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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O QUE PREFERE: ESTAR ISENTO DE CUSTOS BANCÁRIOS OU TER O DINHEIRO MAIS SEGURO?



A nova regra do resgate de bancos (bail-in, resgate "por dentro", interno) alarga o seu perímetro aos detentores de dívida sénior e aos depositantes com mais de 100 mil euros. Essa regra, em vigor desde 1 de janeiro de 2016, tem afastado os investidores dos títulos da banca, especialmente a dos países da periferia. Em Portugal, com a passagem da dívida sénior do Novo Banco para o BES, com o crédito malparado do setor imobiliário, a resolução do Banif, a situação é agravada.

Até aqui, o resgate era quase exclusivamente um "bail-out" (resgate "por fora", externo
) suportado pelo Estado (pelos contribuintes). No caso dos grandes bancos, sob o pretexto de que o tamanho impediria a falência, "too big to fail", os Estados viriam sempre em socorro da "estabilidade do setor financeiro".

A resolução do BES, a 3 de agosto de 2014, serviu de cobaia das novas regras de resgate, ainda com um perímetro reduzido de perdas limitado aos acionistas e detentores de dívida subordinada. E viu-se que o "bail-in" não impediu uma crise do sistema bancário.

Para o surgimento de crises, o dinheiro criado pelos bancos centrais tem uma influência decisiva. A descida das taxas de juro da FED de 6% em 2000 para 1% em 2003, inundando o mercado de dinheiro barato, criou uma bolha imobiliária que rebentou em 2007, depois da subida das taxas até aos 5%, em três anos. O mesmo tinha acontecido quase a “papel químico”, no que concerne ao comportamento e timing na alteração das taxas de juro pela FED, antes da crise de 1929.

É imprescindível uma intervenção dos bancos centrais? Se a capacidade instalada das empresas está em máximos, mais dinheiro não é necessário. Bem pelo contrário, irá criar bolhas nos mercados financeiros e no sector imobiliário. Além de enviesar a poupança real existente, retirando-lhe valor, e colocando em causa projetos sólidos alicerçados em I&D. 

A moeda criada pelos bancos centrais (moeda-central) entra na economia através dos bancos. No entanto, tal como referiu o economista francês Richard Cantillon, no séc. XVIII, essa nova moeda não tem uma entrada neutra. Em primeiro lugar são os agentes económicos mais favorecidos e informados que recebem essa moeda e à medida que os preços vão subindo outros vão tomando esse novo dinheiro. Os menos informados, que compram já no final do "boom" económico, sofrerão perdas avultadas quando se inicia a correção das bolhas.

No sistema financeiro existe moeda-central, criada pelos bancos centrais, e moeda-crédito criada pelos bancos. Na Suíça está a ser pensado fazer um referendo para acabar com o atual regime bancário de reservas fracionárias, retirando aos bancos a criação moeda-crédito. Por cada depósito à ordem um banco pode emprestar uma parte e coloca uma "fração" junto do Banco Central. Se a taxa de reserva legal for de 10%, um depósito de 1000 euros pode criar 9000 euros de moeda-crédito. Se existir um "bank run", só haverá dinheiro para os primeiros e o banco ficará insolvente. Para um bom funcionamento do sistema bancário há uma regra de ouro que nunca deve ser descurada: os prazos dos depósitos devem coincidir com os prazos dos empréstimos ou aplicações. Os depósitos à ordem, tal como o próprio nome indicia, estão sempre disponíveis, logo se forem emprestados estarão a quebrar a aludida regra de ouro.

Porém, acabar com as reservas fracionárias não resolve o problema. Há que escolher entre um regime de reservas fracionárias e pagar um valor residual pela manutenção das contas bancárias ou um sistema com reservas a 100%, onde não há criação de moeda-crédito porque os bancos não podem utilizar os depósitos à ordem. Se a taxa de reserva legal aumentar, o preço da manutenção das contas terá que subir para cobrir os custos dos bancos e fazer face à perda de receita pela não utilização dos depósitos à ordem.

Os bancos têm, obviamente, custos com sistemas de segurança e informáticos, colaboradores, instalações. O próprio lucro do acionista.

Mas o problema persiste como é corroborado pela queda do BES, devido aos empréstimos imprudentes ao problemático GES. Nas grandes empresas, porque existe captura de valor por parte dos gestores em detrimento dos donos, e nomeadamente em todos os bancos, tal como no Estado, a gestão do dinheiro [dos outros] é tendencialmente mais displicente do que a gestão do nosso próprio dinheiro. Aconteceu com o empréstimo da PT à Rio Forte, colocando imprudentemente os “ovos todos no mesmo cesto”. E também quando existem promiscuidades com o sistema político.


