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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O IMPACTO NA ECONOMIA DAS MEDIDAS DO BANCO CENTRAL EUROPEU

Assistimos, neste momento, a uma estagnação económica em vários países nucleares da "Eurolândia". E à medida que os números da economia da Zona Euro se deterioram, a política monetária do Banco Central Europeu (BCE) torna-se cada vez mais enérgica. No passado dia 4 de setembro, o BCE reforçou a sua política monetária inflacionista.

A taxa de depósitos passou de [-0,1%] para [-0,2%] e reduziu a taxa diretora de 0,15% para 0,05%, para tentar colmatar o arrefecimento da economia e a desaceleração dos preços dos bens e serviços, apesar de este último fenómeno ser ainda reflexo da correção, após a crise financeira de 2008, dos preços do imobiliário e de alguns títulos do mercado de capitais, nomeadamente ações e obrigações emitidas pelo setor bancário. Em junho, o BCE já tinha diminuído a taxa de depósitos de 0% para o valor negativo de [-0,1%], a taxa de referência de 0,25% para 0,15% e delineado um programa de empréstimos de longo prazo (Long term Refinancing Operations, LTRO) a realizar em setembro e em dezembro deste ano, no valor de 400 mil milhões de euros.

Esta política, cada vez mais ousada, pode beneficiar os títulos mobiliários, ações e obrigações, e o setor imobiliário. Porém, as dificuldades económicas da Zona Euro não se resolvem com políticas monetárias expansionistas, paliativos para comprar tempo, enquanto não se tomarem medidas estruturais para debelar os reais problemas: população envelhecida, mercado de trabalho rígido e falta de recursos energéticos ao nível petrolífero e gás natural.

As economias pós-bolhas, após políticas de taxas de juro perto do zero, envolvem-se na clássica "armadilha da liquidez". Os agentes económicos – famílias, empresas e estados - da União Europeia, dos EUA e do Japão, penalizados pela crise financeira de 2008, estão mais centrados em pagar o excesso de dívida acumulada antes da crise do que em assumir uma nova dívida e impulsionar o consumo. Em poupar, do que em regressar aos antigos hábitos de consumo. Mas medidas para uma efetiva livre concorrência no mercado seriam mais profícuas do que a criação de mais regulamentação e estímulos ao consumo e investimento sem freios…

No Japão, cuja economia padece em parte dos mesmos problemas da zona Euro, a agressiva política monetária não se traduziu em crescimento económico, como seria expectável por muitos. Os elogios às medidas "Abenomics" foram precoces e os resultados resumem-se, quase exclusivamente, à subida de 100% do índice acionista Nikkei 225.

A deflação não é um problema, mas um sintoma de excesso de capacidade instalada devido a políticas monetárias inflacionistas. No Japão, esta política teve o seu auge na década de 80 e a correção dos excessos ainda hoje perduram. Já a deflação normal, advinda dos avanços tecnológicos, é sempre desejável e reflete-se na democratização do consumo.

Nos EUA, desde 2009, o desemprego desceu dos 9,9% para 6,1% e a economia tem crescido a um bom ritmo. A arrojada política monetária expansionista é a responsável por este comportamento? Provavelmente não. O bom desempenho é fruto das características intrínsecas da economia americana: mercado de trabalho flexível, população jovem e recursos energéticos. Os EUA são o maior produtor mundial de petróleo, beneficiando das novas tecnologias na exploração mais intensa de "shale oil" e "shale gas", petróleo e gás de xisto. Também o Reino Unido tem apresentado um crescimento aceitável, o petróleo do mar do Norte e a City de Londres, grande centro financeiro mundial, conferem uma dinâmica importante ao crescimento da economia britânica.

Mais dinheiro criado pelos bancos centrais não gera mais trabalho? Sim, no entanto é uma verdade falaciosa de curto prazo. Os bancos cedem mais crédito às empresas que criam novas unidades de produção, há um estímulo à criação de emprego e ao consumo. A descida da taxa de depósitos junto do BCE para [-0,2%] empurra os bancos para a concessão de crédito a negócios, provavelmente, sem viabilidade. É quase como emprestar sem olhar a quem...

Quando o mercado corrigir, estas empresas serão as primeiras a falir, criando um espiral de desemprego. Os incentivos monetários do BCE são o equivalente aos subsídios concedidos pelos Estados ao prolongamento da vida de empresas que deixaram de ser competitivas.
O estímulo ao consumo também acabará por refrear quando os salários não compensarem em termos reais a subida dos preços dos bens e serviços.
Os desequilíbrios, já existentes, entre a poupança e o investimento também são agravados.

É o trabalho, consubstanciado na sua produtividade, que gera riqueza e criará mais moeda em circulação e não o contrário.

http://www.docstoc.com/docs/172448451/Pol%C3%ADticaBCE.pdf

Paulo Monteiro Rosa, economista, 12 de setembro in Semanário "Vida Económica"



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.