Atualmente, a Rússia detém cerca de 2200 toneladas de ouro, um impressionante
aumento superior a 250% em menos de dez anos, das 600 toneladas que tinha em
2009. Aquele pais é agora a sexta maior potência de ouro do mundo depois dos EUA,
Alemanha, FMI, Itália e França. Porém, o ouro por si detido é apenas 25% do
ouro possuído pelos EUA. No entanto, como a economia russa representa 10% da
economia norte-americana, o rácio entre o ouro por si detido face e ao seu PIB
é quase três vezes superior ao dos EUA.
A Rússia é um dos maiores produtores de energia do mundo, que é exportada em grande parte em dólares. A compra de ouro, segundo este país, poderá trazer estabilidade quanto a uma potencial inflação do dólar. Também é uma forma de evitar eventuais sanções dos EUA. O ouro não é digital e não se move através de sistemas de pagamentos eletrónicos, então é muito difícil para os EUA impedirem a sua transação, mesmo que equacionasse uma massiva alienação deste ativo.
No entanto, segundo alguns analistas, existe uma razão mais profunda para a acumulação de ouro por parte da Rússia, que terá um plano de longo prazo para diminuir a influência do dólar como principal moeda de reserva global. Obviamente, o rublo russo não está posicionado para ser uma moeda de reserva, mas uma nova criptomoeda apoiada pelo ouro seria um bom candidato. Um regresso ao padrão-ouro estará a ser equacionado pelo Banco Central da Rússia, e não é o único país com esse objetivo. A China faz parte também dessa lista.
O ouro é uma forma de dinheiro, e tem propriedades únicas como o dinheiro. Mas a baixa volatilidade do ouro, nomeadamente nos últimos anos, e em relação ao dólar (e este continua aqui como principal referência), pode não compensar o potencial risco que o ouro representa no que concerne aos ciclos económicos. Imaginemos que é descoberta uma mina incomensurável de ouro ou uma forma de aceder ao centro da Terra, que é em parte constituído por ouro, estaríamos então perante uma inflação enorme de ouro oferecido.
A Rússia, a China, o Irão e outras nações poderão estar concertadas para usar uma criptomoeda com apoio de ouro para comércio internacional para afastar a hegemonia do dólar americano como moeda de reserva global dominante.
Mas a cotação do ouro não teve movimentos significativos com estas notícias. Os preços do ouro são muito mais propensos a serem afetados pela força ou fraqueza do dólar, taxas de juros reais, perspetivas quanto à inflação da economia norte-americana e tensões geopolíticas.
Mas o anúncio é altamente significativo de outra maneira. Isso sinaliza que a procura por ouro físico pelos principais bancos centrais está aqui para ficar. Se uma nova criptomoeda com apoio de ouro emerge, no próximo ano ou daqui a cinco anos, tal facto não altera a necessidade de o deter para ter uma moeda suportada pelo ouro.
Nem a Rússia nem a China têm todo o ouro necessário para esse fim, pelo que a procura por ouro físico tenderá a permanecer forte. O ouro cota atualmente nos 1350/60 dólares dos EUA /onça troy (31,1034768 gramas). Nos últimos dez anos, a Rússia tem comprado, em média, cerca de 15 toneladas de ouro mensalmente. As compras de ouro pela China são menos transparentes, mas detém também mais de 2000 toneladas, e alguns analistas pensam mesmo que terá talvez muito mais.
Para alcançar uma paridade estratégica de ouro com os EUA, a China e a Rússia, deveriam ter uma quantidade maior de ouro. O que todas essas estratégias de compra de ouro têm em comum é o desejo de escapar à hegemonia do dólar e à imposição de sanções pelos EUA. A implicação prática para os investidores de ouro é um provável suporte para as cotações do ouro desde que a Rússia e a China comprem sempre que se verifique uma correção em baixa.
O principal fator que talvez mantenha os preços do ouro nos atuais níveis, e não mais acima, é o dólar forte. A moeda norte-americana foi suportada por uma política da FED de aumento das taxas de juros e redução da oferta de moeda, o chamado "aperto quantitativo" ou QT ("quantitative tightening"). No entanto, a FED reverteu o curso de aumento das taxas em dezembro passado e anunciou que encerrará o QT em setembro, e baixará mesmo as taxas em 25 pontos base a 31 de Julho e mais 25 pb a 18 de setembro, segundo os futuros sobre a probabilidade de mexidas de taxas negociados na bolsa derivados de Chicago. Estas medidas podem tornar o ouro mais atrativo para os investidores em dólares.
