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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

NOVEMBRO: UM BOM MÊS PARA POUPAR E INVESTIR

O Estado Português vai realizar uma nova emissão de Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), que será a terceira desde a criação deste produto destinada ao mercado de retalho, no montante de 500 milhões de euros. Esta subscrição, dirigida ao público em geral, arrancou a 14 e termina a 25 de novembro. Trata-se de um título de dívida a cinco anos, com reembolso em 30 de novembro de 2021, sendo os juros pagos semestralmente.

O investimento mínimo é de mil euros e em múltiplos desse valor até ao máximo de um milhão de euros. A OTRV será admitida à cotação na Euronext, como as duas emissões já existentes. Estas últimas cotam acima de 100, ou seja, se o investidor pretender vender agora o seu investimento vai receber um valor superior ao que investiu, o que dá mais garantias e entusiasmo à presente emissão. A cotação em bolsa varia de acordo com a evolução das taxas de juro: negativamente, se subirem as taxas de juro da dívida soberana portuguesa e positivamente com taxas de juro mais altas do mercado monetário, no caso, se a taxa Euribor a 6 meses subir.

A taxa de juro é de 2% acrescida da Euribor a 6 meses que, caso seja negativa como acontece atualmente, não será tida em conta. Há mais de um ano que as taxas Euribor a 6 meses estão em terreno negativo. Se as taxas de juro subirem nos próximos cinco anos, então a remuneração será maior. Há comissões bancárias de subscrição e amortização, guarda de títulos e pagamento de juros a ter em conta, bem como 28% de imposto a pagar, como acontece sempre que há pagamento de juros e dividendos.

Nas duas operações anteriores, em abril e agosto, os juros eram a taxa fixa de 2.2% e 2.05%, respetivamente. A taxa desta terceira emissão é de 2%, ligeiramente mais baixa que as anteriores, mas esta opção do Estado é justificada pela elevada procura nas emissões anteriores, pelas reduzidas taxas de juro dos depósitos a prazo, o produto de poupança preferido dos portugueses, que estão muito próximas de zero, e pela evolução das taxas de juro no mercado da dívida. Para dar um exemplo, no início de novembro, a taxa das Obrigações do Tesouro (OT) a cinco anos cotava à volta dos 1.8%, esta semana foi aos 1.95%, mas abaixo dos 2% garantidos pelo Estado.

Os títulos de dívida emitidos pelo Estado, ou por qualquer outra entidade, não têm todos o mesmo risco. Normalmente o risco é mais elevado quanto maior for a maturidade, o prazo contado desde a emissão até ao reembolso, do título em causa. Temos mais certezas no curto prazo com base em tendências e notícias e a incerteza aumenta com o tempo. As expetativas para inflação também influenciam as taxas de juro de longo prazo.

As OTVR são muito semelhantes aos Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro no que concerne à perceção de risco. Têm um caráter de aforro e destinados ao público em geral, pelo que deverão estar poupados a perdas em caso de renegociação de dívida, ou bancarrota (default). O mercado de dívida esteve vedado à Grécia e a Portugal durante os períodos de resgate. Porém a República Helénica continuou a financiar-se no mercado através da emissão de Bilhetes do Tesouro. Portugal emitiu sempre BT entre abril de 2011, quando pediu ajuda externa, e junho de 2014. Na Grécia a reestruturação da dívida pública, de abril de 2012, apenas penalizou as OT. Os BT foram sempre pagos integralmente. Se os BT, instrumentos de dívida de curto prazo e cuja emissão em mercado primário é assegurada por bancos, foram sempre pagos, a probabilidade de um instrumento de dívida criado para o retalho, como as OTRV, ser sempre pago é mais elevada.

Tendo em conta o risco implícito, as OTRV têm uma rentabilidade muito atrativa face às alternativas para o mesmo nível de taxa de juro. As OT a 5 anos rendem atualmente 1.95% e têm um risco mais elevado que as OTRV, sendo mais propensas a um "haircut" em caso de reestruturação da dívida soberana portuguesa. Se a Euribor a 6 meses passar para cerca de 2%, as OTRV pagam 4%, uma taxa bastante interessante face a títulos com um risco significativamente mais alto como as obrigações da SAD do FC Porto ou da SAD do Benfica…

Paulo Rosa, Semanário "Vida Económica", 18 novembro 2016


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

ERA UMA VEZ NA AMÉRICA...

Quem será melhor para a economia e para as bolsas, Donald Trump ou Hillary Clinton? Estas eleições são, talvez, uma exceção do que aconteceu nos EUA nos últimos 200 anos. Um povo dividido - cerca de dois terços dos brancos apoiam Trump e a maior parte dos hispânicos e dos afro-americanos votam Hillary. Em termos de evidência histórica do Dow Jones desde 1901 até 2016, uma vitória de Hillary Clinton seria mais desejável para os mercados. O DJ teve um retorno médio anual de 7% com presidentes democratas, contra os 3% de retorno médio em administrações republicanas. As presidências democratas têm tendência para políticas expansionistas mais expressivas, quer monetária quer orçamental? Talvez. Mas se forem criadas bolhas, através de políticas monetárias bastante inflacionistas por parte da FED e aumento do orçamento federal através de mais despesa pública e subida dos impostos, elas terão que ser corrigidas mais tarde ou mais cedo.

Há quem refira que uma governação de Hillary seria mais previsível que uma governação de Trump. Mas uma vitória de Hillary pode resultar num impasse no capitólio, parlamento dos EUA, com um congresso atualmente controlado pelos republicanos. A maioria dos senadores (câmara alta) e da casa dos representantes (câmara baixa) são republicanos, o que pode contribuir para mais investigações sobre os e-mails de Hillary, a Fundação Clinton e alegadas corrupções, levando a um eventual "impeachment" (destituição).

Apesar de existirem fatores que beneficiam mais um ou outro candidato há uma estatística importante: a economia e o mercado foram penalizados a seguir às eleições de 1992, 2000 e 2008. Nos últimos oito anos, a economia dos EUA subiu, mas começa a arrefecer. Numa situação de pleno emprego - a taxa de desemprego está abaixo dos 5% - a economia deveria crescer cerca de 3%, mas cresce apenas 1%. A correção pode estar a caminho, seja quem for o próximo presidente.

As sondagens nas últimas semanas têm encurtado a distância entre Trump e Clinton. Hillary foi perdendo a vantagem e muitas sondagens apontam para um empate técnico. Os mercados também têm corrigido e boa parte dos analistas justifica as perdas do mercado com esse facto, o que mostra que estariam mais confortáveis com uma vitória de Hillary. Porém, os dados macroeconómicos mais fracos nos EUA, e uma possível subida das taxas de juros por parte da Reserva Federal no próximo mês podem ser a verdadeira razão do fraco desempenho dos mercados acionistas nos últimos dias.

O índice S&P 500 tem lateralizado desde julho e está em mínimos dos últimos quatro meses, descendo 5% desde os máximos históricos atingidos em agosto, nos 2193 pontos. Neste momento está perto da média móvel de 200 dias (MA200) que passa nos 2080 pontos, que é uma fronteira entre um mercado "bull" (altista) e um mercado "bear" (de baixa). O Nasdaq 100 já perdeu 4% desde o máximo de 25 de outubro até 1 de novembro. A descida do Nasdaq 100 pode ter mais relação com a eventual bolha que existe no setor, alimentada pela falta de alternativas, com taxas de juro negativas e pelos resultados trimestrais abaixo das estimativas, do que pelas sondagens das eleições.

Paulo Rosa, In "Vida Económica" 4 de novembro 2016





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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.