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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Estarão os analistas mais preocupados com os EUA do que com a Europa?

O caminho da austeridade e estabilização dos défices é necessário?
A austeridade é importante para mudar as variáveis do crescimento económico: Reduzir o peso do consumo, importações e gastos públicos e aumentar o peso das exportações e do investimento. Portugal não deve cair no erro da competitividade via preço. Deve optar pela competitividade via tecnológica. O paradoxo de Kaldor aflora este fenómeno cabalmente, quando refere os crescentes excedentes comerciais da Alemanha e do Japão desde o pós Guerra até aos dias de hoje. Apesar dos salários subirem, os seus produtos continuaram sempre competititvos.

As empresas  e as famílias conseguem aguentar um ano de austeridade?
Todos têm que aguentar uma contracção económica de 4, 5, 6%, ou seja lá que ajustamento for nos próximos anos. É imperativo fazer os ajustamentos. Os défices orçamentais, não deveriam ser défices mas excedentes. Os défices continuam a somar à dívida pública. Hoje, dia 18 de Janeiro, as Yields das Obrigações do Tesouro português a 10 anos voltaram a registar máximos históricos, desde que entramos na Zona Euro.

Estarão os analistas mais preocupados com os EUA do que com a Europa? Os EUA preocupam. A Europa não.
A Europa não preocupa se caminhar para um federalismo, uma união política [é provável que venha a acontecer no longo prazo] que lhe permita ter um orçamento único, logo uma plena política económica e por conseguinte as tão faladas "eurobonds". A Zona Euro tem um excedente comercial de quase 50% do seu PIB [Alemanha, Holanda, Finlândia, Áustria]. Mas os países europeus têm que corrigir os seus endividamentos públicos derivados de décadas vividas acima das suas possibilidades que não foram sustentadas por um crescimento económico robusto. Os EUA preocupam porque têm um défice comercial crónico. A sua correcção acarretaria desequilíbrios e ajustamentos significativos de todos os países a nível global, nomeadamente dos maiores exportadores mundiais como a China, Alemanha e Japão. O ajustamento tem de ser gradual...

Os EUA são os últimos consumidores de tudo que é produzido a nível mundial. São responsáveis pela criação [anual] de 1 milhão de postos de trabalho na China...

Os ajustamentos dos défices gémeos [défice público e défice comercial] dos EUA,  provocam [provavelmente] "ondas sísmicas" muito mais significativas na Europa, do que a própria crise das dívidas soberanas que a Europa vive actualmente.

O ajustamento das contas dos EUA preocupa mais o resto do mundo do que a própria nação norte-americana. Os EUA poderiam por absurdo viver em autarcia, porque as suas relações com o resto do mundo representam 10% do seu PIB. Os EUA são uma nação-continente. Já o resto do mundo teria mais dificuldades em viver sem os EUA. Daqui se depreende a importância e a contínua supremacia da economia norte-americana.  

O USD continua a ser hegemónico nas relações comerciais a nível mundial, com um peso de 85%. No início do séc. era de 89%. As mercadorias continuam a ser cotadas em dólares americanos. Apesar do dinheiro "fiat", dos consecutivos quantitative easing [impressão de dinheiro geralmente electronicamente], terem subjacente um país com graves desajustamentos macroeconómicos, o dólar americano continua a ser uma moeda fiduciária de excelência. A economia americana continua a merecer a confiança dos investidores de todo o mundo. A fidúcia na maior economia do mundo permanece intacta, onde o Know-How continua a proliferar [a cidade de Boston tem mais cientistas por m2 que qualquer outra parte do mundo]. Mas a economia e o sistema financeiro norte-americano não estão equilibrados nos pratos da balança e o seu reequilíbrio tem de ser feito muito gradualmente, sob pena de cair nas mãos dos vindouros uma grande depressão económica, idêntica à de 1929, muito provavelmente com maior impacto na economia europeia e do resto do mundo do que na própria economia dos EUA. Em suma daqui se inferi que os desequilíbrios da economia norte-americana preocupam mais que as dívidas soberanas europeias...

11 comentários:

  1. Boa tarde caro Paulo.

    Obrigado pelo seu esclarecedor artigo que veio confirmar as minhas preocupações.

    Resta saber o grau de impacto que terá na economia europeia e mundial...