Como se resolveria o problema? Uma garantia dada pelo banco por cada depósito? Aumentar os custos de manutenção de conta bancária e comissões? Se os depositantes quiserem estar isentos de custos bancários, têm que estar dispostos a correr os riscos da utilização dos seus capitais. O risco existirá sempre! E o elevado crédito malparado do imobiliário deverá ser suportado pelos "stakeholders" (clientes, acionistas, obrigacionistas e fornecedores dos bancos) ou pelo contribuinte? O que é mais justo?

Paulo Monteiro Rosa, economista, In Vida Económica 29 de janeiro de 2016.



sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

PETRÓLEO ABAIXO DOS 30 DÓLARES - IRÁ ATÉ AOS 20?


Esta semana, o WTI de Nova Iorque, que serve de referência do petróleo para os EUA, esteve abaixo dos 30 dólares/barril, nos 29.96 dólares, o valor mais baixo desde dezembro de 2003.

A queda do preço do petróleo tem sido uma constante nos últimos meses justificada pelo excesso de oferta, nomeadamente com a entrada no mercado do "Shale oil" e do crude canadiano. A diminuição da procura de petróleo, devido ao abrandamento económico global, mas especialmente à fraqueza da economia chinesa tem sido outro motivo invocado. Nos EUA, as reservas de petróleo encontram-se em máximos de 1930. E não podemos ignorar que os avanços tecnológicos vêm pressionando os custos de produção em baixa.

Várias casas de investimento referem que o petróleo poderá descer até aos 20 dólares/barril em 2016, e algumas apostam mesmo no petróleo abaixo dos 20 dólares. A OPEP não reduziu a produção, há dois meses, em novembro de 2015. Ora, com o dólar norte-americano em alta, fruto de uma política monetária contracionista da FED e inflacionista do BCE e dos restantes grandes bancos centrais mundiais, a cotação do petróleo, que cota em dólares, tem sido pressionada. Esta matéria-prima, bem como a maior parte das matérias-primas a nível mundial, é cotada em dólares. Quando o dólar valoriza o seu preço fica mais caro nas outras moedas e há lugar a um ajuste em baixa.

Segundo o ministro nigeriano do petróleo, numa informação avançada a 12 de janeiro, a OPEP deverá agendar uma reunião extraordinária para o início de março, para tentar solucionar a queda acentuada do preço do petróleo. Um corte na produção desta matéria-prima poderá ser a principal medida para travar a descida. Os países fora da Península Arábica são os mais atingidos porque têm custos de produção bastante mais elevados que os 6 a 15 dólares/barril do Qatar, Emirados, Kuwait e Arábia Saudita. Devido à indexação das receitas do petróleo às despesas públicas dos países, como é exemplo a Argélia, Angola, entre outros, as dificuldades dos orçamentos públicos já se sentem há mais de um ano, com a diminuição das divisas nestes países a acentuar-se nos últimos tempos.

Mas há um fator que pode travar as quedas: se o petróleo chegar aos 20 dólares/ barril muitos investidores "shorts", que assumem posições curtas, sentem-se mais inibidos para apostar na queda do preço porque o "downside" é muito limitado e o risco assumido dificilmente compensa os ganhos que poderão surgir dessa estratégia. Nestes níveis já nos aproximamos dos custos de produção da maioria dos países que produzem barato, logo uma queda abaixo destes níveis é pouco provável. Sendo assim, poderemos assistir a um "pullback" pontual, uma recuperação em alta da cotação do "ouro negro", talvez até perto dos 40 dólares/barril, mesmo sabendo que os principais fatores que pressionam o preço vão persistir nos próximos tempos.

O WTI e o Brent estão em "contango" ou "forwardation", termo usado no mercado de futuros para descrever uma curva a prazo com inclinação ascendente. O preço no futuro de uma mercadoria excede o seu preço atual quando existe excesso físico da mercadoria. É o que acontece normalmente a uma mercadoria não perecível como o petróleo que tem um custo de posse (taxas de armazenamento mensais de cerca de 1 USD/barril, seguros de 0.3 USD, mais juros). No "contango" quando se excede o custo de posse surge uma oportunidade de arbitragem, de lucro. O contrário, curva descendente, denomina-se de "backwardation".

O índice das "commodities" medido pela Bloomberg registou, na passada terçafeira, o mínimo desde 1991, o que indicia um abrandamento mundial, que se confirma com a recessão na Rússia e no Brasil, e crescimento anémico na Europa. A economia norte-americana é a única, nomeadamente nos últimos três meses, que tem revelado um crescimento relativamente significativo, como espelham os dados macroeconómicos divulgados no dia 8 de janeiro, relativos ao mercado de trabalho (taxa de desemprego nos 5% e criação de 300 mil postos de trabalho). A queda do preço do petróleo, como principal referência para as mercadorias, tem também pressionado, em parte, a descida destas.

Paulo Rosa In Vida Económica, 15 de janeiro de 2016





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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.