O Banco Central Europeu (BCE) anunciou no passado dia 6 de
Setembro um segundo programa, não
convencional, de compra ilimitada de títulos de dívida pública de países da
Zona Euro que se encontram em dificuldades financeiras. Segundo Draghi,
presidente do BCE, a desconfiança na moeda única prejudica os efeitos da
política tradicional do BCE e acrescentou que estas novas operações seriam
esterilizadas. Interrogamo-nos se serão através da absorção de liquidez dos
bancos dos países do norte da Europa. Não será fácil esta esterilização e caso
não se consiga integralmente, a inflação aparecerá mais tarde…
No entanto, mesmo que a operação seja neutra em termos de
massa monetária, há implícito um aval
ao endividamento dos países. Aval
aceitável se for profiláctico, com o objectivo de ganhar tempo até se conseguir
uma solução política para a Zona Euro. Aval
aceitável porque tem subjacente a responsabilização dos países beneficiados
pela medida de ajustarem e consolidarem as suas contas públicas.
A Reserva Federal norte-americana (FED), como forma de
travar o abrandamento da economia, anunciou no passado dia 13 de Setembro uma
nova expansão monetária, através de um terceiro “Quantitative Easing” (QE3), impressão electrónica de dinheiro. A nova medida caracteriza-se pela compra,
mensalmente, de 40 mil milhões de dólares de obrigações compostas por hipotecas
imobiliárias. É colocado dinheiro no passivo do balanço dos bancos por
contrapartida do activo do balanço da FED. Assistir-se-á à transferência de
obrigações hipotecárias dos bancos para a Reserva Federal.
Existem milhares de milhões de dólares injectados pela FED
nos cofres dos bancos, das empresas e dos fundos. Continuar a inundar o mercado
de liquidez, provavelmente, só surtirá efeito ao nível da valorização dos
activos financeiros…
Ambos os bancos centrais insistem nas medidas que nos
trouxeram até esta crise financeira: o aumento da base monetária, uma política
de expansão monetária inflacionista. A FED fê-lo desde 2000 até 2003 com a
descida da sua taxa de juro de referência, Fed
Funds Rate, de 6.5% para 1%, reflectindo-se de seguida numa subida superior
a 100% nos preço das casas entre 2002 e 2007. A moeda em circulação, moeda física,
na Zona Euro passou de 350 mil milhões de euros em 2005 para 867 mil milhões de
euros em Junho deste ano.
Estão criados os requisitos essenciais para a cotação da
onça de ouro continuar suportada e, provavelmente, subir nos próximos tempos.
A criação de moeda, sem produção subjacente, aumenta a
liquidez no mercado, baixa o preço da moeda e traduzir-se-á no futuro numa
espiral inflacionista.
Como o ouro não gera renda e as taxas de juro estão
praticamente a zero, torna-se cada vez mais indiferente deter moeda ou ouro.
A actual crise financeira ainda não terminou e,
provavelmente, os alicerces da próxima já estão a ser construídos. As políticas
monetárias expansionistas que nos trouxeram até esta crise, obviamente, não
poderão ser agora a solução do problema, através de mais expansões monetárias.
A incerteza veio para ficar. O ouro continuará a ser um activo de refúgio…
Paulo Monteiro Rosa, economista, 20 de Setembro de 2012
Bom dia Paulo,
ResponderEliminarExcelente artigo.
Mas confundiu-me com a seguinte frase:
"Como o ouro não gera renda e as taxas de juro estão praticamente a zero, torna-se cada vez mais indiferente deter moeda ou ouro."
Nenhum deles gera, portanto, renda. Mas o ouro ao valorizar, achei que cada vez mais se torna evidente e importante deter ouro em vez de toilet paper.
Tem a mesma opinião sobre a valorização da prata?
Pode explicar?
Obrigado.
Um abraço
Boa tarde Paulo. Também não entendi a frase: "Como o ouro não gera renda e as taxas de juro estão praticamente a zero, torna-se cada vez mais indiferente deter moeda ou ouro."
ResponderEliminarSerá que pode esclarecer-me um pouco mais? Obrigado. Mário C.