    Cumprimentos,
    André Vaz

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Excelente artigo Paulo Rosa, esta é a grande tempestade que se perfila no horizonte e que poucos falam ainda.

    Fica a questão se com o fim ou uma descida acentuada do €, o dólar e os americanos não terão uma margem mais segura para enfrentar a sua dívida.

    Visto que o Yuan continua a ser uma moeda paciente, só o € atrapalha.

    Qual a sua opinião caro Paulo?

    Um abraço.

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    1. Olá caro Vivendi,

      Agradeço a sua apreciação.

      A guerra cambial é um pouco "surda". Não é fácil compreendê-la. Por exemplo no EURUSD existem uns 14 players influentes na sua transacção. Ambas as moedas [EUR e USD andam muito fracas. O dólar castigado pelo défice comercial e o euro pelas dívidas soberanas].

      A economia americana para reajustar o défice comercial precisava de uma desvalorização significativa do USD. Quando o EURUSD chegou quase a 1.50 EURUSD o défice comercial dos EUA baixou para 400 mil milhões USD [mas também coincidiu com a crise de 2008 e o proteccionismo, mesmo que inconsciente, das economias. Os EUA deixaram de importar tanto porque faltava dinheiro às pessoas para consumir]. Hoje o défice está a voltar para valores a rondar os 700 mil milhões anuais, perto dos máximos de sempre.

      A descida do euro poderá não ser o melhor para o reequilíbrio comercial dos EUA e por conseguinte retirar confiança à economia americana, logo encarecer as yields das T-Bonds. E de qualquer das maneiras não limpará os défices orçamentais e continuará a acumular à dívida pública dos EUA.

      Mas um euros fraco, manterá longe qualquer tentativa dos países quererem colocar dinheiro em €, mudarem o preço das mercadorias para euros e aumentar o peso do euro nas relações comerciais. Continuará o USD a ser rei e senhor das relações comerciais. E a alocação continuará a ser T-bonds americanas. Mas isso não resolve por si só os défices gémeos dos EUA...

      Um abraço e bom fim de semana,
      Paulo

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  4. Amigo Paulo. Um obrigado pela sua resposta. Um bom fim de semana para si também.

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  5. Caro Paulo Monteiro Rosa,

    Tomei conhecimento do seu blogue. Parabéns por ele!
    Gostaria de lhe colocar a seguinte questão: não se torna necessária uma regulação das agências de rating? Os cortes feitos por elas não agravam ainda mais a situação?

    Obrigado desde já.

    Pedro

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    1. Boa tarde caro Pedro Almeida,

      Agradeço a sua apreciação do blogue "Omnia Economicus".

      A regulação é sempre necessária e nunca peca por excesso. Além trará mais transparência. Mas reforçar a regulação das agências de rating sem aumento de regulação a montante dos bancos e de todo o sistema financeiro, não resultará em nenhuma melhoria. As agências trabalham com os dados que lhe são fornecidos pelos bancos, estou a referir-me por exemplo ao caso do "subprime".

      Os cortes elaborados pelas agências de rating podem [e já foram em alguns casos] ser perniciosos. Por vezes são procíciclicos. Baixam determinada rating de uma entidade [empresa, Estado soberano, etc], por sua vez o mercado penaliza esses títulos e a agência de rating vem novamente a terreiro diminuir o rating, criando-se um ciclo vicioso. Os ciclos virtuosos, de upgrades de rating também acontecem, porém tendem a ser mais lentos no tempo...

      Quanto ao caso dos países periféricos da Zona Euro [do qual Portugal faz parte] não foram prejudicados pelas agências de rating. Referindo o caso português: Portugal tinha um rating de "AA", duplo A, em 2008 e nesta altura a integração europeia não era posta em causa. As yields das Obrigações do Tesouro dos países da Zona Euro não eram muito díspares em 2008. A Alemanha tinha 3.6% e Portugal 3.8% a 10 anos. Mas provavelmente o rating português não estaria correto e não deveria ser de "AA"? A tendência das contas portuguesas é há mais de uma década desfavorável, no entanto como estávamos/estamos numa integração o "AA" aceitava-se. Mas a partir de 2008 a intergação europeia começou a regredir e as yilds das OT começaram a refletir isso. Com a subidas das yields das obrigações do tesouro e dos CDS [dredit default swaps] de países como Portugal [com défiecs gémeos, orçamental e comercial graves] e a descida [e fucionar como refúgio] das obrigações do tesouro germânico. E com o agravar das contas portuguesas e a regressão da integração europeia, chegamos ao rating de BB [junk] para a dívida pública portuguesa. Um rating que se encaixa que nem uma luva na dívida pública portuguesa. As agências de rating não tiveram qualquer influência no agravar da situação. Os portugueses só se podem queixar de 2 coisa: De nós próprios [ sas nossas contas paupérrimas] e da evolução negativa da integração europeia nos últimos 3 anos, desde 2008. Julgo que desde a cimeira europeia de 9 Dezembro 2011, a integração poderá estar a regressar...

