A curva de rendimentos das obrigações é um dos principais sinais para
avaliarmos as perspetivas dos agentes económicos – empresas e Estado –
sobre a da economia, sobretudo em termos de consumo, poupança e
investimento. Uma curva positiva das taxas de juro de longo prazo, com
as taxas de prazos mais curtos (a 2 e 3 anos) inferiores às taxas de
prazos mais longos (a 10 e 30 anos), indicia expansão económica porque
existe uma expetativa de maior inflação ao longo da curva. As taxas de
juro de longo prazo podem ser expressadas como taxas de juro de curto
prazo, encontradas no mercado monetário através das LIBOR, acrescidas
das expetativas para a inflação (taxa de juro longo prazo = Taxa de
curto prazo + inflação esperada). Se a inflação esperada for aumentando
ao longo do tempo (da curva) significa que há maior pressão sobre os
preços devido à maior atividade económica e, logo, mais consumo.
Em meados de 2006 a curva de rendimentos das obrigações do tesouro norte-americano ("treasuries") era negativa – a inflação nos prazos mais longos era inferior à dos prazos mais curtos, indiciando uma recessão económica. Era preciso apenas um rastilho para fazer eclodir a contração económica. O "subprime" foi o pavio que se encarregou de dar origem à crise. Atualmente a curva de rendimentos das "treasuries" é positiva, com as taxas de prazos mais curtos na casa dos 1.6%, 1.8% e 2.1% a 2, 3 e 4 anos respetivamente e os prazos mais longos a 3%, 3.4% e 3.9% a 10, 15 e 30 anos respetivamente, indiciando a continuação de expansão económica.
Porém, quando o banco central mantém artificialmente as taxas de curto prazo baixas, é muito difícil, se não quase impossível, ter uma curva de rendimentos invertida. Vários cenários podem vir a ser "cisnes negros" fatídicos e pode ser tudo o que é preciso para desencadear um pânico de venda nas bolsas e posterior recessão económica.
A economia dos EUA não está a crescer como esperado desde as eleições. Donald Trump e os Republicanos não conseguiram passar nenhuma das medidas de estímulo fiscal. Apesar de algum alívio regulatório para os bancos e empresas de energia, as prometidas reformas da saúde, cortes de impostos e despesas em infraestruturas estão cada vez mais longe da realidade. Os gastos do consumidor são fracos, as pessoas podem estar menos confiantes do que sugerem os estudos sobre o sentimento do mercado e a inflação é baixa. A Reserva Federal dos EUA está religiosamente dedicada à curva de Phillips. O risco de cisne negro pode ser a decisão em contrair demais a política monetária para colmatar a falta de estímulo fiscal e a política orçamental expansionista que parece que não vai acontecer. A política do BCE foi muito mais agressiva, com taxas de juros negativas e incluiu a compra de dívida de empresas.
A economia da Europa está a recuperar, à medida que os vários movimentos populistas e crises bancárias desvaneceram (temporariamente?) mas não podemos esquecer a pirâmide demográfica invertida da Europa e do Japão. As taxas de juro de quase zero na Europa e no Japão vão-se manter por um longo período. O início da política monetária contracionista dos EUA (o "tapering") e o aumento de taxas de juro coincidiu com uma mais enérgica política monetária expansionista por parte do BCE e o BOJ. Há uma elevada dessincronização da liquidez mundial e normalizá-la vai ter custos. Por fim, o crescimento económico da China abrandou para um ritmo de 6.9%, e está alicerçado basicamente em crédito, uma bomba relógio prestes a explodir a qualquer momento. Curiosamente os chineses tornaram público, em meados de julho, através de um relatório do Banco Central da China, que há empréstimos fora do balanço muito mais elevados do que se pensava...
Paulo Rosa, Semanário "Vida Económica", 4 de agosto 2017
Em meados de 2006 a curva de rendimentos das obrigações do tesouro norte-americano ("treasuries") era negativa – a inflação nos prazos mais longos era inferior à dos prazos mais curtos, indiciando uma recessão económica. Era preciso apenas um rastilho para fazer eclodir a contração económica. O "subprime" foi o pavio que se encarregou de dar origem à crise. Atualmente a curva de rendimentos das "treasuries" é positiva, com as taxas de prazos mais curtos na casa dos 1.6%, 1.8% e 2.1% a 2, 3 e 4 anos respetivamente e os prazos mais longos a 3%, 3.4% e 3.9% a 10, 15 e 30 anos respetivamente, indiciando a continuação de expansão económica.
Porém, quando o banco central mantém artificialmente as taxas de curto prazo baixas, é muito difícil, se não quase impossível, ter uma curva de rendimentos invertida. Vários cenários podem vir a ser "cisnes negros" fatídicos e pode ser tudo o que é preciso para desencadear um pânico de venda nas bolsas e posterior recessão económica.
A economia dos EUA não está a crescer como esperado desde as eleições. Donald Trump e os Republicanos não conseguiram passar nenhuma das medidas de estímulo fiscal. Apesar de algum alívio regulatório para os bancos e empresas de energia, as prometidas reformas da saúde, cortes de impostos e despesas em infraestruturas estão cada vez mais longe da realidade. Os gastos do consumidor são fracos, as pessoas podem estar menos confiantes do que sugerem os estudos sobre o sentimento do mercado e a inflação é baixa. A Reserva Federal dos EUA está religiosamente dedicada à curva de Phillips. O risco de cisne negro pode ser a decisão em contrair demais a política monetária para colmatar a falta de estímulo fiscal e a política orçamental expansionista que parece que não vai acontecer. A política do BCE foi muito mais agressiva, com taxas de juros negativas e incluiu a compra de dívida de empresas.
A economia da Europa está a recuperar, à medida que os vários movimentos populistas e crises bancárias desvaneceram (temporariamente?) mas não podemos esquecer a pirâmide demográfica invertida da Europa e do Japão. As taxas de juro de quase zero na Europa e no Japão vão-se manter por um longo período. O início da política monetária contracionista dos EUA (o "tapering") e o aumento de taxas de juro coincidiu com uma mais enérgica política monetária expansionista por parte do BCE e o BOJ. Há uma elevada dessincronização da liquidez mundial e normalizá-la vai ter custos. Por fim, o crescimento económico da China abrandou para um ritmo de 6.9%, e está alicerçado basicamente em crédito, uma bomba relógio prestes a explodir a qualquer momento. Curiosamente os chineses tornaram público, em meados de julho, através de um relatório do Banco Central da China, que há empréstimos fora do balanço muito mais elevados do que se pensava...
Paulo Rosa, Semanário "Vida Económica", 4 de agosto 2017
Boa noite caro Paulo.
ResponderEliminarAntes de mais cumprimento-o pois nutro por si uma grande estima e admiração. Já tive o prazer de o conhecer, e desde então que acompanho com especial interesse as suas intervenções aqui no blog.
Não sou economista, mas gostaria de lhe colocar uma questão. Há já 2 anos que olho para a curva de taxas de juro e penso para comigo como seria se ela invertesse a estes níveis baixos? Neste artigo, o senhor diz que é quase impossível, mas não é isso que se tem verificado ultimamente, com os juros de curto prazo a subirem paulatina mas consistentemente mais que os juros a longo prazo. Falo da curva de juros das Treasuries. Poderia explicar melhor a razão porque diz ser "quase impossível"?
Cumprimentos.