma ser bem mais calmo.
O preço do petróleo também subiu, mas a principal razão não foi o facto de Trump ter convidado o presidente da Exxon Mobil para Secretário de Estado. Foi o acordo, entre os países da OPEP, para reduzir a produção em 1,2 milhões de barris diários no final de novembro e em 1,8 milhões de barris a partir de janeiro.

Segundo os analistas, historicamente, a taxa de cumprimento do que é acordado nas reuniões da OPEP situa-se entre os 50 e os 80%.
Há sempre um país que fura o acordo, tradicionalmente entre os que produzem barato, na casa dos 5 a 15 dólares por barril, como a Arábia Saudita e países da península arábica, para não perderem quota de mercado.

Devido à indexação das receitas do petróleo às despesas públicas dos países, como na Argélia ou em Angola, os países produtores sentem-se mais confortáveis com preços altos apesar do risco de perda da quota de mercado. Dado que o último acordo foi realizado entre membros da OPEP e outros países, como a Rússia, a probabilidade de incumprimento é ainda maior.

A perda de quota de mercado dá-se, nomeadamente, para o "Shale Oil" (petróleo de xisto) cujos poços podem ser reabertos com facilidade e sem investimentos avultados. A OPEP há muito que deixou de ser um fixador de preço e está, neste momento, entre a espada e a parede porque ao reduzir a produção para tentar pressionar o preço em alta, os países que formam o cartel correm o risco de perder quota de mercado e receitas.

Aliás, o fixador do preço de mercado passou a ser o custo de produção do "Shale Oil", nomeadamente dos produtores norte-americanos, que ronda, hoje em dia, valores entre os 50 e os 55 dólares por barril. À medida que os progressos tecnológicos vão avançando, os custos de produção vão diminuindo e o preço do petróleo também. Por absurdo, se os custos de produção do petróleo de xisto norte-americano, e também das "Oil Sands" (petróleo betuminoso do Canadá e da Venezuela), descesse para 20 USD/barril, então o preço do petróleo baixaria para esses valores.

Para Portugal, país importador de petróleo, é sempre negativa a subida do preço. A subida sistemática dos preços dos combustíveis nas últimas semanas, e mesmo meses, é causada não só pelo aumento do preço do barril de petróleo, mas também pela subida do dólar em relação ao euro, mais acentuada após a eleição de Donald Trump.

A economia portuguesa é muito sensível ao preço do petróleo, apesar de existir um crescente peso das energias renováveis. O Orçamento do Estado para 2017 baseia-se numa previsão de 51.3 dólares por barril. No Orçamento de Estado para 2017, o Governo prevê que um preço acima dos 20% estimados tenho um impacto negativo de 0.2 pontos percentuais no PIB. Atualmente o Brent de Londres, que serve de referência para Portugal, cota bem acima nos 56 dólares.

Caso o preço do barril continue a subir ainda mais, os impactos negativos no PIB, na balança comercial e na dívida pública serão consideráveis. Porém, se o petróleo voltar à casa dos 40 ou mesmo 30 dólares, o impacto pode não ser muito positivo, pode não ser muito relevante porque a economia portuguesa tem um crescimento bastante anémico e que, provavelmente, continuará no próximo ano.

Paulo Rosa, Semanário "Vida Económica", 16 de dezembro 2016


segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

JOGO DA BOLSA: não há melhor para experimentar os Derivados

Esta é a última semana do JOGO DA BOLSA. Sexta feira vamos conhecer o concorrente que melhor geriu o dinheiro (virtual) que lhe foi confiado. Não podemos adivinhar-lhe o nome, mas quase que aposto que o vencedor não se ficou pela compra e venda de ações ou obrigações. Faço ainda mais uma aposta: só vai conseguir aqueles ganhos porque usou derivados.