      Há interesses no seio das agências de rating? Sim, há. Mas haverá alguma organização onde não existam interesses? O Homem é um animal de jogos e interesses... Faz parte da sua natureza.

      PS: Tomo a liberdade de o convidar para ser membro do blogue "Omnia Economicus".

      Com os meus melhores cumprimentos,
      Paulo Monteiro Rosa

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  6. Bom dia caro Pedro Almeida,

    A regulação é sempre necessária e nunca peca por excesso. Além trará mais transparência. Mas reforçar a regulação das agências de rating sem aumento de regulação a montante dos bancos e de todo o sistema financeiro, não resultará em nenhuma melhoria. As agências trabalham com os dados que lhe são fornecidos pelos bancos, estou a referir-me por exemplo ao caso do "subprime".

    Os cortes elaborados pelas agências de rating podem [e já foram em alguns casos] ser perniciosos. Por vezes são procíciclicos. Baixam determinada rating de uma entidade [empresa, Estado soberano, etc], por sua vez o mercado penaliza esses títulos e a agência de rating vem novamente a terreiro diminuir o rating, criando-se um ciclo vicioso. Os ciclos virtuosos, de upgrades de rating também acontecem, porém tendem a ser mais lentos no tempo...

    Quanto ao caso dos países periféricos da Zona Euro [do qual Portugal faz parte] não foram prejudicados pelas agências de rating. Referindo o caso português: Portugal tinha um rating de "AA", duplo A, em 2008 e nesta altura a integração europeia não era posta em causa. As yields das Obrigações do Tesouro dos países da Zona Euro não eram muito díspares em 2008. A Alemanha tinha 3.6% e Portugal 3.8% a 10 anos. Mas provavelmente o rating português não estaria correto e não deveria ser de "AA"? A tendência das contas portuguesas é há mais de uma década desfavorável, no entanto como estávamos/estamos numa integração o "AA" aceitava-se. Mas a partir de 2008 a intergação europeia começou a regredir e as yilds das OT começaram a refletir isso. Com a subidas das yields das obrigações do tesouro e dos CDS [dredit default swaps] de países como Portugal [com défiecs gémeos, orçamental e comercial graves] e a descida [e fucionar como refúgio] das obrigações do tesouro germânico. E com o agravar das contas portuguesas e a regressão da integração europeia, chegamos ao rating de BB [junk] para a dívida pública portuguesa. Um rating que se encaixa que nem uma luva na dívida pública portuguesa. As agências de rating não tiveram qualquer influência no agravar da situação. Os portugueses só se podem queixar de 2 coisa: De nós próprios [ sas nossas contas paupérrimas] e da evolução negativa da integração europeia nos últimos 3 anos, desde 2008. Julgo que desde a cimeira europeia de 9 Dezembro 2011, a integração poderá estar a regressar...

    Há interesses no seio das agências de rating? Sim, há. Mas haverá alguma organização onde não existam interesses? O Homem é um animal de jogos e interesses... Faz parte da sua natureza.

    Com os meus melhores cumprimentos,
    Paulo Monteiro Rosa

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    Respostas
    1. Caro Paulo Monteiro Rosa,

      O meu muito obrigado pelos seus preciosos esclarecimentos.

      Bem-haja!

      Com os melhores cumprimentos,

      Pedro Almeida

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  7. Parabéns pelo artigo e pelos comentários!

    Um angolano-português na Finlândia!

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  8. Boa tarde,

    Agradeço sua apreciação.

    Um bem haja.

    Cumprimentos de um Angolano/Português em Portugal.
    Paulo Monteiro Rosa

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.