Paulo Monteiro Rosa, In "Vida Económica", 21 de junho de 2019
A Rússia é um dos maiores produtores de energia do mundo, que é exportada em grande parte em dólares. A compra de ouro, segundo este país, poderá trazer estabilidade quanto a uma potencial inflação do dólar. Também é uma forma de evitar eventuais sanções dos EUA. O ouro não é digital e não se move através de sistemas de pagamentos eletrónicos, então é muito difícil para os EUA impedirem a sua transação, mesmo que equacionasse uma massiva alienação deste ativo.
No entanto, segundo alguns analistas, existe uma razão mais profunda para a acumulação de ouro por parte da Rússia, que terá um plano de longo prazo para diminuir a influência do dólar como principal moeda de reserva global. Obviamente, o rublo russo não está posicionado para ser uma moeda de reserva, mas uma nova criptomoeda apoiada pelo ouro seria um bom candidato. Um regresso ao padrão-ouro estará a ser equacionado pelo Banco Central da Rússia, e não é o único país com esse objetivo. A China faz parte também dessa lista.
O ouro é uma forma de dinheiro, e tem propriedades únicas como o dinheiro. Mas a baixa volatilidade do ouro, nomeadamente nos últimos anos, e em relação ao dólar (e este continua aqui como principal referência), pode não compensar o potencial risco que o ouro representa no que concerne aos ciclos económicos. Imaginemos que é descoberta uma mina incomensurável de ouro ou uma forma de aceder ao centro da Terra, que é em parte constituído por ouro, estaríamos então perante uma inflação enorme de ouro oferecido.
A Rússia, a China, o Irão e outras nações poderão estar concertadas para usar uma criptomoeda com apoio de ouro para comércio internacional para afastar a hegemonia do dólar americano como moeda de reserva global dominante.
Mas a cotação do ouro não teve movimentos significativos com estas notícias. Os preços do ouro são muito mais propensos a serem afetados pela força ou fraqueza do dólar, taxas de juros reais, perspetivas quanto à inflação da economia norte-americana e tensões geopolíticas.
Mas o anúncio é altamente significativo de outra maneira. Isso sinaliza que a procura por ouro físico pelos principais bancos centrais está aqui para ficar. Se uma nova criptomoeda com apoio de ouro emerge, no próximo ano ou daqui a cinco anos, tal facto não altera a necessidade de o deter para ter uma moeda suportada pelo ouro.
Nem a Rússia nem a China têm todo o ouro necessário para esse fim, pelo que a procura por ouro físico tenderá a permanecer forte. O ouro cota atualmente nos 1350/60 dólares dos EUA /onça troy (31,1034768 gramas). Nos últimos dez anos, a Rússia tem comprado, em média, cerca de 15 toneladas de ouro mensalmente. As compras de ouro pela China são menos transparentes, mas detém também mais de 2000 toneladas, e alguns analistas pensam mesmo que terá talvez muito mais.
Para alcançar uma paridade estratégica de ouro com os EUA, a China e a Rússia, deveriam ter uma quantidade maior de ouro. O que todas essas estratégias de compra de ouro têm em comum é o desejo de escapar à hegemonia do dólar e à imposição de sanções pelos EUA. A implicação prática para os investidores de ouro é um provável suporte para as cotações do ouro desde que a Rússia e a China comprem sempre que se verifique uma correção em baixa.
O principal fator que talvez mantenha os preços do ouro nos atuais níveis, e não mais acima, é o dólar forte. A moeda norte-americana foi suportada por uma política da FED de aumento das taxas de juros e redução da oferta de moeda, o chamado "aperto quantitativo" ou QT ("quantitative tightening"). No entanto, a FED reverteu o curso de aumento das taxas em dezembro passado e anunciou que encerrará o QT em setembro, e baixará mesmo as taxas em 25 pontos base a 31 de Julho e mais 25 pb a 18 de setembro, segundo os futuros sobre a probabilidade de mexidas de taxas negociados na bolsa derivados de Chicago. Estas medidas podem tornar o ouro mais atrativo para os investidores em dólares.
Paulo Monteiro Rosa, In "Vida Económica", 21 de junho de 2019
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