O Banco Popular da China (PBoC) iniciou a emissão de moeda digital suportada pela tecnologia blockchain, ainda que de forma restrita e meticulosamente controlada. Nos últimos meses, o Governo chinês distribuiu os montantes avultados de Yuan digital através de lotarias em algumas cidades, como Shenzhen e Chengdu. O “Wall Street Journal” referiu que 750 mil destinatários foram determinados pelo aludido sistema de lotaria e, agora, podem gastar o Yuan digital em lojas físicas ou via 'online através da utilização de uma aplicação própria criada pelo Governo chinês.
Os pagamentos suportados por aplicações são os ser comuns em empresas físicas
chinesas e os comerciantes adaptam-se rapidamente à nova realidade e à oferta
de moeda digital suportada pelo PBoC, sob a orientação do Governo. A Starbucks
e o McDonalds estão entre as empresas que já aceitam o Yuan digital, assim como
o Partido Comunista Chinês.
Pagamentos digitais com a omnipresença e rígida vigilância governamental
permite às autoridades chinesas ter acesso privilegiado a uma infinidade de
dados. O conhecimento sobre como as pessoas gastam o dinheiro crescerá
consideravelmente com a implementação do Yuan digital, embora o PBoC tenha dito
que vai limitar o seguimento e percursos da moeda digital e criar o que chama
de “anonimato controlável”. Com o lançamento da moeda digital, cada Yuan em
circulação existirá como moeda física ou digital. Alguns analistas educação que
o Governo chinês aumente a quantidade de moeda digital no futuro e reduza,
assim, a quantidade de moeda física disponível no mercado.
Todavia, este procedimento gerará incerteza e alguma entropia no mercado para
determinar qual será a melhor moeda para pagar e a melhor para entrar, numa
alusão à lei de Gresham. O Yuan digital está suportado pelo balanço do PBoC,
enquanto a moeda fiduciária ou física é garantida, em grande parte, pelos
balanços dos bancos comerciais e por garantias de depósitos. Mas, em última
instância, o Governo, que força o seu curso legal, tem a obrigação de manter a
sua estabilidade. Há um conflito latente entre um CBDC (Moeda Digital do Banco
Central) do PBoC e a moeda fiduciária chinesa, 'trade-off’ que poderá ser
ultrapassado pela adoção chinesa do Renminbi digital como moeda única,
abandonando uma moeda fiduciária e a possibilidade de controlar crises
financeiras e manipulares o mercado cambial, conceber um padrão de moeda. Mas,
no futuro, seria o potencial Yuan digital uma moeda escassa e representativa de
uma norma padrão? E provável que não haja limitação à quantidade de moeda, ao
contrário do Bitcoin, e o PBoC pode criar a moeda digital quando necessário,
para financiar o Governo ou mitigar crises. Neste caso, e após uma volta de 360
graus, estaríamos na presença novamente de uma moeda fiduciária e
inflacionada ...
A China é apenas o segundo país e a primeira grande economia a lançar
oficialmente uma versão blockchain da sua própria moeda. O 'dolar areia'
digital do Banco Central das Bahamas foi lançado no dia 20 de outubro do ano
passado e é aceite nas lojas da capital Nassau. A Bloomberg identifica mais
quatro países - África do Sul, Índia, Paquistão e Tailândia - com planos concretos
para lançar como suas próprias criptomoedas oficiais em breve. Como CBDC têm a
capacidade de facilitar os pagamento das pessoas que não têm conta bancária,
mas possuem um smartphone e acesso à internet, o que torna interessantes para o
mundo em desenvolvimento. De acordo com a “Bitcoin.com”, cerca de 33% dos
nigerianos utilizam ou possuem criptomoedas, uma solução mais barata para o
envio de dinheiro de e para o estrangeiro. De acordo com um bitcoin. com, o
Banco Central das Filipinas aprovou várias trocas de criptografia para operar
como “empresas de remessas e transferências” no país. O Governo filipino
promove a negociação de títulos do Governo no retalho usando um aplicativo da
blockchain e o Unionbank para distribuição dos títulos do Governo. O Unionbank
também instalou uma ATM Bitcoin em Makati (Metro de Manila).
Paulo Monteiro Rosa, 9 de abril de 2021, Vida Económica