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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

UMA RECEITA PARA UM CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL: CONSUMO OU INVESTIMENTO?

O consumo é um fim em si mesmo. Corresponde à satisfação das necessidades económicas das pessoas e organizações, através de bens e serviços. É o consumo que permite às empresas escoar os produtos e rentabilizar a sua atividade.

No entanto, se todo o dinheiro for destinado ao consumo, não haverá poupança e, sem ela, não há investimento. Se alguém consumir todas as batatas que produziu, não terá nenhumas para semente, nem dinheiro para a aquisição de bens de capital para modernizar os utensílios agrícolas e rentabilizar a produção. No ano seguinte, não terá batatas para consumir nem para vender. Um agricultor com um trator é mais produtivo do que dez com uma enxada, e estes mais produtivos que cem sem qualquer ferramenta.

É por isso que tem que existir uma ponderação entre consumo e poupança. Tudo o que for consumido não pode ser poupado. O rendimento disponível das famílias que não seja utilizado na aquisição de bens de consumo será poupado e pode ser investido na aquisição de bens de capital e aumentar os estágios de produção. Algumas empresas, nomeadamente as que vendem ao público e se posicionam no último estágio, serão penalizadas pelo aumento da poupança pois venderão menos, mas a economia como um todo será mais que compensada com o surgimento e crescimento de empresas que produzem bens de capital, que investem em Investigação e Desenvolvimento (I&D) e em meios de produção mais avançados tecnologicamente. A economia sairá bastante mais fortalecida e o crescimento será mais sustentável.

Como surgiram os "smartphones"? Como apareceram medicamentos mais eficazes? Com investimento, todo ele resultante da poupança real de alguém. O dinheiro criado pelos bancos centrais é apenas papel ou dígitos num computador, e não
uma nova ferramenta para um investigador utilizar, uma serra inovadora para um carpinteiro...

Imaginemos alguém que se perde numa floresta e durante alguns dias, perante o seu instinto de sobrevivência, alimenta-se de frutos que vai encontrando, apenas consome e espera pelos meios de socorro. Se recolher o máximo de frutos possíveis para ter tempo para construir uma arma de caça ou uma canoa (bens de capital, ou seja investimento), as suas hipóteses de sobrevivência aumentam significativamente. 

Países com elevadas taxas de poupanças são mais propensos a investimentos baseados em I&D. Países com baixas taxas de poupança têm que pedir emprestado para realizar os seus investimentos dependentes do exterior. A taxa de juro, caso não fosse definida pelos bancos centrais, seria encontrada no mercado entre quem adia o consumo e poupa e aqueles que consomem. Quando os bancos centrais descem as taxas de juro, mais dinheiro tende a afluir aos mercados financeiros, repercutindo-se mais tarde em bolhas. Caso chegue à economia real, são maioritariamente canalizados para investimentos com retornos bastante rápidos, como o imobiliário, criando desta maneira também bolhas…

Na ótica da despesa, o cálculo do PIB tem várias varáveis: Consumo, Investimento, Gastos Públicos e Exportações, subtraindo as importações (Y=C+I+G+X-M). Os Gastos Públicos afastam muitas vezes o setor privado da atividade económica, através do aumento dos impostos ou via mercado monetário com a subida das taxas de juro, o denominado efeito "crowding-out". A gestão pública é tendencialmente mais displicente que a gestão de uma empresa privada, porque quando se trata do nosso dinheiro todos os cuidados são poucos. As exportações são fundamentais, mas o investimento acaba por ser a pedra basilar de qualquer economia. Sem capital, a humanidade ainda estaria, muito provavelmente, na pré-história. Como referiu o economista francês, Jean-Baptiste Say, "a oferta cria a sua própria procura".

Na teoria keynesiana, um aumento do consumo público é fundamental para estimular uma economia debilitada. Porém, numa economia pequena e bastante aberta como a portuguesa é provável que um aumento dos gastos públicos, para estimular o consumo privado, redunde no aumento da procura de bens importados. Quando muito, numa economia que é "price maker" como a chinesa ou a norte-americana, a esterilidade desta política pode ser menor.

Paulo Rosa In Vida Económica, 9 de outubro de 2015





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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.