As ações ou obrigações não são forma mais eficaz para se ganhar o jogo. Com derivados, devido à sua alavancagem, é mais fácil ganhar. E, muito provavelmente, o vencedor será encontrado entre alguém que apostou em derivados, desde CFD ao Forex, e seria quase impossível estar entre os que apenas investiram em ações ou obrigações.


As obrigações são uma forma de as empresas se financiarem através do mercado de capitais, tal como na emissão de acções. Mas as acções compram uma parte (do capital) da empresa e as obrigações são um empréstimo à empresa. As obrigações são muitas vezes apelidadas de capitais alheios, passivo da empresa, porque o seu financiamento é obtido através de pessoas singulares ou colectivas porque precisamente não levam o investidor à propriedade da empresa. O financiamento através da emissão de acções é nomeado de capitais próprios porque confere ao seu titular a qualidade de dono da empresa, com vários direitos, entre eles o de receber a contrapartida dos lucros gerados sob a forma de dividendos. A esse retorno (relação entre o capital investido e a remuneração ganha) chamamos de “dividend yield” – rentabilidade dos dividendos.

Genericamente, as obrigações representam títulos de crédito que conferem ao detentor receber um juro periódico e, numa determinada data pré-conhecida, o reembolso do capital emprestado.
O elemento principal é a taxa de juro, o valor nominal, o preço de emissão, o valor do reembolso a forma de amortização.

Grosso modo, no que concerne à rentabilidade, o retorno de uma obrigação é relativamente reduzido quando comparado com um derivado, mas o risco também é significativamente mais baixo, e resume-se ao incumprimento dos compromissos financeiros por parte da empresa em causa. A aquisição de obrigações é aconselhável para investimentos de longo prazo e para investidores mais avessos ao risco, logo não faz sentido ter numa carteira que se espera multiplicar várias vezes durante um mês como é o caso do Jogo da Bolsa.
As acções também acabam por ser colocadas de parte no jogo, porque se apostamos numa acção que achamos que vai subir, quem adquirir futuros ou CFD desse mesmo activo subjacente irá ganhar dez vezes mais do que nós, caso a margem seja 10%, e obter uma vantagem logo à partida muito substancial para ganhar o jogo em relação a quem comprou acções no mercado à vista. Os derivados também têm a vantagem de se poder ganhar com a queda do mercado, enquanto que o investimento em acções ou obrigações se traduz em perdas caso o mercado esteja de baixa.

Os derivados são os mais aconselhados para se ter sucesso no jogo da bolsa.
A alavancagem é uma excelente estratégia para se ganhar o jogo e, provavelmente, nenhum jogador o vencerá sem exposições assentes no crédito. Porém, se o mercado evoluir no sentido contrário ao das opções tomadas pelo jogador, ele irá ficar com certeza entre últimos.
Esta estratégia, que parece ser a mais adequada para se vencer o jogo, deve ser utilizada com muita cautela no mundo real. Colocar todo o dinheiro num produto alavancado pode ser a melhor opção para se vencer no mundo virtual, mas pouco recomendável para se alcançar o sucesso no mercado real, nomeadamente no longo prazo. A alavancagem é comumente utilizada em três estratégias: arbitragem, cobertura de risco e especulação. No entanto, a estratégia da especulação pode originar por vezes dissabores bastante significativos.

Os activos alavancados como CFD, futuros e opções ou Forex permitem abrir um contrato e ganhar, ou perder, a diferença entre o preço de abertura e de fecho. Facultam a prerrogativa, ou não?!, de negociar com apenas uma percentagem do valor total de exposição, daí a sua característica alavancada que reúne riscos e benefícios muito consideráveis. As posições abertas poderão acarretar ganhos ou perdas significativamente superiores ao capital investido. Por isso, será a melhor a melhor estratégia para ganhar o jogo. Todavia, toda a atenção, na sua negociação no mercado real, é pouca…

Em suma, o jogo da bolsa leva-nos à impressionante inferência de que temos sempre que distinguir entre o que é um jogo e o que é a realidade…

Paulo Rosa, Jornal de Negócios 5 de dezembro 2016



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.